segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Contemplar o Mistério


Não dá para dizer e, a nós, não dá sequer para contemplar. Já todos Não dá para dizer e, a nós, não dá sequer para contemplar. Já todos nos sentimos fascinados com o terno encanto do sono de um bebé. Talvez tenhamos tido até uma certa inveja da paz que o envolve, precisamente por ser o que buscamos e ele, sem esforço algum tem-na toda.

Podemos deixar o pensamento voar até à gruta de Belém, mais fácil para quem teve a graça de a visitar já, e deixá-lo contemplar o cenário humano-divino: Maria e José sem palavras para dizer. O menino envolto em paninhos ternamente preparados por sua Mãe e deitado na manjedoura. O mistério naquela pequenina gruta, vivido na intimidade de uma família em que o amor é pleno, era tão intenso  que  o  não  poderíamos sentir: o Céu veio à terra e a terra tornou-se Céu.

Aquele Menino  era em tudo perfeito: Deus revestira-se da humana natureza, buscando-a numa perfeita criatura, onde a fealdade do peca não tinha machado nem a alma nem o corpo. Deixemos de lado a cor dos olhos ou a tez da pele para nos fixarmos, como fizeram Maria e José, no Mistério do Homem-Deus. Ficaremos sem palavras, de olhar humedecido e coração tremente, como fica quem se deixa comover pelo próprio Deus. 

Contemplar o Mistério deste Menino é deixar-se envolver pela grandeza do amor terno de Deus e, deixando-se levar por ele, permitir que a sua ação em nós transborde e toque todos aqueles de quem, de algum modo, nos aproximamos. Um coração tocado por Deus não se fecha batendo em solidão, mas explode para bater em uníssono com o daqueles que são de boa vontade e procuram o encontro com Deus.

Fazer Natal é parar em cada dia, fechar os olhos ao mundo, contemplar um pedacinho de Deus, num dos momentos da História do seu amor em nossas vidas,   permitir que Ele entre mais em nosso ser e que nos deixemos envolver plenamente no mistério da história de amor que faz com cada um de nós, pessoalmente



domingo, 15 de dezembro de 2019

Contemplar e Calar

Já em terceiro domingo de Advento impõe-se-me uma reflexão. Ser mãe, quando se é realmente mãe, é  supremo momento de felicidade, tão alto que só quem o vive o pode dizer, se for capaz. A Mãe gera em seu ventre um novo ser, uma vida nova a que que, se realmente é Mãe, se dedicará de corpo e alma. Se assim acontece com qualquer comum mãe, elevemos o nosso pensamento para Maria, a Mãe do próprio Amor, a Mãe perfeita, aquela que ama e se entrega sem limites. Porque Nela não há pecado, tudo faz sem os seus limites.

O filho que traz em seu ventre é Ele mesmo intensa explosão do amor de Deus. Ela é Mãe de Deus. A vida que está em Si, que em Si foi gerada é o próprio Deus. Quem dera que ao menos de olhos fechados a tudo o mais pudéssemos entrar em tal mistério de alegria, mas não... somos limitadíssimos.

Maria estaria no Céu. Ela era o próprio Céu, a Arca da Aliança portadora do Verbo de Deus. Era sem limite a alegria que a inundava. 

Tentemos adentrar-nos mais ainda no mistério da alegria de Maria. Basta, para isso, pensar que a fonte da sua alegria estava mais na realização da promessa de salvação feita por Deus, que no facto de ser escolhida para ser Mãe do Salvador. A sua existência pautava-se por duas linhas: glorificar Deus e "arrancar" Dele a tão esperada salvação da humanidade, que Ela, por ser dfe amor perfeito, tanto amava. 

E a felicidade de Maria acontece de modo extremo para o que de humano se pode dizer. Era tal a intensidade da comunhão que acontecia entre Ela e a Eterna Trindade, que, ouso dizer, a sua felicidade raiaria a do próprio Deus. Ela era a Mãe de Deus, mas, mais que isso, o Salvador havia-se feito homem, a salvação estava a acontecer. Acredito que, se em Deus houvesse momentos e tempo, como havia em Maria e há em qualquer um de nós, a Encarnação, a união hipostática entre a natureza divina e a humana, seria o da mais explosiva felicidade de Deus, tão intenso é o seu Amor com que se dá e nos ama!  

