segunda-feira, 14 de junho de 2021

Crianças Semente

  Uma semente pequenina, lançada em terra escura, na escuridão da terra sepultada, o silêncio, como de escura noite e a humidade, alma da vida terrena, no segredo do silêncio, fazem vida germinar naquela semente seca, morta na sua  aparência. Em planta verde, fresca, tenra, aparece à luz do dia a vida em que aquela semente se transformou e cresce, cresce em rápido ciclo a dar fruto e novas sementes, sem mais parar, se não for interrompido de morte um dos ciclos de vida que a semente, pequenina, um dia, gerou ao morrer na noite escura da terra fresca.

É oportuno que os sábios, depois de atingirem a sua mais alta sabedoria, conversem com as crianças. São semente viva e são terra iluminada ávida por receber vida e vida semear na irrequietude de seus gestos e na língua desprendida para lançar, no campo do mundo, a verdade que aprendem e que são, e alegrarem com o som dos seus sorrisos e a rapidez das suas correrias, as vidas cinzentas dos adultos que somos.

As crianças são, quanto mais crianças mais o mostram, a concretização bem clara da história da semente pequenina. Aprendem, nem nós percebemos bem o como ou o quanto, aquilo que a nós nos não passa pela cabeça. O seu espírito puro, o seu imperturbado desejo de crescer em todos os sentidos, e a sua incomensurável capacidade para acolher e criar imaginários, fazem delas, por natureza, o campo perfeito para aprender e se deixarem embeber daquilo que se lhes dá, seja bem seja mal.

Crescendo, vão perdendo umas capacidades para ganharem outras e a elas se adaptarem conforme o lastro que lhes está dentro, desde a infância, e que se vai firmando ou amolecendo conforme a qualidade das experiências e das pessoas que as rodeiam, como planta que cresce em ambiente puro ou naquele que é inquinado de poluição mortífera.

Queremos, talvez, que cresçam e depressa deem muito e bom fruto. Dá-lo-ão se, como família que somos, as soubermos alimentar, regar, e viver em ambiente saudável de bons e verdadeiros valores humanos e espirituais. 

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Só Nos Falta Amar

É comum dizer-se que situações que nos marcam negativamente fazem doer o coração. Não que o coração doa realmente, por isso, mas porque ele é tido como centro e fonte dos sentimentos, bons ou maus, bem como da própria vida. Assim, dizer que estas situações provocam dor de coração é dizer que afetam o mais profundo, o mais íntimo de nós mesmos. 

Celebramos, sexta e sábado, dias 11 e 12, respetivamente, o Sagrado  Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria. Corações intimíssimos um do outro, porque além de serem de mãe e de filho, o são numa dimensão divina, um Sagrado e outro Imaculado numa perfeita sintonia de amor.

Porque é, em essência, misericórdia, Deus fez de Maria uma criatura perfeita, tão perfeita quanto Deus pode fazer e a criatura, por força e graça divina,  o pode ser. Foi esta perfeita criatura que deu humanidade, a condição e forma humana, ao Deus que se fez carne, assumindo a nossa natureza sem a marca do pecado, porque era sem pecado a mãe que Lhe deu a humanidade, não Lhe transmitindo, assim, a pecadora condição, pois que a Deus não cabe o ser pecado.

Sem as limitações e imperfeições do pecado, Maria ama Deus e as criaturas com um tão perfeito amor quanto é possível amar. Ora, se nós, pelas condições limitadas e incapacitante que temos, não podemos amar nem acolher o amor de forma perfeita, também estamos limitados na compreensão do amor com que os corações de Jesus e Maria se amam entre si e nos amam a nós. "Perceber" e sentir o amor de Deus, em Jesus, e de Maria pressupões predisposição e capacidade interior e pessoal. Essa capacidade e predisposição acontecem tanto, e tão intensamente, quanto mais acontecer amor em nós, sendo que mais amor mais capacita e predispõe a pessoa para ser amada, receber amor,  e o ser amada capacita-a e predispõe-na mais para amar.

Como em efeito bola de neve, quanto mais se ama mais se é amado e quanto mais se é amado mais se ama... Falta-nos sempre amar mais.