segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Eu Sou o Mundo

Está aí um novo ano Pastoral. Recomeçam atividades, procuram-se algumas novas. Para muitos dos nossos cristãos começa a catequese, aqueles que vêm pela primeira vez, ou recomeça, para aqueles que já a frequentaram, muitos dos quais aproveitaram para fazer umas mais longas férias Deus. Sim mais longas, porque muitos, uma vez mais, as fazem ao longo de todo o ano, ou da vida, dando de si a Deus não mais que quase nada.

Bem sei que aqueles que este texto leem são, certamente, aqueles que procuram viver um pouco mais esta comunhão com Deus. A questão é que o facto de sermos batizados nos torna cooperante e membros de uma comunidade, pelo que a salvação do outro tem que me "preocupar" a mim também. Entra aqui a comunhão que é preciso viver na oração.

O sermos comunhão faz-nos ser um pouco dos outros e faz que os outros sejam um pouco de nós. Uma pequena flor perfuma uma sala como um bom cristão faz boa uma comunidade. Acontece exatamente o mesmo em sentido contrário: um mau cristão destrói toda a comunidade. Um grupo transforma-nos nele, se nos deixarmos por ele envolver. Um grupo é transformado por nós, não se nos fizermos iguais aos outros, mas na medida em que, sendo diferentes, damos fazemos que o grupo o seja também. Neste sentido, precisamos mais de transformar do que de nos deixarmos ser transformados.

Talvez sintamos que não podemos fazer muito para transformar o ambiente em que vivemos, precisamos, no entanto, de acreditar que com a nossa oração e com nossas ações de vida em comunhão levamos a que Deus transforme o que por nós não conseguimos.
É preciso não vivermos como puros independentes, numa vida alheada de tudo e de todos, sob pena de cairmos num profundo e destruidor egoísmo que vê o mundo e os outros como inimigos ou vírus.

Todos vemos no mundo, nas pessoas e na própria vida, não aquilo que eles são, mas o que nós somos, porque tudo olhamos e vemos com os "nossos olhos". Para nós, tudo se transforma naquilo que nós somos.

Puro Ato de Bondade

Servir e amar. Esse foi o fim para que Deus  criou os Anjos. Seres que são puros espíritos nada mais fazem do que, em perfeita liberdade, estarem dispostos ao Amor para com Deus, em ato de perfeita entrega de si mesmos ao Criador e Senhor de todo o universo.

Deixemos de lado os espíritos que, livremente recusaram amar o Criador e que, por isso, optaram pela perdição, pela plena infidelidade. Também eles foram criados para servir e amar, mas o orgulho levou-os a dizer não. 

Centrando-nos agora no ser humano que somos, sintamos que fomos criados por Deus exatamente para o mesmo: para O servirmos e amarmos. Foi em ato de pura bondade de Deus que fomos pensados e criados, para que participássemos infinita perfeição que Ele é. A opção por Lhe dizermos não, no ato de pecado original, catapultou-nos para a perdição com os espíritos maus. 

Mas Deus, pura bondade, continua a amar-nos e, tendo-nos recuperado para Si, chama-nos a estarmos dispostos para O amarmos e servirmos. Entremos em nós para tomarmos consciência de que, tendo estado irremediavelmente condenados, Deus se fez um de nós, assumindo a nossa natureza e condição, e nos acolheu como filhos, capacitando-nos para o amor.

Era de justiça a nossa condenação, mas é de Misericórdia a nossa recuperação. Na certeza de que ambas estarão presentes no momento final, é em nossa liberdade que percorremos os caminhos do bem ou do mal. 

No fundo, ao mandar-nos que vivamos o mandamento do Amor, que se exprime na confiança, na entrega de nós mesmos à vontade de Deus, ao longo da vida, e na vida, que vivemos, e não depois de morrermos; ao exigir-nos o Amor, ao obrigar-nos a amar, aquilo que Deus faz é, ouso dizê-lo, "obrigar-nos" a sermos felizes, a optar pela felicidade. E nós continuamos a dizer os nossos nãos...

Sim, é na plena liberdade que atuamos. Deus não pode fazer mais por nós que aquilo que fez e faz. Não quer, de forma alguma, perder-nos. Deus nada perde de si pelas nossas recusas em O amarmos, o não querer que nos percamos é puro ato de bondade Dele. Vida ou Morte dependem de nós, nunca de Deus. 

Dízimo

O termo vem da Sagrada Escritura. Embora entre nós não se use muito, alguns grupos religiosos conhecem-no bem. Era uma exigência de Deus ao Povo de Israel: que cada família pagasse o dízimo (a décima parte) de todos os bens. Falando de bens, pensamos no que de material cada um possui, como se bens fossem apenas as materialidades que fazem parte de nossa vida.

Porque a vida é um bem, como o são a saúde, os filhos, os pais, o trabalho... Seria interessante centrarmo-nos no dízimo que devemos a Deus por todos os bens que nos concede. Sentiríamos que um décimo de nós mesmos é pertença de Deus. Sentiríamos que das 24 horas no nosso dia, 2 horas e 24 minutos seriam totalmente de Deus. Aqui é caso para que cada um se pergunte quanto tempo dedica exclusivamente a Deus. É interessante o facto de Nossa Senhora, em La Salette, França, ter pediu duas horas de oração por dia.

Não encontramos tempo nem motivações para aquilo que, interiormente, nos não diz muito. Se somos gente a procurar viver sobretudo o presente, e com toda a intensidade, é fácil percebermos que Deus não nos muito pois nos aponta a eternidade que, embora estando a ser vivenciada já, a pomos depois deste tempo de existência terrena, isto se é que na eternidade pensamos.

Uma coisa é certa: vivemos conforme, realmente, acreditamos e acabamos por acreditar conforme vivemos. Aqui se encontra toda a realidade da indecisão, porque não acreditamos, embora digamos acreditar, e vivemos a meio termo embora, falando, afirmemos, muitas vezes, valores e realidades que que nos são interiores e estão no coração.

Os "10 por cento de Deus" de que se compõe a nossa vida, não são, embora o sejam também, prata, ouro ou demais bens materiais, são uma percentagem de nós mesmos. São o nosso tempo, o nosso sorriso, a nossa caridade, o nosso perdão... Um tempo claro, diário, e exclusivamente de oração, o tempo por nós  dedicado a Deus, é nascente cuja água se vai diluindo e transformando todo o ser, toda a  vida, de modo a que, sem nos darmos conta, não apenas esse "pouco" tempo, mas todo o nosso ser se tornará oferta para Deus.

Afinal, Cristo não nos pediu 10 por cento, exigiu-nos a totalidade de nós mesmos, tudo o que somos, numa entrega que é nossa, mas fruto da sua Graça.