Queremos sinais grandes, enormes mesmo, sem que passe o tempo que nos permita observar, sentir e ver, o que a vida é, o que somos nós e o que os outros são. A semente lançada à terra vai envolvida na expetativa e na esperança. Passa o necessário tempo para que brote e as tais esperanças e expetativas continuam, avolumando-se no fruto que se sonha ver recolhido. Só quando o fruto está guardado o coração do semeador descansa.
O tempo conta de modo diverso de uns para os outros.
Centrando-nos no mundo, fazemos girar tudo, até Deus, à nossa volta e em função
de nós, segundo o nosso tempo, a nossa
vontade e o nosso querer. Em atitude assim, gera-se egoísmo sempre mais
intenso, fechando-nos num casulo intransponível com que nos envolvemos.
Lançar semente e, assim acontece com sementes de bem e de
mal, deixar que elas cresçam. Lançar umas após outras e fazer que o campo se
encha muito bem. Se as sementes são de Mem e se são muitas, muitas serão as
flores, o perfume e os frutos que se colherão com o tempo, não o nosso tempo,
mas o tempo justo, e tempo reto, o tempo de Deus. A podridão, as flores mortas
e o odor horrendo muitos serão também se as sementes semeadas são muitas e
envolvidas na fragrância do Mal.
O Reino dos Céus nasce assim. A semente do Espírito que,
no silêncio de Maria, gera o salvador em seu seio e O dá à luz no silencioso
silêncio de uma gruta. A vida silenciosa que é vivida até ao anúncio público da
salvação, e o silêncio de Jesus perante as invetivas ruidosas do mundo. A morte
no silêncio oferecida quando os ruidosos julgavam que matavam e silenciosa
ressurreição, que ninguém viu, apenas se viu o Ressuscitado.
O Reino dos Céus cresce assim. A semente do Espírito que
nos faz filhos, no silêncio de querer o batismo, e que no silêncio de uma vida
lado a lado com Deus faz crescer a graça e torna graça os silenciosos atos de
Bem que, no silêncio de nós mesmos, geramos com o nosso frágil ser. O pouco que
somos capazes de querer e o pouco que conseguimos fazer, transformam-se e
crescem e tornam-se o muito que a força do Espírito pode em nós, tanto quanto O
deixarmos, fazer. Pensamentos pequeninos, atos sem serem vistos, no silêncio
luminoso de nós, tornam céu a vida que, já aqui, vivemos.