segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Abençoado Natal

 

São muitos os lamentos porque se não pode celebrar a quadra natalícia segundo os trâmites normais. Acontecem lamentos face à impossibilidade do encontro e tomar de refeições em grandes ajuntamentos familiares, como acontecem porque economicamente a coisa não está nada fácil. Verdade seja dita que também acontecem lamentos porque as celebrações religiosas não podem seguir o tom festivo habitual.

 Deixando os lamentos e a dimensão que dizemos negativa, só porque não vai ao encontro do nosso querer, desejo e tradição, pensemos no quanto de bom temos para viver nestes dias. Temos vida, uma família, alguém com quem partilhamos ou gostaríamos de partilhar afetos, sim, se temos alguém com quem gostaríamos de estar… temos alguém, não somos solidão. Pensamos, por acaso, em dar graças a Deus por tanta coisa boa que nos tem sido concedida ao longo deste ano? Pois..., provavelmente, a nossa mente delicia-se em pensamentos e palavras esmagadas sob tanta coisa que foi “má”. O mal dos outros não pode, em situação alguma, trazer-nos alegria (não digamos, por isso, “com o mal dos outros posso eu bem”), mas o facto de sabermos as tremendas condições de tanta gente por esse mundo além tem que dar-nos motivação para sermos agradecidos por estarmos bem. Ótimo será quando, estando menos bem, formos capazes de nos olharmos com esperança e aproveitarmos o momento para buscar Deus e, com Ele, acreditarmos na oportunidade de amar a cruz caminhar para Ele.

 

O Natal é tempo de alegria e esperança certa de que Deus se fez Homem para nos arrancar de um mundo de perdição para, morrendo por nós, nos levar à Eternidade na plena comunhão com Ele. Não pode ser de lamentos este Natal, porque é uma oportunidade purificadora dos extremos a que se chegou nos últimos tempos: é oportunidade de encontro de núcleos familiares, em que se pode dar muito mais atenção a cada pessoa presente, sem o barulho e a algazarra da “multidão” familiar, como é oportunidade para “breve” paragem para uma palavra com Aquele cujo nascimento celebramos.

sábado, 28 de novembro de 2020

Ele Vai Nascer

Iniciamos um novo ano litúrgico. O Advento celebra exatamente o tempo de expetativa, o tempo de espera do Salvador. Vivemos uma situação que leva, os que creem, a uma intensificação do pedido a que o Senhor venha a nós com sua força salvadora; para  muitos daqueles que “nem sim nem não” será ocasião de maior afastamento em relação a Ele. Direi que estamos em tempo de discernimento, de claro sim, ou não, a Deus.


Para quem opta por um sim e uma maior aproximação à salvação que Deus nos oferece, é preciso que não se caia num certo engano de buscar e querer de Deus apenas a “salvação” e libertação daquilo que é a pandemia e outras situações materiais e físicas. Esperar a salvação de Deus é, antes de mais, e essencialmente, querer a salvação da vida na relação com o bem e o mal; é querer que o Senhor nos liberte do mal, que pode conduzir a uma perdição eterna. As doenças, as guerras… passarão, deixarão e apoquentar-nos, mais dia menos dia, após a morte do corpo. Primeiro há que acolher Deus em nossas vidas para que nos liberte dos poderes do mal. Então, depois do encontro pessoal com Ele, peçamos ardentemente, que no livre destes males terrenos, pedindo que, acima de tudo, se faça a sua vontade em nós e que tudo saibamos ver como ocasião de remissão e oportunidade para mais O acolher em nós.


Preparamos o Natal. Já se veem luzes a cintilar por aí, mostrando um Natal que não diz muito. O Senhor quer nascer e crescer em nós, dentro de nossas vidas para preencher os espaços que quisermos oferecer-Lhe. Só fará parte daquilo em que O deixarmos entrar: na nossa esperança, na nossa confiança, nos nossos medos, nos nossos pecados. Sim Deus quer entrar aí para preencher de misericórdia e graça, o que em nós é desencanto, incerteza, angústia, doença, pecado.


Viver o Advento é ir deixando que tudo aquilo que em nós é ausência de Deus vá dando lugar Àquele que é Criador e nos oferece vida constante, Àquele que é Salvador, nos liberta do pecado, e dá vida em abundância, Àquele que é Santificador e nos enche de vida plena. Deus vais nascer se deixarmos que o possa fazer.

 

sábado, 31 de outubro de 2020

Ser Santo é Para Todos

 

Está bastante difundida a ideia de que ser santo é algo quase de outro mundo, ou então de que os santos são seres extraordinários, gente fora do comum, como se o chamamento a ser santo não fosse feito a cada um. Ser santo é viver os grandes e os pequenos momentos da vida em comunhão com Deus, ou seja, segundo a sua vontade. Alguns fazem-no de forma extraordinária, indo para além daquilo que é vida comum, na sua capacidade de intimidade  e de entrega de si mesmos a Deus, no sofrimento por exemplo.

Ser santo não é ser reconhecido pela Igreja e estar nos altares. É deixar-se amar por Deus ao ponto de ser por Ele acolhido em eternidade. A Igreja, pelos sinais de vida vivida de forma extraordinária por alguns, declara que estão no Céu. Não é por isso que são santos, é por serem santos que a Igreja os declara como tal. 

