Assim o tinha prometido, assim o fez, como faz sempre. Dez dias depois da sua Ascensão, o Espírito Santo é enviado pelo Pai e pelo Filho. Veio para recordar o que Jesus tinha dito e dar a conhecer coisas novas; veio para dar ânimo, gerando vida divina em nós, e para ser força no caminhar para Deus; veio para fazer de nós morada divina.
Talvez passemos pela vida sem nos apercebermos de toda a
força e ação que o Espírito Santo exerce nela. Depois do pecado original,
perdendo-se a graça, que nos fazia verdadeira imagem e semelhança de Deus, o
nosso ser passou a agir essencialmente seguindo as suas frágeis capacidades
humanas (claro que a ação de Deus em nós não deixou de acontecer).
O pecado fez-nos perder a capacidade divina para atuar,
incapacitando-nos para o reencontro com Ele. Só a divindade de Cristo,
intimamente unida à nossa natureza humana, permitiu a reconciliação
Deus/humanidade. Ora, a nossa frágil natureza humana continua incapacitada para
a vida da graça, pois ficou irremediavelmente fragilizada pelo pecado. Mas
Deus, na sua incalculável misericórdia, não nos salvou apenas, fez de nós
morada sua, na pessoa do Espírito Santo e, se o permitirmos, pois temos a
liberdade de o não fazer, essa presença do Espírito capacita-nos para a ação em
Deus, para a vida divina, vivificando e engrandecendo as nossas ações. Quer
isto dizer que, por graça divina sempre, nós podemos a partir de Deus, em Deus
e por Deus.
É aqui que entra a nossa vontade, o nosso querer, fazendo
que tudo possa acontecer humana ou divinamente: a mesma atitude pode limitar-se
a ser mera ação humana, e embora sendo boa é pobre e frágil, ou tornar-se
“divina”, se estivermos na graça e atuarmos como participantes de Deus. Aí, a
ação, ainda que por si seja pobre e
frágil torna-se grandiosa, divina e eterna porque o Espírito Santo,
santificando-a, a eleva a essa condição.
Entende-se, assim, que não podemos fazer o bem no
verdadeiro sentido do termo, se não tivermos o Espírito em nós e O deixarmos
atuar. A ação boa será meramente humana, não participando do bem e do mérito
divino, por não ser participação do Bem Supremo, que Deus é.
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