As nossas palavras são menos que pó para falar da grandeza de Maria. Até dói quando A reduzimos a uma comum e simples mulher da Galileia, como se Nela o ser e o agir não fossem perfeitos. Que atitude senão contemplá-lA, amá-lA e... silenciar?!

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Mãe Imaculada

Manifesta-se assim a ação de Deus. Sem que nos apercebamos ou demos conta, Deus atua em nós e por meio de nós. Maria foi pensada e criada por Deus para que Dela nascesse o Salvador do Mundo. Sem qualquer mérito da sua parte, porque tudo Lhe foi dado por graça divina, Maria foi "preparada" para a missão com que Deus A agraciara. Em função da ação salvadora de seu Filho, Ela foi salva desde a origem. Foi salva antes e, por isso, não conheceu o pecado.

Assim, cheia da santidade de Deus, Maria, sem disso se aperceber, estava já a ser, desde a sua conceição, medianeira da graça. Era cheia de graça e, por isso mesmo, a graça divina atuava Nela e por Ela. Compre-ende-se assim que sempre tenha havido Nela uma ânsia, como nunca tinha havido nem haverá, por que Deus enviasse o Salvador, por que a salvação da humanidade acontecesse. 

A oração de Maria, além daquela de sua profundíssima entrega pessoal a Deus, estava em função da humanidade. Pela humanidade rezava, para que o Senhor a salvasse. Podemos rezar muito seja pelo que for, particularmente pela conversão dos pecadores e a santificação das almas, mas nunca, nunca faremos mais que uma sombra daquilo que Maria rezava. Dentro Dela havia um gérmen de vida pura, um amor puro para com Deus e para com a humanidade, porque seu amor não estava corrompido pelo pecado. O nosso amor é frágil, facilmente quebrável, porque em nós há pecado.

Diremos, sem qualquer ponta de medo, que toda a existência de Maria, particularmente antes da Anunciação, foi um permanente e puro Advento, a plena ânsia de que Deus concretizasse a salvação da humanidade. Digo que toda a sua existência foi Advento porque, mesmo agora no Céu, Maria quer e deseja que a salvação aconteça, que a vida divina aconteça no ser de cada um de nós. 

Honrar Maria, na sua Imaculada Conceição (o momento em que foi concebida no seio de sua mãe), é meditar nos mistérios que A envolvem e procurar viver em fidelidade ao batismo que recebemos como Ela viveu em fidelidade a Deus. Meditar no seu viver fazendo que Ela seja o modelo para a nossa vida.

sábado, 23 de novembro de 2019

O Senhor é Rei

Coroado de ignomínia pelos corações e pela coroa de espinhos que lhe cravaram na cabeça, Jesus é ultrajado da forma mais vil que poderia pensar-se. 

A grandeza e a sublimidade da sua realeza manifestaram-se ainda mais aí que em qualquer  um  dos outros momentos de sua vida. Sendo Criador, Rei  e Senhor, de todo o Universo, assumiu o mais vil dos ultrajes não em forma de fraqueza mas de infinita dignidade e misericórdia. Em nada, em nada mesmo, foi a sua realeza ferida. Foi ferido o Coração de onde jorram infinitas graças e infinito amor. Ferido por nós, ferido por causa de nós, porque não nos abrirmos a Ele, acolhendo os dons que nos conduzi-riam à vida na Glória, essa vida que a que nos chama e que nos oferece. O sofrimento de Deus não O fecha em Si mesmo, por não ser egoísta, mas precisamente por ser plenamente altruísta, sofre por nós, por nos ver sofrer nesta vida, e por nos ver a percorrer caminhos que conduzirão a um sofrimento eterno e sem um único momento de alívio, como nos diz o Livro do Apocalipse.

O sofrimento de Deus está no nosso sofrimento, sofrimento que advém do nosso não vivermos como nos manda, de O recusarmos no nosso pecado. Sofre por nos ver perdidos sem nos poder retirar do caminho de perdição quando, por opção pessoal e livre, por ele optamos.

Pecadores somos, sem que alguém com verdade o possa negar. Perdidos não estamos, a não ser que voluntariamente queiramos afastar-nos de Deus e da misericórdia que em permanência derrama sobre nós. Deixou-nos os remédios de cura e fortalecimento: os sacramentos. Não os viver, desde o batismo à unção dos doentes, é não querer recorrer aos meios de que dispomos para a caminhada. É desperdiçar graças que por eles nos são conferidas com a infinita gratuitidade de Deus. Querer chegar à meta de Deus, aceitar e viver segundo as regras que Ele mesmo nos apresenta, é estar a caminho da casa do Pai.

