
Vivemos a medo: uns sem medo e sem respeito,
outros temerosos demais ao ponto de, penso eu, não arriscarem viver. A vida,
que é vida, é um risco. Cada passo que damos é o correr do risco de dar um passo em
frente. Fecharmo-nos em casa, cobertos por uma manta de medo, é deixarmo-nos
abafar e adoecer no mofo da falta de arejamento interior.
Sim, com cuidado e respeito por nós e pelos outros… mas
é preciso abrirmos portas e coração para aquilo que nos diz alguma coisa.
Olhando as nossas celebrações, percebemos a redução
para cerca de metade do que era habitual. Não é de estranhar e é para entranhar
a realidade que isso manifesta. Acredito que o ficar em casa seja, em parte,
medo e precaução. Compreenderia isso se acontecesse por aqueles que são “gente
de risco”, mas a verdade é que são exatamente esses, os de mais idade que
regressaram.
Não creio que, na grande maioria das situações, a razão
de fundo para o deixar de participar passe pela precaução e o medo. Deixaram de
participar os de meia idade, que ainda vinham a toque da participação dos
filhos, mas esses deixaram de estar também. Não é preciso descavar muito para
ir à raiz do problema e perceber qual o vírus que a ataca: a indiferença. Sim,
a indiferença em relação a Deus, não digo às questões religiosas, que deixámos
de ver e sentir como Pai, perdendo mo que é fundamental: a relação pessoal de
nós com Ele.
Estamos perante a mais ténue das provações e
já estamos a ceder em grande escala, retirando a Deus o pouco espaço que ainda
Lhe dedicávamos. Como fino pó, entranha-se em nossas vidas a força que é
ausência de Deus. A sujeira está aí mas ainda não a vemos porque lhe passamos um para de
pó por cima, que deixa mais lixo ainda. Embora não parecendo, é muito cinzenta
a vida sem Deus.
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