O estado de pandemia em que vivemos é revelador de muito daquilo que somos, em todos os aspetos, também na dimensão religiosa. Não vamos entrar em lamentação ou julgamento, mas apenas buscar uma reflexão que, tanto quanto possível, nos leve a pensar na condição de cristãos que somos e que nos advém do facto de sermos batizados.
Um vírus está a tomar conta da sociedade que somos, ou que éramos, e a controlar aquilo que queríamos ser. Percebemos como a vida está em causa e como o mundo está a limitar uma das realidades mais básicas das sociedades democráticas, a liberdade, para conter o avanço deste vírus em nossas vidas.
Somos cristãos, digo somos porque
vivemos num ambiente quase totalmente composto de batizados. Sabemos como as
gerações mais novas de vêm embrenhando sempre mais nas realidades do mundo e
afastando da espiritualidade cristã, que é de facto um afastamento em relação a
Deus, substituindo-o por “entidades” espirituais que leva a pessoa a centrar-se
sobre si como centro e razão de ser do mundo. As gerações de mais idade viveram
muito um cristianismo centrado na tradição, não tanto numa relação pessoal com
Deus, o que levou a uma educação desenraizada de um Deus em relação pessoal com
cada um. Isto leva a que continuemos a viver de uma fé assente em tradição, mas
sem ser concretizada na vida.
Não fazendo parte da essência do
viver da pessoa, com toda a facilidade, e perante a primeira oportunidade
favorável, Deus é posto à margem da vida, porque não é importante nela.
Guarda-se apenas como mais um “ser” a quem se recorre nos momentos de aflição,
particularmente nos que são pessoais, não tanto naquilo que se referem aos
outros, precisamente porque nos centramos em nós mesmos e não vemos Deus como
pai e os outros como irmãos
Falo das aflições pessoais porque,
se repararmos bem e lá no fundo, o que leva a recorrer a Deus é o medo pessoal
de entrarmos em fragilidade ou da fragilidade de outros, do medo de perder,
aqueles que por qualquer razão acabam por nos fazer falta. Nós sempre no
centro.
Temos uma real necessidade de um
encontro pessoal com Deus. Enquanto o vírus for impedimento para isso, não nos
teremos posto em marcha e deixamos que fique ainda mais distante.