A verdade é que só Deus sabe quem são os santos, pensemos nos do Céu e nos do Purgatório. Qualquer um de nós pode apontar umas e outras pessoas que acreditamos estarem em Deus, mas só Deus o sabe. Não ns cabe a nós julgar nem na vida nem na morte e só Deus conhece a plenitude da vida que cada um é. Quantos pensamos bons e são maus e quantos julgamos por maus quando são verdadeiros santos!? Percebemos porque é que não nos cabe a nós julgar, condenar ou absolver ninguém. Todo o juízo humano é falacioso, enganador. Perceba-se também a razão por que não temos o direito de dizer4 mal de alguém, precisamente porque não conhecemos as razões e o interior de cada um. 

Celebrar os santos, sejam já participantes da plenitude do Céu, ou estejam ainda nas moradas purificadoras do Purgatório, é, antes demais., cantar a glória divina, viver em atitude de ação de graças por aqueles que são santos e pela ação de intercessão que fazem por nós. Em relação às almas do purgatório é petição ao Senhor para que as leve a contemplar definitivamente a sua Glória no Céu. Como não sabemos quais são umas e outros, assumamos uma atitude de louvor e gratidão por todos aqueles que já partiram rumo ao Pai.

 

sábado, 10 de outubro de 2020

Banquete de Vida

Chegámos aos incríveis tempos de ver as nossas igrejas cheias com muito pouca gente, e de ter que aumentar o número de celebrações por forma a poder permitir a participação de mais fiéis, passando pela necessidade de alguns sacramentos, os casamentos por exemplo, terem de ser celebrados sem missa.

 

Não é isso motivo para júbilo, bem pelo contrário, é ocasião que conduz à reflexão e a um interior lamento por vivermos o que vivemos, nestes tempos em que nos sentimos completamente à deriva, sem poder programar muito o amanhã porque nem no hoje há a certeza de estarmos bem. O medo corta-nos as pernas no caminhar para o encontro com os outros, corta-nos os braços fechando-os em si e impedindo-os de se darem em abraços que limitem a dor da solidão e o sofrimento de não se poderem sentir os sinais físicos do amor que é presença e contacto de comunhão.

 

De pernas e braços tolhidos, das quase certezas de que o Natal será vivido de forma restrita, da incerteza e medo de que os outros, ainda que seja um pequenino bebé a gatinhar numa creche, sejas inocentes portadores de morte para nós ou para os que nos são próximos, sentimo-nos vestidos de insegurança e não sabemos a que agarrar-nos.

 

Deixámos Deus à margem das nossas vidas precisamente quando nos sentíamos seguros nas certezas de nós mesmos, no infinito poder da ciência e das coisas que, agora, nos fugiram de debaixo dos pés, fazendo-nos tremer como artista que segue em corda bamba equilibrado por uma vara que não se prende a nada que seja seguro. Voltarmo-nos para Deus não será fácil, precisamente porque O atirámos para longe fazendo que se tornasse um desconhecido. Os desconhecidos não nos dão seguranças, não os conhecemos, não sabemos que garantias nos dão, que poder podem ter sobre os males e medos que nos assolam.

 

O mundo falseia o que são as suas certezas. Só Deus, mesmo que o não queiramos crer, pode preencher os espaços de esperança e confiança que se esvaziaram em nós. A Missa é ponto central, onde tudo se entrega, onde tudo se recebe, de onde tudo se leva. O banquete está preparado, não recusemos o divino convite.


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Espiritualidade Sem Deus

O estado de pandemia em que vivemos  é revelador de muito daquilo que somos,  em todos os aspetos, também na dimensão religiosa. Não vamos entrar em lamentação ou julgamento, mas apenas buscar uma reflexão que, tanto quanto possível, nos leve a pensar na condição de cristãos que somos e que nos advém do facto de sermos batizados. 


Um vírus está a tomar conta da sociedade que  somos, ou que éramos, e a controlar aquilo que queríamos ser. Percebemos como a vida está em causa e como o mundo está a limitar uma das realidades mais básicas das sociedades democráticas, a liberdade, para conter o avanço deste vírus em nossas vidas.


Somos cristãos, digo somos porque vivemos num ambiente quase totalmente composto de batizados. Sabemos como as gerações mais novas de vêm embrenhando sempre mais nas realidades do mundo e afastando da espiritualidade cristã, que é de facto um afastamento em relação a Deus, substituindo-o por “entidades” espirituais que leva a pessoa a centrar-se sobre si como centro e razão de ser do mundo. As gerações de mais idade viveram muito um cristianismo centrado na tradição, não tanto numa relação pessoal com Deus, o que levou a uma educação desenraizada de um Deus em relação pessoal com cada um. Isto leva a que continuemos a viver de uma fé assente em tradição, mas sem ser concretizada na vida.


Não fazendo parte da essência do viver da pessoa, com toda a facilidade, e perante a primeira oportunidade favorável, Deus é posto à margem da vida, porque não é importante nela. Guarda-se apenas como mais um “ser” a quem se recorre nos momentos de aflição, particularmente nos que são pessoais, não tanto naquilo que se referem aos outros, precisamente porque nos centramos em nós mesmos e não vemos Deus como pai e os outros como irmãos


Falo das aflições pessoais porque, se repararmos bem e lá no fundo, o que leva a recorrer a Deus é o medo pessoal de entrarmos em fragilidade ou da fragilidade de outros, do medo de perder, aqueles que por qualquer razão acabam por nos fazer falta. Nós sempre no centro.