Celebramos hoje Jesus Cristo Rei do Universo. Celebramo-lO no último domingo do ano litúrgico dizendo claramente que além se der princípio Ele é o fim de todas coisas, O Senhor virá para reinar com justiça, acolhendo no seu Reino todos os que, vivendo comunhão com Ele neste mundo de tribulação, Lhe são fiéis, O aceitam e querem em suas vidas. Nada nem ninguém pode evitar o seu Poder.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Verdade Nua e Crua

“Diz uma parábola judaica que certo dia a mentira e a verdade se encontraram.
A mentira disse para a verdade: - Bom dia, dona Verdade.
E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, os  pássaros cantavam... Vendo que realmente era um bom dia, respondeu para a mentira: - Bom dia, dona mentira.
- Está muito calor hoje, disse a mentira.
E a verdade vendo que a mentira falava a verdade, relaxou.
A mentira então convidou a verdade para um banho no rio. Despiu-se das suas vestes, saltou para a água e disse: - Venha dona Verdade, a água está uma delícia.
E, assim que a verdade sem duvidar da mentira tirou as suas roupas e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.
A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua, por onde continua a andar.
E aos olhos de muitas pessoas é mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua."

É parábola, uma história, que nos entra dentro e toca em todos os sentidos. Dizemos, todos, palavras doces de ouvir mas muito amargas, mais que fel; temos gestos de acolher que despidos de sua hipocrisia poderiam chegar a matar. Não é diferente na história de nossas relações com Deus: quantos atos de amor que nada mais fazem que sofrer!? Quantas promessas de conversão que não vão nunca além de palavras, embora nos deixem a ilusão de um grande amor?

A verdade dói. Não nó nesse sentido com que o leitor entendeu. Dói mesmo e chega a matar. Das mentiras vestidas de verdade que saem de nossa boca e dos gestos mortais que se vestem de abraço e sorriso permanece a verdade. Mata, não aquele a quem se dirigem as palavras e os gestos, mas aqueles que as dizem e fazem. 

A verdade, nua e crua, anda mas não se cansa e corrói-nos o coração e a vida quando de nós sai mentira que pula e salta na alegria por ter as roupas da verdade.

Assim é ´de uns com os outros, assim é de nós para com Deus. Portadores de verdade profunda deixamos abafar-nos nas "verdades" da mentira e morremos devagarinho, agonizantes e, muitas vezes, sem pegar a mão salvadora de Deus.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Entre Nós e Deus

Resultado de imagem para caracter de diosMais, muito mais, que uma casa de pedra e cal, o Seminário é a casa, a família, em que Deus acolhe, ajuda ao discernimento, guia, ensina e encaminha aqueles que chama para o serviço do Reino. Esses são os escolhidos para a porção predileta da vinha do Senhor. Porque escolhidos e especialmente amados por Deus, são também os mais tentados a desviarem-se do caminho.

 O Seminário é espaço e tempo de discernimento e formação sacerdotal. A Igreja não pode subsistir sem os sacerdotes porque neles atua O Sacerdote Jesus Cristo. É admirável este mistério a todo o amor que Deus manifesta nele: mesmo no meio dos pecados dos sacerdotes Deus continua a estar presente e a atuar. Não esquecendo, no entanto, que quanto mais graça neles houver mais graça  atuará nas ações que realizam. É, por isso, fundamental a oração, a presença de toda a comunidade.

A Diocese que somos não é grande, mas os trabalhadores são poucos, cada vez menos. São aqueles que a comunidade que somos permite, mas menos que os que ela precisa.

Estamos em "Semana de oração pelos Seminários". Passar ao lado desta realidade é passar à margem das necessidades mais premente que temos, não apenas a Igreja, mas a humanidade. Sabemos como cada vez mais é difícil ter sacerdotes nos momentos em que sentimos precisar deles. Ficar de mãos caídas e não fazer nada, ao menos rezar, é aceitar tranquilamente a situação, embora provoque muito mal-estar a falta deles quando os queremos e os não temos. 

