sábado, 31 de outubro de 2020

Ser Santo é Para Todos

 

Está bastante difundida a ideia de que ser santo é algo quase de outro mundo, ou então de que os santos são seres extraordinários, gente fora do comum, como se o chamamento a ser santo não fosse feito a cada um. Ser santo é viver os grandes e os pequenos momentos da vida em comunhão com Deus, ou seja, segundo a sua vontade. Alguns fazem-no de forma extraordinária, indo para além daquilo que é vida comum, na sua capacidade de intimidade  e de entrega de si mesmos a Deus, no sofrimento por exemplo.

Ser santo não é ser reconhecido pela Igreja e estar nos altares. É deixar-se amar por Deus ao ponto de ser por Ele acolhido em eternidade. A Igreja, pelos sinais de vida vivida de forma extraordinária por alguns, declara que estão no Céu. Não é por isso que são santos, é por serem santos que a Igreja os declara como tal. 

A verdade é que só Deus sabe quem são os santos, pensemos nos do Céu e nos do Purgatório. Qualquer um de nós pode apontar umas e outras pessoas que acreditamos estarem em Deus, mas só Deus o sabe. Não ns cabe a nós julgar nem na vida nem na morte e só Deus conhece a plenitude da vida que cada um é. Quantos pensamos bons e são maus e quantos julgamos por maus quando são verdadeiros santos!? Percebemos porque é que não nos cabe a nós julgar, condenar ou absolver ninguém. Todo o juízo humano é falacioso, enganador. Perceba-se também a razão por que não temos o direito de dizer4 mal de alguém, precisamente porque não conhecemos as razões e o interior de cada um. 

Celebrar os santos, sejam já participantes da plenitude do Céu, ou estejam ainda nas moradas purificadoras do Purgatório, é, antes demais., cantar a glória divina, viver em atitude de ação de graças por aqueles que são santos e pela ação de intercessão que fazem por nós. Em relação às almas do purgatório é petição ao Senhor para que as leve a contemplar definitivamente a sua Glória no Céu. Como não sabemos quais são umas e outros, assumamos uma atitude de louvor e gratidão por todos aqueles que já partiram rumo ao Pai.

 

sábado, 10 de outubro de 2020

Banquete de Vida

Chegámos aos incríveis tempos de ver as nossas igrejas cheias com muito pouca gente, e de ter que aumentar o número de celebrações por forma a poder permitir a participação de mais fiéis, passando pela necessidade de alguns sacramentos, os casamentos por exemplo, terem de ser celebrados sem missa.

 

Não é isso motivo para júbilo, bem pelo contrário, é ocasião que conduz à reflexão e a um interior lamento por vivermos o que vivemos, nestes tempos em que nos sentimos completamente à deriva, sem poder programar muito o amanhã porque nem no hoje há a certeza de estarmos bem. O medo corta-nos as pernas no caminhar para o encontro com os outros, corta-nos os braços fechando-os em si e impedindo-os de se darem em abraços que limitem a dor da solidão e o sofrimento de não se poderem sentir os sinais físicos do amor que é presença e contacto de comunhão.

 

De pernas e braços tolhidos, das quase certezas de que o Natal será vivido de forma restrita, da incerteza e medo de que os outros, ainda que seja um pequenino bebé a gatinhar numa creche, sejas inocentes portadores de morte para nós ou para os que nos são próximos, sentimo-nos vestidos de insegurança e não sabemos a que agarrar-nos.

 

Deixámos Deus à margem das nossas vidas precisamente quando nos sentíamos seguros nas certezas de nós mesmos, no infinito poder da ciência e das coisas que, agora, nos fugiram de debaixo dos pés, fazendo-nos tremer como artista que segue em corda bamba equilibrado por uma vara que não se prende a nada que seja seguro. Voltarmo-nos para Deus não será fácil, precisamente porque O atirámos para longe fazendo que se tornasse um desconhecido. Os desconhecidos não nos dão seguranças, não os conhecemos, não sabemos que garantias nos dão, que poder podem ter sobre os males e medos que nos assolam.

 

O mundo falseia o que são as suas certezas. Só Deus, mesmo que o não queiramos crer, pode preencher os espaços de esperança e confiança que se esvaziaram em nós. A Missa é ponto central, onde tudo se entrega, onde tudo se recebe, de onde tudo se leva. O banquete está preparado, não recusemos o divino convite.