Temos uma real necessidade de um encontro pessoal com Deus. Enquanto o vírus for impedimento para isso, não nos teremos posto em marcha e deixamos que fique ainda mais distante.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Vai-te daqui, Satanás

 


Satanás não é propriamente o mais simpático de se chamar a alguém, mas foi o que Jesus chamou a Pedro, quando reagiu como reagiu ao ouvir Jesus dizer que havia de morrer às mãos dos “grandes” de Jerusalém.

Satanás tão somente aquele que se opõe e comanda toda a oposição a Deus. Toda a sua vontade e todo o seu agir vão no sentido de impedir que se realize o projeto salvador de Deus. Porque contra Deus não pode nada, atua junto das criaturas livres, o ser humano, para nos levar a negar, a impedir e a recusar a salvação operada e oferecida por Deus. Deus salva, o diabo quer que não chegue a nós essa salvação. 

Embora não se dando conta, S. Pedro estava a deixar-se guiar por vontade diabólica procurando levar Jesus a não se entregar à morte, precisamente porque seria nessa entrega que aconteceria a salvação, como de facto sucedeu. S. pedro está a reagir com a melhor das intenções querendo evitar a morte de Jesus - “Deus Te livre de tal, Senhor, isso não há de acontecer” - Se tal não acontecesse, não aconteceria a Salvação, os planos de Deus seriam frustrados. Esse era, continua a ser, o plano de satanás. Porque estava a agir por meros intuitos humanos, recusando que a ação de Deus se operasse, estava a ser intermediário do mal, e Jesus identifica-o com o próprio mal.

É assim mesmo que ele atua: discretamente; fazendo passar por bom aquilo que é mau; atraindo para a ilusão de vida aquilo que a ela não conduz; criando indiferença em relação a Deus; destruindo as bases das relações de amor, como é o caso da família; sexualizando as relações entre pessoas; levando a transpor os valores da vida humana para os animais, desvalorizando-os nas pessoas; destruindo a vida pelo aborto e a eutanásia, fazendo passar por valores aquilo que é exatamente o seu contrário… Tenha-se em conta que, como norma, ele não atua diretamente, mas através das pessoas, e sempre que se faz a sua vontade ele ganha terreno e quem perde somos nós. Ele nada perde porque só há sentimento de algo que é bom, e ele é condenado e nada há nele que não seja mal.

Foi das suas mãos, do seu poder, do seu domínio, que Jesus nos libertou ao morrer na cruz. É dele que Deus quer libertar-nos. Está em nós a escolha.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Por Maria até Deus

 


Agosto é mês dedicado a Maria, na veneração do seu Coração Imaculado, na celebração da Solenidade da Assunção a 15, e na celebração da sua realeza 22. Há em muitos cristãos um sentido temor de que o culto prestado a Maria leve ao esquecimento de Jesus. Pode isso acontecer se o culto de veneração a Maria não for reto e verdadeiro. Nesse caso sim, se se orienta a oração a Maria, por Ela mesma e se a oração se fixa Nela e não conduz a Jesus. Nesse caso tanto vale rezar como não.


No ato salvífico operado por Deus, Ele quis, por vontade e graça sua, incarnar, assumido a nossa natureza, numa união tão íntima, intensa e profunda das duas naturezas, divina e humana, que o Filho se fez homem e o homem se fez Filho. Fomos salvos por Deus, que se fez homem no seio puríssimo de Maria que, assim, se tornou Mãe de Deus.


Nossa Senhora tornou-se, pois, a porta pela qual Deus assumiu a nossa humanidade. Maria só pode ser a porta pela qual a o ser humano entra em comunhão com a divindade. Se Deus quis tê-La como meio para chegar a nós, como não iria querer tê-La como meio para chegar a Ele. Por isso, Jesus nos concedeu a graça de a tornar nossa Mãe. A Palavra de Deus é eficaz. Quando Jesus diz, do alto da cruz, “eis a tua Mãe, Ela tornou-se efetivamente Mãe da humanidade, não apenas um símbolo. Deus quis que desse vida ao seu Filho, como não havia de quer que nos desse vida a nós.


É Ela que nos salva? Não. É Jesus, mas é por Ela que nós chegamos a Jesus, como fiou por Ela que Jesus chegou a nós. Assim, entendamos que Nossa Senhora nunca nos atrai para Si, mas sempre nos aponta o seu Filho. Ora, assim sendo, todo o culto que prestamos a Nossa Senhora conduz-nos sempre, só pode ser assim, a Jesus. Não tenho dúvida de que a minha oração, a minha vida, entregue nas mãos de Jesus por Maria tem, por parte Dele, um acolhimento, uma aceitação, infinitamente maior do que se for entregue diretamente por mim. Eu não sou nada diante de Deus, completamente  indigno e de lábios impuros. Ela é Mãe, pura, santa. Se a minha oração passa por Ela, chega a Jesus, já moldada, transformada, com sentido.