A questão está em que realmente não podemos passar sem os sacerdotes se buscamos a felicidade, aquela que só em Deus se encontra, mas não nos damos conta dessa realidade interior e com toda a facilidade e intenção desprezamos a sua ação, recusando que Deus atue na nossa vida, na nossa sociedade. Por isso, vamos caindo fundo, sempre mais fundo, sem encontrar tábua de salvação pela qual sejamos salvos. Só Ele pode, realmente, salvar-nos.

sábado, 2 de novembro de 2019

Com Tudo e Sem Nada

Não há coração ou cabeça que resistam. Vivemos em ambiente minimamente cristão, celebrando nestes dias “Todos os Santos” e os “Fiéis Defuntos”, festas profundamente cristãs, que nos apontam para a realidade de Deus, do bem, da luz, da vida. A elas antecipou-se uma outra de cariz completamente oposto e antagónico: o “Alloween” que evoca o mal, as trevas, a morte… Aparentemente não se trata de mais que uma festa mas, indo um pouquinho mais além percebe-se que, realmente assim não é.

Deixemos isso para nos centrarmos no que quero partilhar convosco e que, me preocupa, embora não angustie. Digo que não há coração que resista por estarmos a viver num mundo em radical mudança, encontrando-nos no meio de opostos que nos atraem e repelem: o homem e a máquina; o material e o espiritual; o bem e o mal…

Somos famílias pequeníssimas mas vivemos em casas enormes; recebemos informação em cima do acontecimento, mas não nos conhecemos uns aos outros; temos centenas de “amigos” espalhados pelo mundo, que “fizemos” nas redes sociais, mas não saímos de casa para falar ou estar com os vizinhos; queremos dar o melhor às nossas crianças, mas não lhes ensinamos os valores que lhes dariam a felicidade; somos grandes humanistas, mas defendemos mais os animais que as pessoas; gastamos biliões a construir naves espaciais, mas pagamos muito caro os transportes; gastamos tudo na busca de poder viver no espaço, mas não resolvemos os problemas da fome, da vida, na terra; temos tudo, como nunca se teve, mas, no fundo, somos infelizes. A lista continuaria.

Vivemos tão vazios e distantes de nós mesmos porque recusámos o termos sido criados à imagem e semelhança de Deus. Se não nos fixamos na razão por que fomos criados, perdemos o sentido de nós mesmos. Torna-se isso insuportável e torna-nos a nós insuportáveis para os demais porque os olhamos como concorrentes não como irmãos, como coisas ao nosso serviço não como pessoas a nós iguais. E o vazio dentro de nós enche-se sempre mais do nada que lhe damos na de o preencher. Cada vez mais  nos sentimos vazios porque nos buscamos fora de nós mesmos.

Se não sabemos o que realmente somos, não levaremos as crianças a crescer na descoberta do que são. Geramos nelas a confusão. O que julgam ser recebem-no de fora, de ideias de gente que não sabe o que é, e não de dentro de si mesmas, da força interior com que foram criadas. Serão mais infelizes que nós.
Não há coração ou mente que resistam.                                       

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Noite das Bruxas

Com raízes nas tradições celtas, levado para a América, onde se transformou despindo-se, teoricamente, de todas as raízes religiosas e de onde veio para a Europa, a "festa de alloween" (a noite das bruxas) é vivida como se da coisa mais  inocente se tratasse. A verdade é que ela tem base religiosa, mas negativa. Está intimamente ligada ao culto do Mal,

à escuridão, à morte. O mal, que inocentemente se semeia, enraíza-se na vida das pessoas e das comunidades, ganhando definitivamente espaço. 

Sim, tudo parece inocente até porque a máquina comercial fez das crianças o alvo a atingir, quando antes eram os adolescentes e os jovens. Nós caímos no engodo de que é uma festa tão simpática para as crianças, a quem não se nega nada, mas a quem vamos inserindo numa terrível cultura de escuridão, de morte e de mal. 

Reparemos que o tema é único, só se fazem máscaras e se evoca a morte, o feio, banalizando o medo e o mal, como se a morte a fealdade e os espíritos do mal fossem as realidades mais inocentes e encantadoras da vida.

Os relatos das realidades que estão por trás desta noite, desta "festa" arrepiam quem ainda tem um pouco de discernimento do bem e do mal. Ela marca o início no ano satânico: sessões de culto a satanás são realizados por todo o mundo, celebrando-o como o deus e senhor do mundo; por todo mundo, milhares de jovens são enganados e atraídos para festas de ocultismos e ameaçadoramente integrados em comunidades satânicas de onde, se torna quase impossível sair; mulheres engravidaram meses antes para que nesta noite se façam horríveis abortos que são sacrifícios oferecidos a satanás; profanações da Eucaristia e cultos de consagração a satanás. O ato de anti-criação acontece de modo supremo nesta noite.

