quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Espiritualidade Sem Deus

O estado de pandemia em que vivemos  é revelador de muito daquilo que somos,  em todos os aspetos, também na dimensão religiosa. Não vamos entrar em lamentação ou julgamento, mas apenas buscar uma reflexão que, tanto quanto possível, nos leve a pensar na condição de cristãos que somos e que nos advém do facto de sermos batizados. 


Um vírus está a tomar conta da sociedade que  somos, ou que éramos, e a controlar aquilo que queríamos ser. Percebemos como a vida está em causa e como o mundo está a limitar uma das realidades mais básicas das sociedades democráticas, a liberdade, para conter o avanço deste vírus em nossas vidas.


Somos cristãos, digo somos porque vivemos num ambiente quase totalmente composto de batizados. Sabemos como as gerações mais novas de vêm embrenhando sempre mais nas realidades do mundo e afastando da espiritualidade cristã, que é de facto um afastamento em relação a Deus, substituindo-o por “entidades” espirituais que leva a pessoa a centrar-se sobre si como centro e razão de ser do mundo. As gerações de mais idade viveram muito um cristianismo centrado na tradição, não tanto numa relação pessoal com Deus, o que levou a uma educação desenraizada de um Deus em relação pessoal com cada um. Isto leva a que continuemos a viver de uma fé assente em tradição, mas sem ser concretizada na vida.


Não fazendo parte da essência do viver da pessoa, com toda a facilidade, e perante a primeira oportunidade favorável, Deus é posto à margem da vida, porque não é importante nela. Guarda-se apenas como mais um “ser” a quem se recorre nos momentos de aflição, particularmente nos que são pessoais, não tanto naquilo que se referem aos outros, precisamente porque nos centramos em nós mesmos e não vemos Deus como pai e os outros como irmãos


Falo das aflições pessoais porque, se repararmos bem e lá no fundo, o que leva a recorrer a Deus é o medo pessoal de entrarmos em fragilidade ou da fragilidade de outros, do medo de perder, aqueles que por qualquer razão acabam por nos fazer falta. Nós sempre no centro.

Temos uma real necessidade de um encontro pessoal com Deus. Enquanto o vírus for impedimento para isso, não nos teremos posto em marcha e deixamos que fique ainda mais distante.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Vai-te daqui, Satanás

 


Satanás não é propriamente o mais simpático de se chamar a alguém, mas foi o que Jesus chamou a Pedro, quando reagiu como reagiu ao ouvir Jesus dizer que havia de morrer às mãos dos “grandes” de Jerusalém.

Satanás tão somente aquele que se opõe e comanda toda a oposição a Deus. Toda a sua vontade e todo o seu agir vão no sentido de impedir que se realize o projeto salvador de Deus. Porque contra Deus não pode nada, atua junto das criaturas livres, o ser humano, para nos levar a negar, a impedir e a recusar a salvação operada e oferecida por Deus. Deus salva, o diabo quer que não chegue a nós essa salvação. 

Embora não se dando conta, S. Pedro estava a deixar-se guiar por vontade diabólica procurando levar Jesus a não se entregar à morte, precisamente porque seria nessa entrega que aconteceria a salvação, como de facto sucedeu. S. pedro está a reagir com a melhor das intenções querendo evitar a morte de Jesus - “Deus Te livre de tal, Senhor, isso não há de acontecer” - Se tal não acontecesse, não aconteceria a Salvação, os planos de Deus seriam frustrados. Esse era, continua a ser, o plano de satanás. Porque estava a agir por meros intuitos humanos, recusando que a ação de Deus se operasse, estava a ser intermediário do mal, e Jesus identifica-o com o próprio mal.

É assim mesmo que ele atua: discretamente; fazendo passar por bom aquilo que é mau; atraindo para a ilusão de vida aquilo que a ela não conduz; criando indiferença em relação a Deus; destruindo as bases das relações de amor, como é o caso da família; sexualizando as relações entre pessoas; levando a transpor os valores da vida humana para os animais, desvalorizando-os nas pessoas; destruindo a vida pelo aborto e a eutanásia, fazendo passar por valores aquilo que é exatamente o seu contrário… Tenha-se em conta que, como norma, ele não atua diretamente, mas através das pessoas, e sempre que se faz a sua vontade ele ganha terreno e quem perde somos nós. Ele nada perde porque só há sentimento de algo que é bom, e ele é condenado e nada há nele que não seja mal.

Foi das suas mãos, do seu poder, do seu domínio, que Jesus nos libertou ao morrer na cruz. É dele que Deus quer libertar-nos. Está em nós a escolha.