 

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Sem Medo, Com Confiança


Sem sabermos como será o nosso amanhã, porque ontem também não sabíamos como seria o hoje, com muito mais sentido temos dúvidas do como será daqui a uns meses. Isso impede-nos de programar, seja o que for, lá mais para diante. Assim é em relação à nossa vida pessoal, como o é em relação às comunidades que somos, a família,  a paróquia, a associação… Estamos como que reféns de um vírus, dos estragos que já causou, e das maquinações no sentido de o controlar a eles ou, talvez mais que isso, de controlar a humanidade.

O caos vai-se estabelecendo. Ainda que continuemos a ser injetados com mensagens de que tudo vai acabar bem, de que a “normalidade” entretanto voltará, a prática do que vemos vai-nos deixando uma mensagem diferente, a de que não está bem e que não voltaremos a ser como éramos. Vemos a consciente, ou não, incapacidade dos governantes do mundo, como dos nossos, em apaziguar os medos humanos. Caminhamos indiferentes à capacidade destruidora do  caminho que nos levam a percorrer: parece que não há guerras, milhões de crianças a morrer de fome, aborto, eutanásia, prostituição, e outras explorações, infantil, destruição da vida, pela destruição da família, igualdade de género, pais a serem julgados por não quererem para seus filhos a educação destruidora imposta pelos governantes do mundo (a ONU).

Corremos atrás das propostas e decisões dos senhores do mundo, que aceitamos, defendemos, anunciamos, esquecendo o “Tende cuidado com o fermento dos fariseus…” (Mat 16,6). Temos uma pequena perceção de que nos não dão segurança, mas… que havemos de fazer?!

Não nos apresentou palavras fáceis, concordantes com o que as multidões queriam ouvir. Apresentou-nos a cruz como caminho, o dar a vida e o morrer como certezas de eternidade. Disse-se manso e humilde de coração, mas nós gostamos de grandezas, de luzes, de aparato de ilusão. O tempo é de conversão...


sábado, 27 de junho de 2020

Quem Ama Chora de Alegria ou de Tristeza


Falar de amor é falar de entrega de si mesmo ao outro, da capacidade de viver em função do outro, daquele que ama. Compreende-se que o amor não se faz, como tantas vezes, confundindo amor com relações genitais, se diz e ouve dizer. Não se faz porque acontece no coração e no sentimento de quem o vive, e só quem o experimenta pode falar dele com verdade. O Amor não se faz, vive-se e dá-se, porque é pessoal e entrega de si mesmo.

Quem ama deveras sabe que ao dar-se completamente à pessoa amada, não perde a capacidade de amar os outros, antes a aumenta. Só o amor total leva à realização pessoal. Um amor dividido, disperso, deixará sempre insatisfação e dispersão. É assim que se compreende que o amor de um casal, como o de um padre, só pode ser total: esposos que se amam realmente não traem, não podem trair, porque todo o seu amor se orienta apenas num sentido: o marido, a esposa. Assim também, o padre, consagrando-se a Deus, não pode, se O ama de verdade, dedicar o seu amor, dispersando-o, a outras pessoas ou coisas. Compreende-se, pois, o casamento monogâmico (casar só com uma pessoa), como se compreende o celibato (o não sacar) dos padres, como entrega de si a Cristo.

Ao dedicar um total amor a Jesus Cristo, o cristão adquire uma ilimitada capacidade de amar e de se entregar aos outros, precisamente porque põe Deus em primeiro lugar. Entenda-se que o amor a Deus é o fim último da nossa capacidade de amar. Amando-o exclusivamente, se disso tivéssemos capacidade, levar-nos-ia a um profundíssimo amor às pessoas e a toda a obra criada, não em função delas próprias mas de Deus. Talvez entendamos melhor se dissermos que nosso o amor total a Deus é um amor que atravessa tudo e todos até repousar Nele. Ora, a intensidade com que se ama Deus será refletida na intensidade com que esse mesmo amor toca tudo o que Deus criou, precisamente porque Ele o criou.



terça-feira, 23 de junho de 2020

Uma Vida, um Vazio


Vivemos uma situação completamente fora daquilo a que estávamos habituados. Não sabemos até onde isto vai chegar, como será o dia de amanhã.

Vivemos a medo: uns sem medo e sem respeito, outros temerosos demais ao ponto de, penso eu, não arriscarem viver. A vida, que é vida, é um  risco. Cada  passo que damos é o  correr do risco de dar um passo em frente. Fecharmo-nos em casa, cobertos por uma manta de medo, é deixarmo-nos abafar e adoecer no mofo da falta de arejamento interior.

Sim, com cuidado e respeito por nós e pelos outros… mas é preciso abrirmos portas e coração para aquilo que nos diz alguma coisa.

Olhando as nossas celebrações, percebemos a redução para cerca de metade do que era habitual. Não é de estranhar e é para entranhar a realidade que isso manifesta. Acredito que o ficar em casa seja, em parte, medo e precaução. Compreenderia isso se acontecesse por aqueles que são “gente de risco”, mas a verdade é que são exatamente esses, os de mais idade que regressaram.