Vivendo e celebrando, inocentemente, estes acontecimentos vamos dando espaço ao mal que, como pó, vai assentando na vida que somos. Esquecemos Deus e o culto que prestamos a Deus na honra a Todos os Santos e às Almas do Purgatório, para nos dedicarmos "religiosamente" aos espíritos do mal.

Sem doçuras ou travessuras partilhemos o "bolinho em honra de todos os santinhos". Só em Deus, no caminho que nele fazemos e que Ele connosco faz, se encontra o que interior, profunda e intensamente buscamos. Criados por Ele e para Ele, só Nele encontraremos a harmonia que buscamos.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Reencontro de vida

Ponho-me a pensar que interesse terá para nós o falar de Missões (estamos e Dia Mundial das Missões), sabendo que, geralmente, atiramos esta realidade para terras distantes, longe de nós. Preocupo-me e falo, porque todos assim somos, com o que acredito, gosto e amo.

Pensando na minha, que cada um olhe a sua, relação com Deus pergunto-me: como me interessarei com gente distante, com sua relação com Deus, que O conheçam ou não, se eu O tenho aqui tão perto, acredito que vive em mim, e pouco faço para o encontro, íntimo e pessoal, com Ele?
Se Deus nos não diz muito a nós cristão, se nós pouco a Ele ligamos, sinal claro de que muito pouco O amamos, que interesse ou paixão pode suscitar em mim que outros O devam e possam conhecer, amar e servir?

É esta uma das questões base para a frieza da nossa vida com Deus, da nossa indiferença para com Ele. Não pensamos no quanto isto se reflete na nossa relação fria e indiferente com os demais, com a própria vida e, sem nos irmos dando conta, vamos morrendo a partir de dentro. Substituímos Deus pelos homens, tornámo-nos meros humanistas, e desiludimo-nos porque isso não nos alcançou felicidade. Substituímos as pessoas pela natureza e pelos animais. Da desgraça anterior passámos a entrar em catástrofe.

Na ausência de Deus como razão da relação entre as pessoas chegámos ao que seria de esperar: não nos limitámos a abalar os fundamentos da humanidade, mas destruímos as duas colunas fundamentais da felicidade humana. Decretámos como lei, dando-lhe cunho de bem moral, o aborto e o casamento homossexual. O sentido da vida e da família, que é seu suporte, foi completamente perdido. Entrámos num tempo e em ato de anti-criação. Esta é a maior e mais desejada das satânicas vitórias e a humanidade embarcou nela. Substituímos a vida pela morte assumindo esta como um bem.

Os tempos serão dolorosos, a batalha entre o Bem e o Mal está a acontecer. Resta-nos permanecer firmes e fiéis ao Senhor. Firmeza e fidelidade que acontecem dentro, no coração e se refletem na vida. Cativaremos os jovens, seremos reais missionários, reencontraremos felicidade quando, pessoalmente, reencontrarmos Deus.

5ª Pedrinha

Das 5 pedrinhas que Maria nos apresenta para a nossa conversão, falta-nos falar um pouco do "confessar-se ao menos uma vez por mês". Não, não nos diz uma vez por ano, mas uma vez por mês. 
Sabemos como é imensamente grande a nossa consciência do "não tenho peca-dos" É bem verdade o rifão "O pior cego é aquele que não quer ver", porque nunca será curado. Orgulhosamente nos arrogamos uma certa igualdade com Deus ao não termos pecados. O primeiro deles, e um dos maiores, porque nos impede de reconhecer os outros, é essa terrível falta de humildade. Recordemos que o primeiro dos pecados capitais (fonte de muitos outros) é a soberba, a primeira e principal característica do diabo, aquela que o levou à revolta com Deus.

Da certeza de não ter pecados se passa, num ápice, à negação da existência do demónio, fazendo-lhe assim a maior das suas vontades: ignorar a sua existência e presença. Daí lhe advém muita da força que tem nos tempos atuais. Mas deixemo-nos dele, que nem sequer é digno que atenção lhe demos. 

