domingo, 9 de dezembro de 2012

Corações Ardentes (15)


Estava decido. Ela iria partir e ele, por muita vontade que tivesse, não iria sequer manifestar-lhe o desejo de que não fosse. Sabia que o amor não era fazer o que ele queria, era mais o ele querer o que ela desejava para si mesma, o estar presente junto dela. E havia tantos modos de o fazer!

Sairam do café de coração a arder. Foram poucos, mal imaginavam que isso iria acontecer mil e uma vez daí em diante, os momentos que estiveram juntos, mas tinham sido intensos e só o nervosismo e o bloqueio que advinha do respeito que ali sentiram um pelo outro os impediram de manifestar tudo aquilo que de dentro queria sair em catadupa.

Estranho, mas depois de perceberem que se desejavam um ao outro o silêncio pairou e pousou sobre aquela mesa de café, onde duas chávenas sujas, marcadas pelos lábios de um e de outro, permaneciam frias e serenas. Só os olhos e os sorrisos falavam, cúmplices de mensagem que se não podiam ouvir.

Faltavam poucos dias. Teria que organizar muita coisa em pouco tempo. Uma carta havia marcado a mudança de rumo da sua vida. Ía partir para longe, e agora parecia doer, ainda, um pouquinho mais.
Quando parecia que os amigos e a família iam ficar para trás, encontrou mais alguém a quem, como por magia, se agarrou como uma lapa de águas salgadas. Pararam. Olharam. Calaram e sentiram energia e força que se cruzava como vertigem que atrai para o abismo.
Ela percebeu sofrimento no olhar dele. Com uma mão acariciou-lhe o rosto enquanto dizia: “eu vou mas levo-te comigo, acredita, e vou voltar sem te esquecer porque quero que estejas onde eu estou como quero estar onde  tu estás. Não fiques triste porque não me vais perder. 
Hoje ganhámo-nos um ao outro e, certamente, o tempo e a distância não vão causar separação” Ele sorriu e ela brincou: “estou a falar bem, nem sei onde fui tirar estas palavras.”

Abraçaram-se por momentos e ele percebeu o quanto ela o amava, ainda que a palavra amor não tenha saído de seus lábios. Um e outro, sem saberem, sentiam ser quase sagrada essa palavra, por isso a não pronunciaram para que acontecesse em momento ainda mais especial.
Seguiram, cada qual para sua casa, a rebentar de felicidade. Voltaram-se, num derradeiro cruzar de olhares e sorrisos.
Pneus de um camião chiaram na estrada. Aterrado pelo medo o corpo tornou-se frio. Voltou-se num gesto brusco e louco de pavor. Não a viu. 

As pernas tremeram. No peito, o coração quis rebentar. Sentiu-se desfalecer…