Não creio que, na grande maioria das situações, a razão de fundo para o deixar de participar passe pela precaução e o medo. Deixaram de participar os de meia idade, que ainda vinham a toque da participação dos filhos, mas esses deixaram de estar também. Não é preciso descavar muito para ir à raiz do problema e perceber qual o vírus que a ataca: a indiferença. Sim, a indiferença em relação a Deus, não digo às questões religiosas, que deixámos de ver e sentir como Pai, perdendo mo que é fundamental: a relação pessoal de nós com Ele.

Estamos perante a mais ténue das provações e já estamos a ceder em grande escala, retirando a Deus o pouco espaço que ainda Lhe dedicávamos. Como fino pó, entranha-se em nossas vidas a força que é ausência de Deus. A sujeira está aí mas ainda não a vemos porque lhe passamos um para de pó por cima, que deixa mais lixo ainda. Embora não parecendo, é muito cinzenta a vida sem Deus.



sábado, 6 de junho de 2020

Profundíssimo Mistério


Sem a solenidade diocesana que habitualmente lhe damos, celebraremos na próxima quinta Feira a “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus”. Esta é a mais solene expressão de fé na misteriosa e insondável presença de Jesus entre nós. Fechar o olhar exterior e sentir, contemplando, a realidade presente naquele pedaço de pão consagrado facilmente leva à emoção porque Deus está ali presente, tão presente, real e verdadeiro como está no Céu, e de quem transbordam a glória e o esplendor.

Não veremos a sua Glória, pois disso somos incapacitados, porque o nada que somos é impeditivo de ver o tudo que Ele é. Não veremos a Glória, mas, porque O vimos atuar e salvar-nos em seu nascimento, vida, morte e ressurreição, perceberemos um pedaço do oceano de misericórdia que jorra de seu Divino Coração, trespassado para que todo se derramasse, até à última gota, e nele nada restasse, além de uma porta aberta (pela lança do soldado) e a  ilimitada e infinita vontade de querer nele acolher-nos. 

Vamo-nos distraindo nas radicais posições acerca de comungar na mão ou na boca, e nas inúteis discussões sobre qual dos membros é mais digno para O receber. No meio de tudo isto, é deixada de lado a necessidade que O adorarmos em “espírito e verdade”. Tem, claro que tem importância o modo exterior como comungamos (e eu prefiro dar a comunhão na boca), mas a banalização da comunhão também se vai mostrando por aí. Nas circunstâncias em que vivemos, sobretudo tendo em conta quem comunga a seguir, apelo a que se receba Jesus na mão. Custa-me, isso sim, ver sacerdotes afirmarem negar a a comunhão a alguém que se ajoelhe para a receber, como se “o seu espírito e verdade” fosse mais reto que o da pessoa que toma a atitude de O receber assim, de joelhos.

Vem aí o “Corpo de Deus”… Também a Igreja é Corpo Místico de Cristo… Vivendo a comunhão, saibamos encontrar tempos para pedir ao Senhor que nos leve a aumentar o amor para com Jesus Sacramentado, sem nos esquecermos de Lhe dar tempo para que isso aconteça, sabendo fazer silêncio no silêncio do profundo mistério da presença de Jesus na Eucaristia.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Celebrações Pascais

Horário das celebrações diocesanas de Páscoa

Quinta feira 18:00 Missa da Ceia do Senhor
Sexta feira 15:00 Celebração da Paixão
Sábado 22:00 Missa da Vigília da Ressurreição
Domingo 10:30 Missa de Páscoa

Preside o Sr. D. António Marto - Ver AQUI

sexta-feira, 27 de março de 2020

Aos paroquianos de Monte Real e Souto da Carpalhosa


Aos paroquianos de Monte Real e Souto da Carpalhosa

O tempo e a situação que vivemos são estranhos. Nunca, entre nós terá acontecido tal situação de, para nos protegermos uns aos outros, estarmos impedidos de exercer umas das caraterísticas fundamentais do ser humano: a sociabilização. O que acontece tem que ser feito á distância, usando outros meios, não o da proximidade física.

Graças a Deus, são muitos os meios de que dispomos para comunicarmos e estarmos, assim, minimamente presentes nas vidas dos que fazem parte da nossa vida.

Alguns pontos:
1.    Sigamos as orientações que nos são dadas, permanecendo em casa, tudo fazendo para que não seja posta em risco a nossa vida nem as dos outros. Tenhamos presente que se por irresponsabilidade contaminarmos alguém com um vírus que pode causar-lhe a morte é pecado, é grave, é atentar contra a vida.
2.    Habitualmente, fazemos um tempo de adoração do Santíssimo Sacramento, via Facebook CLIQUE AQUI das 15:00 às 16:00 (todos os dias); Missa às 19:00 (segunda a sábado); Missa às 11:30 (domingo). Tendo em conta as frágeis condições de captação de imagem e som, se for possível, ligue o computador ou o telemóvel à televisão, vê-se e ouve-se melhor;
3.    Chegou-nos a informação de que em alguns sítios a imagem peregrina de Nossa Senhora continua a andar de casa em casa. Isso não deve acontecer. Nem as imagens peregrinas, nem os coros da Sagrada Família devem, neste tempo, ser passadas de cada em casa. Devem parar onde se encontram, retomando-se, depois o normal circuito de casa em casa.
4.    Na celebração da Eucaristia rezamos por todas as intenções das comunidades. Se alguém quiser que seja anunciada alguma intenção particular, deve comunicá-la atempadamente.