São Paulo diz-nos que a esmola, a caridade, a oração cobrem uma multidão de pecados. Verdade que assim é, pois na medida em que o bem se realiza em nós, o mal é abatido e destroçado. Não podemos, no entanto, descurar a verdade de que Jesus deu aos discípulos o poder de perdoar, ou não, os pecados, fazendo depender deles o seu próprio perdão. Escandaliza, certamente, mas não receio dizer que Deus não perdoa os pecados diretamente mas sempre através dos seus ministros. Deixemos a confissão "direta" a Deus, usemos os meios que deixou ao nosso alcance e as graças que pelo sacramento nos dá.

Não fazemos um favor a Deus se nos confessamos, como às vezes parece muitos pensarem. Está em causa a nossa libertação do pecado e das suas diretas consequências. Como ignoramos o poder e a força do pecado em nossas vidas!!!
Confessar é das atividades mais "difíceis" para um sacerdote, por diversas razões. É também aquela que, vivida e executada com humildade e espírito de serviço, mais deve deixar espírito de consolação porque o sacerdote se sente um simples instrumento  de Deus para arrancar almas das mãos do poder das trevas. 
Não temos pecados graves? Ótimo, confessemo-nos para recebermos a graça que Deus concede no sacramento e demos-Lhe glória. O único a perder é o da trevas.  

4ª Pedrinha

O jejum é base na história da Salvação. A bíblias fala de jejuns de 1, 3, 7, 40 dias. Jesus jejuou durante 40 dias antes de dar início à sua pregação.

Falar de jejum numa sociedade demasia-do materialista e Hedonista (o prazer é o maior bem da vida) é ir de encontro a todo o tipo de barreiras. Nem mesmo nós cristãos, na grandíssima maioria, consegue encontrar motivo e motivação espiritual para a prática do jejum. O certo é que ele faz parte da nossa caminhada para Deus. Nossa Senhora, em Medugorje, apresenta-o como pedra base do caminhar para Deus.

"E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócrita ..." (Mt 6,16) é o próprio Jesus que nos fala do Jejum, dando indicações de como vivê-lo. Ele ajuda-nos a aprender a renunciar a alguma coisa. Torna-nos capazes de dizer "não", a nós mesmos. É essencialmente isto a que nos deve levar o nosso pensamento durante o jejum: tomarmos consciência de que somos chamados a renunciar a nós mesmos para nos sentirmos ser de Deus.

Jejuar de quê? Daquilo que mais me faz sentir e lembrar que vivo uma vida que recebo de Deus e que só para Ele deve ser vivida. Renunciar ao café, que se bebe com tanto gosto, durante uns dias, é alguma coisa, renunciar de hoje em diante é muito mais. Renunciar não por renunciar, mas renunciar para que, quando nos vier o desejo de o beber, possamos lembrar-me que vivemos a vida não para sentir nela o prazer pelo prazer, mas que a vivemos para dar glória a Deus. Esse é um belo momento para nos confiarmos nas mãos de Deus.

Mas Nossa Senhora ajudou a resolver a questão sobre o "jejuar de quê"? Pede jejum de tudo, ao pedir jejum a pão e água duas vezes por semana. É muito? Não, parece muito. Assim sendo, porque não fazê-lo uma vez por semana? Claro está que cada um tem que pensar em si e naqueles que o rodeiam, uma vez que cada um é livre de fazer ou não fazer, tendo em conta a sua condição, a sua fé, a sua vontade.

Custa jejuar por razões espirituais e por isso não se faz. Apresentemos nós razões de imagem do corpo ou de saúde corporal e encontraremos motivação para ele. Jejuar por razão espiritual produz efeito benéfico também corporal.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

3ª Pedrinha

Um outro ponto sobre o qual assenta que convite à conversão e à comunhão com Deus, ponto bem presente na mensagem de Nª Senhora em Medugorje é: "Ler e meditar pequenos trechos da Bíblia Sagrada para pôr em prática no dia a dia. (Todas as quintas-feiras ler e meditar Mt 6, 24-34)"

Toda a relação de amizade assenta no conhecimento mútuo entre as pessoas. Quanto mais conhecemos e nos nos damos a conhecer, mais proximidade (ou afastamento), intimidade, amizade haverá. A relação que acontece entre nós e Deus é tanto maior e mais intensa quanto há conhecimento e partilha mútua de vida. Tendo em conta que Deus nos conhece, só depende de nós a intensidade dessa relação pois Deus dá-se tanto quanto tivermos capacidade de O acolher. Acolhemo-lO tanto mais quanto mais O conhecermos. Como conhecê-lo? Pela escuta da sua Palavra e pelo diálogo de nós para Ele, apresentando-lhE tudo aquilo que somos. Embora nos conheça mais profundamente que nós mesmos, quer que sejamos nós a tomarmos consciência do que somos e a confiarmo-lo a Ele.

