Não há coração ou cabeça que resistam. Vivemos em
ambiente minimamente cristão, celebrando nestes dias “Todos os Santos” e os
“Fiéis Defuntos”, festas profundamente cristãs, que nos apontam para a
realidade de Deus, do bem, da luz, da vida. A elas antecipou-se uma outra de
cariz completamente oposto e antagónico: o “Alloween” que evoca o mal, as
trevas, a morte… Aparentemente não se trata de mais que uma festa mas, indo um
pouquinho mais além percebe-se que, realmente assim não é.
Deixemos isso para nos centrarmos no que quero
partilhar convosco e que, me preocupa, embora não angustie. Digo que não há
coração que resista por estarmos a viver num mundo em radical mudança,
encontrando-nos no meio de opostos que nos atraem e repelem: o homem e a
máquina; o material e o espiritual; o bem e o mal…
Somos famílias pequeníssimas mas vivemos em casas
enormes; recebemos informação em cima do acontecimento, mas não nos conhecemos
uns aos outros; temos centenas de “amigos” espalhados pelo mundo, que “fizemos”
nas redes sociais, mas não saímos de casa para falar ou estar com os vizinhos;
queremos dar o melhor às nossas crianças, mas não lhes ensinamos os valores que
lhes dariam a felicidade; somos grandes humanistas, mas defendemos mais os
animais que as pessoas; gastamos biliões a construir naves espaciais, mas
pagamos muito caro os transportes; gastamos tudo na busca de poder viver no
espaço, mas não resolvemos os problemas da fome, da vida, na terra; temos tudo,
como nunca se teve, mas, no fundo, somos infelizes. A lista continuaria.
Vivemos tão vazios e distantes de nós mesmos porque
recusámos o termos sido criados à imagem e semelhança de Deus. Se não nos
fixamos na razão por que fomos criados, perdemos o sentido de nós mesmos.
Torna-se isso insuportável e torna-nos a nós insuportáveis para os demais
porque os olhamos como concorrentes não como irmãos, como coisas ao nosso
serviço não como pessoas a nós iguais. E o vazio dentro de nós enche-se sempre
mais do nada que lhe damos na de o preencher. Cada vez mais nos sentimos vazios porque nos buscamos fora
de nós mesmos.
Se não sabemos o que realmente somos, não levaremos as
crianças a crescer na descoberta do que são. Geramos nelas a confusão. O que
julgam ser recebem-no de fora, de ideias de gente que não sabe o que é, e não
de dentro de si mesmas, da força interior com que foram criadas. Serão mais
infelizes que nós.
Não há coração ou mente que resistam.