Não deixamos de aproveitar este tempo, esta ocasião, para repensar a vida e os valores que vivemos, procurando recentrar o que somos e vivemos.

A bênção e a graça de Deus desçam, e permaneçam, sobre cada um.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Tempos Incertos

Mais um dia de necessária clausura nestes tempos incertos. Não temos que queremos, temos o que nos é possível. A nós cristãos, fica-nos a tristeza de não podermos celebrar comunitariamente a fé, mas leva-nos a uma reflexão e tomada de consciência dos momentos de graça divina do que tivemos até aqui e não aproveitámos. Queira Deus, fique em nós uma vontade grande e firme de nos tornarmos mais próximos de Deus, percebendo que não é em nossas mãos que está a salvação.

Hoje e amanhã era, permita-se-me que diga, é o tempo das “24 horas para o Senhor”. Não o faremos diante do santíssimo Sacramento, nas igrejas, para evitar aglomeração de pessoas, mas podemos fazê-lo no silêncio de nossas casas. Estamos a apontar para fazer adoração em privado, mas com transmissão via Facebook, na medida do que nos for possível, amanhã, dia 21, no período da manhã e também no da tarde. Permitindo, assim, que cada um, possa seguir nas suas casas e fazer silêncio orante.

Agora, que temos “todo o tempo do mundo” para rezar, e ainda sobra algum para “pasmar”, deitemos as mãos na massa e construamos um futuro diferente. Depois da tempestade vem a bonança. Não podemos, no entanto, descurar que outras tempestades surgirão.

quinta-feira, 19 de março de 2020

O Tempo Urge


É estranho, ou talvez não, mas faz pensar, isso faz!

Quando vivemos num mundo quase sem fronteiras, onde a velocidade dos aviões nos permite estar em diferentes países num mesmo dia, vemo-nos numa situação em que, quase de um momento para outro, fronteiras se fecham, não para controlar quem passa mas, simplesmente para não deixar passar;

Quando vivemos num tempo em que o dinheiro move o mundo, vemo-nos, de um momento para o outro, a correr o risco de o mundo económico abater;

Quando vivemos no mundo a querer controlar, e a fazê-lo muito já, quem pode nascer ou deve morrer antes de nascer ou depois de envelhecer, vemo-nos numa luta mundial contra a morte ou o risco de morrer;

Quando vivemos num mundo a querer ir a Marte e sendo já conhecedores já da profundidade genética do ser humano e de outros seres vivos, vemo-nos numa luta desigual contra um ser “invisível” que alastra a uma velocidade louca e gera pânico geral;

Quando vivemos num mudo que caminha para um estado de vida que seja puro gozo, vemo-nos, de um dia para o outro, limitados à quase solidão, controlados pelas autoridades, impedidos de muito mais gozo que aquilo que é básico e essencial na vida.

Julgando-nos, nós humanos, inteligentes e controladores da vida, do tempo e da história, vemo-nos paralisados, descontrolados, afastados nas nossas relações, como q eu desconfiando de tudo e de todos, emudecidos debaixo do medo de que o inimigo esteja no beijo que se dá a um filho, no aperto de mão conciliador, na camisa daquele que, a nosso lado, poderia ir à igreja rezar…

Quando passei pela Capelinha das Aparições, em Fátima, na tarde do que seria um dia cheio de gente, encontro apenas uma dúzia de pessoas sentadas, a segura distância, em bancos cheios de pó. Fez-me pensar em abandono. Pensei que ao abandono a que a nossa sociedade vota Deus corresponde a liberdade que Deus nos confere e oferece, deixando-nos ficar em nossas mãos porque é nelas que pomos nossa confiança. Fez-me pensar na facilidade com que nos afastámos das nossas igrejas, porque tivemos que afastar-nos uns dos outros. Peço a Deus que não seja isso sinal de que nos afastamos d’Ele.

Continuamos a rezar em nossas casas, a participar das celebrações da Eucaristia que os sacerdotes continuam a celebrar, pedindo a Deus que todos o façam, mesmo aqueles para quem isso sempre foi impensável.

Faz-nos pensar que não estamos mesmo em nossas mãos e esperar que aquilo que Deus permite seja, sem qualquer momento de hesitação, ocasião para nos abeirarmos d’Ele. Não, não é momento para questionarmos Deus, ou a sua justiça. É momento para, de alma e coração, e definitivamente, nos aproximarmos d’Ele. O tempo urge!

sexta-feira, 13 de março de 2020

Covid-19 Comunicação


segunda-feira, 9 de março de 2020

Seja Domingo ou não!


Quando em Itália algumas comunidades estão impedidas de celebrar missa, numa consequência direta dos riscos de contágio de coronavírus, sendo que, onde se celebra, se aconselhe a retirada da saudação da paz (que nunca foi obrigatória, e é muito mal entendida), no domingo em que o Evangelho nos apresenta a Transfiguração de Jesus, cumpre-me fazer uma reflexão sobre a riqueza da eucaristia, cujas celebrações abundam nas nossas comunidades, sendo tão pouco aproveitadas e desperdiçando as infinitas graças que o Senhor derrama copiosamente sobre aqueles que participam e, por eles, a toda a família e comunidade de que se faz parte. 