Não conhece Deus quem O não o escuta, não O escuta quem não reza, não O ama quem não O conhece e quem não reza.

Não nos damos conta da força da Palavra de Deus em Nossas vidas. É essencial lê-la para que nos apercebamos daquilo que Ele nos diz. A Palavra de Deus é viva e eficaz, não é uma palavra escrita simplesmente para narrar acontecimentos passados, é Palavra que Deus me dirige a mim, a ti, hoje, em cada momento.

A Bíblia lê-se em pequenos trechos que nos levem a meditar e a concretizar em cada dia, em cada situação. Não são precisas longas leituras, não são precisos longos tempos, é preciso que o coração esteja lá, buscando Deus e vivendo-O em cada situação.

Ao "olharmos" nossos dias passados, contabilizemos brevemente o tempo que ao olongo do ano, do mês, da semana, do dia damos à escuta da Palavra de Deus. Deus pede que O deixemos ocupar o primeiro lugar em nossa vida, em nosso coração. Só Ele deve ser o nosso tudo. Quanto perdemos ao estarmos longe de Deus!!!  

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Príncipes Divinos

Maria, a Cheia de Graça, foi elevada ao Céu em todo o seu ser, corpo e alma. Excelsa como era, como é, não "cabe" neste mundo, Ela pertence ao Céu, esse Céu para onde nos atrai e chama, do qual Ela é a porta.
Os Anjos são seres espirituais, Maria é humana. Por-que criada Cheia de Graça Divina, com a dignidade de ser Mãe do próprio Deus, Ela é superior aos Anjos. Ela é, por todas as razões, do Céu. É exatamente como Maria que Deus nos quer junto de Si. Com a Ascensão de Jesus, a nossa natureza alcançou um lugar no Céu. Maria tornou-se a primeira de todas as criaturas a gozar plenamente da vida em Deus.

Acontecerá a vitória final e, por graça divina, os que a Ele são fiéis, assim estarão também em eternidade, depois da ressurreição da carne, que, no Credo, proclamamos acreditar.

A mais excelsa de todas as criaturas foi, no Céu, colocada acima de todas elas, de todo o cosmos, como sua Rainha e Senhora. Servem-nA os Anjos, sempre prontos e "desejosos" de serem dignos de A servir. Maria é Nossa Senhora. Assim a identificamos, mas tantas vezes (sempre?) sem nos darmos conta da grandeza e honra que isso é para nós. Sermos servos, fiéis servos, a Mãe de Deus, da Rainha do Universo é o supremo grau de honra a que poderemos aspirar.

Submetemo-nos às pessoas: as jovens aos namorados (ou vice-versa). Quem mais ama mais se submete, mais serve e mais aumenta o seu amor. Submetemo-nos a nossos superiores, muitas vezes bom bajulação, simplesmente para deles alcançarmos benefícios, reconhecimento, dinheiro... ao ponto de nos tornarmos escravos. Escravos do mundo, das pessoas e até das coisas...

Temos por Rainha a mais bela, a mais excelsa, a mais santa, a que mais ama, de todas as criaturas e somos de tão dura cerviz para servi-lA, quando ser servo seu é a mais alta das dignidades. Insensatos: temos tudo de mão beijada e recusamos ser servos e filhos de Maria para sermos escravos das coisas. 
Ela é Nossa Senhora (Rainha), mas é também Mãe. Quem de nós se sente Príncipe, Princesa, porque filhos de Deus e de Maria? Se ser servo é altíssima excelência, pensemos no que é ser filho.  Os Anjos são servos somente!!!

2ª Pedrinha

Há uma segunda pedra base em que Nossa Senhora, em Medugorje, faz assentar a vida do cristão: a Eucaristia.

A Eucaristia, a missa, tem uma importância tal na vida do cristão, que Nossa Senhora pede que ela seja sempre preparada com a oração do terço antes. Nela, Jesus entrega-se ao Pai por nós, pela nossa redenção. Tivéssemos nós a capacidade de acolher toda a graça que Jesus nos alcança e oferece, e aconteceria o céu na terra.  

