sábado, 1 de fevereiro de 2020

Aceitar o Dom que é Dado


Jesus é apresentado no Tempo. Sabemos que era pertença de Deus o primogénito, o primeiro macho nascido, tanto dos humanos como dos animais. A Apresentação não é um mero ato de “mostrar” o menino, no caso dos humanos. É um ato de entrega. Entenda-se: “aqui to entrego, porque Te pertence”. Fazia-se, então, o resgate do menino, que era “trocado” por um novilho ou um casal de aves (para os mais pobres).

Sendo, embora, o próprio Deus, Jesus assume para si o que está prescrito para qualquer ser humano. A oferta de Jesus no Templo é muito mais do que um simples exemplo para nós.  Nesta  atitude, como na de Maria na Purificação, que acontecia no mesmo dia, Jesus não nos dá simplesmente exemplo. Há n’Ele um perfeito ato de entrega de Si mesmo, embora achemos nós que não seria necessário, por ser Ele o próprio Deus.

Este ato de entrega é um assumir e acolher a humana natureza de que estava revestido. É ato de plena humildade porque, sendo Ele todo pertença de Deus e assumindo a plena realização da vontade do Pai, entrega-se em tudo e sempre, fazendo da entrega de Si mesmo a entrega de toda a humanidade. Neste ato, Jesus está a salvar-nos, como acontece, aliás, em todos os seus atos, pensamentos e palavras. Mais do que salvar-nos num ou noutro momento, Ele é a salvação.

Por Jesus toda a humanidade é colocada nas mãos de Deus em ato salvador. Pelo batismo, aqueles que são batizados, assumem para si e acolhem, sempre n’Ele, a salvação que lhes é oferecida. Assumir e acolher a salvação é aceitar a entrega que de nós foi feita por Jesus e vivê-la em permanente ato pessoal de entrega de nós mesmos nas mãos do Pai. O batismo é o momento de acolhimento da vida de Deus e o compromisso a viver n’Ele.

Sendo Deus, humildou-se assumindo a fragilidade da nossa natureza e deu-nos dando-se a Si por nós. Pede-nos isso que é o mínimo que podemos fazer: a oferta de nós mesmos no viver como Ele viveu, para que não deixe de produzir efeito em nós toda a entrega de Si. Tanto e tão intensamente no ama, ao ponto de dar a vida para que n’Ele vivamos eternamente, e nós corremos o risco de, nem ao menos por gratidão, aceitarmos dar-Lhe o nosso querer sermos salvos.