Na eucaristia, chamemos-lhe missa, Jesus entrega-se no mesmo e único ato de amor, que é a paixão morte e ressurreição, com que, no Calvário, nos salvou. É exatamente a mesma entrega que acontece na missa. Quem ama Jesus Cristo não precisa de um mandamento que “obrigue” a ir à missa ao domingo. Quem ama Jesus Cristo não presida que seja domingo para ir á missa. Quem ama Jesus Cristo está, sempre que pode, e ainda que com esforço, onde se celebra a missa.

A reação do tipo: nada fazer para participar, ao menos ao domingo, na missa se não se celebra ao pé da porta, manifesta a exterioridade com que se vive a celebração, ainda que pareçam diferentes os sentimentos. É verdade que as distâncias dificultam a participação, sobretudo a pessoas mais idosas, sobretudo quando rodeadas de pessoas a quem a missa nada diz.

Aplicar-se-ia o provérbio “quem não tem pão come broa”, mas não o quero aplicar à realidade da missa porque, de semana ou ao domingo, ela é uma só, embora com algumas diferenças de rito. Tenha-se em conta que a missa de domingo é missa de preceito, a de semana não. Note-se, com todo o sentido também, que não se podendo participar no domingo, a missa nos outros dias da semana também é celebração do mistério Pascal.

Tendo em conta o facto de não se poder celebrar em todos os lados nos dias de domingo, saiba-se que as missas vespertinas são missas de domingo, precisamente porque, liturgicamente, o dia de Domingo se inicias ao entardecer de sábado e termina ao entardecer de domingo. Só as vespertinas são dominicais. 

Triste é podermos participar, seja em que dia for, e não o fazermos.

domingo, 1 de março de 2020

O MUNDO, O DEMÓNIO E A CARNE


Estão na memória de muitos de nós os chamados “inimigos da Alma”, seja dizer-se: os inimigos da Salvação. Mundo, demónio e carne. Reportando-nos ao que nos diz a Escritura sobre o tempo de Jesus no deserto, façamos uma breve aproximação entre Jesus e estes inimigos da alma que, nós tão tranquilamente descuramos.

1.  O mundo não é mais que a mundanidade, o viver distanciados de Deus, pondo no lugar que Lhe compete as realidades mundanas, coisas e pessoas, a que tanto valor damos. Para Deus adota-se o mundo. Jesus retira-se do mundo das coisas e das pessoas, para o encontro com Deus, em retiro, no deserto;

2. Demónio: a força do mal, o príncipe do mundo, como Jesus lhe chama, que tudo faz e se serve para enganar, seduzir, desviar e afastar de Deus as pessoas e a obra da Criação divina. Discreta ou descaradamente, nos envolve e atrai, com ilusões e enganos, fazendo parecer ser bom e meritório o que realmente é mau, condenável e à condenação conduz. É tão fácil ceder que nem é preciso dar passos, tranquilamente se desliza para dentro da “cantiga” com que nos encanta. Jesus afastou-se dele, recusando-o, não cedendo, vencendo-o com a Palavra de Deus, impondo-se a Si mesmo como Senhor da sua vontade e do seu querer fazer a vontade do pai e só a Ele adorar;

3. Carne: são os prazer que se buscam pelo prazer. Nosso corpo é bom, se de equilíbrio e a harmonia se compõe. A sociedade que somos tem como princípio e pano de fundo do existir o “carpe diem” (vive, goza, a vida). Talvez mais do que nunca, nos centramos em nós, na prossecução dos nossos prazeres e tudo orientamos para a realização e o consolo pessoal. O rumo que se vai percorrendo está a orientar-se no sentido de tudo ser lícito e bom, desde que concretize os nossos, por vezes loucos, desejos. Não comemos para viver, mas por enfartar o prazer; não celebramos dentro da alegria, mas buscamos alegra-nos, no exagero do álcool e das drogas, para pensarmos que somos felizes. Jesus jejuou, consagrando o esforço do controle cada um de nós é chamado a ter de si, vivendo como senhores de nós mesmos e não, deixando-nos ser controlados pelo parecer, pelo ter, pelo poder.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Em Autodestruição


Percebemos como, ao longo da história da humanidade, diversos têm sido as formas de controlo da humanidade. Passava, nos tempos mais antigos, pela morte dos meninos, à nascença, ou dos homens, em tempos de guerra, tornando, assim, mais difícil o crescimento de um povo, naturalmente os inimigos, para que não se multiplicassem demasiado.

Mais recentemente, temos a triste experiência do nazismo, na Alemanha e países circundantes. Consciente de que a vida é um dom sagrado, inviolável em sua natureza, o cristianismo veio dar aos povos uma diferente visão do ser humano e da vida, levando a uma especial atenção e proteção dos mais fragilizados, crianças, doentes, idosos.

A crescente materialização das pessoas, particularmente nas sociedades ocidentais, e a sua consequente descristianização, levou a que nos tornássemos luxuriosos e egoístas ao ponto de tudo vermos e sentirmos em função do corpo e do prazer. Seja o que for que a esse egoísmo se oponha torna-se objeto de ódio e fator a eliminar. Não importa que sejam as pessoas e a sua vida. Acontece com o aborto, acontece com a eutanásia. Sob uma capa de bem esconde-se o mal profundo. As consequências serão inevitáveis, mas quando tal se perceber será tarde, muito tarde. Porque se vai perdendo o sentido da vida, perde-se também o da morte e o da eternidade. Nada fará sentido. Nós já vamos sentir isso.


