terça-feira, 6 de março de 2018

FÉ DE VENDILHÕES

Tudo vivemos a meio termo. Ainda que nem todos o façam, a maioria sim, é assim que vive nesta sociedade descafeinada, que se delicia com uma coisa que não é café, nem deixa de o ser; que bebe água mas com sabor a limão, ou com pós do aroma de uma outra qualquer fruta; onde se afirmam e aqueles que não são nem homens nem mulheres e que, como pessoas, dificilmente serão alguma coisa na vida; que veste de casaco os cães e deixa morrer de frio e fome milhões de pessoas; que se diz cristã, católica, mas não praticante; que se queixa porque está dia de inverno e se não lembra de milhões que, por causa da guerra, vivem verdadeiro inferno; que nada  quer com Deus, além daquilo que, muitas vezes por mesquinhas razões, exige dele, para si, como se Deus fosse a todos devedor e mau pagador.

O cheiro a vómito sai da "caneta" de São João, no Apocalipse: " Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca" (Ap 3,16). A sentença recai sobre a humanidade morna, na certeza de que ela é cada um de nós, que não é nem deixa de ser de Deus, e porque assim é, não deixa de ser um "não" ao Deus Criador, que nos quer ativos. Ser bom não e não fazer mal, mas fazer o bem.

Somos light em praticamente tudo. Não o somos, garantidamente, nas nossas ideias, nas nossas lutas, porque dessas fazemos forte finca-pé, tendo razão pelo simples facto de serem nossas as ideias e as lutas, e os outros não podem muito mais que concordar connosco.

Encontramos Jesus a "deitar por terra" os sonhos e ganhos daqueles que vendiam no Templo. O zelo pela casa de Deus fê-lO explodir diante dos que, a diversos pretextos, se aproveitavam da fé das gentes. Não são vendilhões aqueles que vendem, somo-lo nós, aqueles que nos deixamos vender na hipocrisia da fé que dizemos ter; somo-lo nós que vivemos uma relação com Deus na base do "dever - haver", sendo que Deus é o devedor e nós os credores que tudo Lhe exigimos sem nada Lhe dar; ; somo-lo nós que nos calamos diante do desfazer do mundo em guerras atrozes, como se nada tivéssemos a ver ou a fazer por eles. Se mais nada houver que façamos, ao menos ofereçamos os nossos sacrifícios, a nossa oração e conversão por eles e pela paz.

Por quê as minhas guerrinhas pessoais, quando o mundo está em estado de guerra? (03-03-18)