Acolher e aceitar a morto, por aborto, eutanásia, conduz ao suicídio e será sempre a imposição do mais forte sobre o mais fraco, exatamente aquilo contra o qual lutamos. Esquecemos que somos fracos, todos somos fracos. Avancem os anos e seremos ainda mais, ao ponto de chegarmos a não nos suportarmos a nós próprios. Que, como, fazer? Entrar numa luta interior e exterior, muito grande, contra o mundo e os seus princípios. Permanecer fiéis aos princípios da vida é a forma única de vencer a morte que se impões sobre os povos. Não precisamos de vírus, destruir-nos-emos a nós mesmos. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Viagem à Croácia


sábado, 1 de fevereiro de 2020

Aceitar o Dom que é Dado


Jesus é apresentado no Tempo. Sabemos que era pertença de Deus o primogénito, o primeiro macho nascido, tanto dos humanos como dos animais. A Apresentação não é um mero ato de “mostrar” o menino, no caso dos humanos. É um ato de entrega. Entenda-se: “aqui to entrego, porque Te pertence”. Fazia-se, então, o resgate do menino, que era “trocado” por um novilho ou um casal de aves (para os mais pobres).

Sendo, embora, o próprio Deus, Jesus assume para si o que está prescrito para qualquer ser humano. A oferta de Jesus no Templo é muito mais do que um simples exemplo para nós.  Nesta  atitude, como na de Maria na Purificação, que acontecia no mesmo dia, Jesus não nos dá simplesmente exemplo. Há n’Ele um perfeito ato de entrega de Si mesmo, embora achemos nós que não seria necessário, por ser Ele o próprio Deus.

Este ato de entrega é um assumir e acolher a humana natureza de que estava revestido. É ato de plena humildade porque, sendo Ele todo pertença de Deus e assumindo a plena realização da vontade do Pai, entrega-se em tudo e sempre, fazendo da entrega de Si mesmo a entrega de toda a humanidade. Neste ato, Jesus está a salvar-nos, como acontece, aliás, em todos os seus atos, pensamentos e palavras. Mais do que salvar-nos num ou noutro momento, Ele é a salvação.

Por Jesus toda a humanidade é colocada nas mãos de Deus em ato salvador. Pelo batismo, aqueles que são batizados, assumem para si e acolhem, sempre n’Ele, a salvação que lhes é oferecida. Assumir e acolher a salvação é aceitar a entrega que de nós foi feita por Jesus e vivê-la em permanente ato pessoal de entrega de nós mesmos nas mãos do Pai. O batismo é o momento de acolhimento da vida de Deus e o compromisso a viver n’Ele.

Sendo Deus, humildou-se assumindo a fragilidade da nossa natureza e deu-nos dando-se a Si por nós. Pede-nos isso que é o mínimo que podemos fazer: a oferta de nós mesmos no viver como Ele viveu, para que não deixe de produzir efeito em nós toda a entrega de Si. Tanto e tão intensamente no ama, ao ponto de dar a vida para que n’Ele vivamos eternamente, e nós corremos o risco de, nem ao menos por gratidão, aceitarmos dar-Lhe o nosso querer sermos salvos.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

E Porque Não?

Porque somos demasiado faltos de fé sólida, queremos encontrar uma explicação para tudo o que vai além da normal compreensão. Uns Magos, vindos do oriente, vieram e adoraram Jesus na gruta de Belém.

Pensando bem há muitas coisas que não nos encaixam na mente, tanto mais que são reduzidíssimas as informações que o Evangelho nos dá. Isso é razão para muitos porem em causa o facto. Depois, justifica-se  a estrela com a possível passagem, nesse ano, do cometa Halley, que visita os nossos céus a cada 76 anos (mais ou menos), como se um cometa a milhões de quilómetros de distância pudesse parar discretamente e indicar uma gruta na pequenina Belém.

Porque é que não reconhecemos a Deus a capacidade de fazer brilhar uma luz desconhecida para guiar estes homens, desconhecidos também, para os conduzir ao Menino? Pergunta-se: como é que vieram de reinos diferentes e distantes e reconheceram o nascimento do Menino? Pergunto eu: e porque é que um Anjo veio a Maria, a José, aos pastores… e não podia ter revelado também, antecipadamente, o nascimento do Salvador aos Magos? E não seria Deus capaz de os guiar e de tudo orientar para que a adoração acontecesse? E não nos diz muito Deus ao pô-los a eles, pagãos, estrangeiros, a dizer à cidade de Jerusalém, a cidade de Deus, e aos seus habitantes, que o Salvador havia nascido? Não foi um estrangeiro leproso o único grato na cura dos 10 leprosos? E não foi o sírio Naamã a ser curado da lepra?
Porque não haveria Deus de se servir dos magos do oriente para nos dizer muito de sua justiça e de nossa verdade de fracos adoradores que somos?

Somos cristãos, filhos de Deus, não estranhos para Ele nem Ele para nós. Afirmando reconhecer a presença de Deus na Eucaristia, real como no Céu, não sabemos ser adoradores, não sabemos acolher as graças da Adoração.