Com a entrega que Jesus faz de Si, convida-nos a entrega de nós mesmos, em ato de confiança e de fé. Esta entrega acontece tanto quanta a nossa capacidade de comunhão com Deus. Naturalmente, a nossa participação ativa e consciente abre-nos sempre mais à ação de Deus e à comunhão com Ele, pelo que: quanto mais participamos mais graça temos capacidade de receber, mais intimidade nos é possível criar com Deus.

Lamentavelmente triste é o facto de que com a maior das abdicamos de tomar parte na celebração da missa. Nem sequer ao domingo nos capacitamos para um momento de encontro com Deus na Eucaristia. Não é fácil compreender como é que o cristão não faz um esforço por participar diariamente, ao menos quando ela é celebrada na nossa comunidade, a "dois passos" da nossa porta. Se tivéssemos consciência do dom de Deus, da graça que é a participação na Eucaristia, tudo faríamos para nela participar com tranquilidade e e sempre que nos fosse possível.

Queremos ver Deus a atuar na nossa vida, na vida daqueles que amamos, no mundo, mas não O procuramos, não O buscamos, onde podemos encontrá-lO. E há uma coisa que Deus tem: muito respeito pela nossa liberdade, pelas nossas opções, pelas nossas decisões. Quando não O procuramos Ele não se impõe, quando não O queremos em nossas vidas, em nossas famílias, em nossas escolas Ele retira-se, aguardando que chegue o momento de O deixarmos entrar. Hoje é o tempo, amanhã é tarde. Quando não damos a Deus o espaço que, por natureza, Lhe pertence, outro ou outra coisa o ocupará e isso é mau, pode ser muito mau.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Maria: Modelo e Mãe

Imaculada. Cheia de Graça. A mais excelsa de todas as criaturas. Maria, chamemo-La pelo seu nome, um nome belo e cheio de dignidade, um nome a ser pronunciado, lentamente, dentro do coração, saboreando-o no que ele tem de grande e verdadeiro nesta Mulher que É filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e esposa de Deus Espírito Santo. Diz o Dicionário dos nomes próprios: "Maria: significa “senhora soberana”, ou “a pura”. Maria é um nome de origem incerta, provavelmente originou-se a partir do hebraico Myriam, que significa “senhora soberana". Por ser um nome muito difundido, antes mesmo da época de Jesus Cristo, é possível que derive do sânscrito Maryáh. Este quer dizer literalmente “a pureza", "a virtude", "a virgindade”.

Sussurrar o nome de Maria, saboreando-o em todo o seu sentido é oração profunda, porque é honrar a Mãe de Deus, glorificando-O a Ele Nela. Mais que Maria, só mesmo o próprio Deus. 

Depois da sua vida terrena, tendo adormecido em Deus, Maria foi elevada ao céu em corpo e alma, pois, não tendo pecado, nada há Nela que A prenda ao mundo terreno e às suas condicionantes. Quando afirmamos que, para nós, a morte é apenas passagem para a eternidade, não esquecemos que o nosso corpo permanece na terra, que só a alma, separando-se do corpo, entra em eternidade. Acreditando que acontecerá a "ressurreição da carne", como professamos no credo, voltaremos a "reunir-nos", alma e corpo (glorioso) para o juízo final. Maria, porque não teve a mancha do pecado, subiu, imediatamente após a vida terrena à glória do Céu.

A nossa condição não é a mesma de Maria. Assim, o que é que está em nossas mãos fazer, e o que é que aprendemos de Maria, para podermos, na vinda de Jesus, ser acolhidos por Deus na sua Glória? Está em nossas mãos o acolhermos a graça santificante que Deus derrama sobre nós. A nós é impossível salvarmo-nos,  mas a Deus tudo é possível, desde que, neste caso, aceitemos a salvação que nos oferece. Deus não nos salva sem nós querermos. Por outro lado, temos em Maria O modelo de virtude, de vida, de aceitação de Deus, de humildade, de perdão... Está em nossas mãos o tudo fazermos para a Ela nos assemelharmos e contarmos com a sua intercessão para que vivamos no Pai.

Na Assunção, Maria é Modelo da Igreja e de cada um de nós, chamados que somos a uma comunhão perfeita e plena com o Pai em Eternidade. (10-8-19)

terça-feira, 6 de agosto de 2019

1ª Pedrinha

Acontece há já 38 anos que, supostamente, Nossa Senhora vem aparecendo numa povoação da Bósnia-Herzegovina, Medugorje. Os videntes são seis, as aparições são individuais, cada um deles tem missão específica. Todas as mensagens assentam sob "cinco pedrinhas" que são a base da conversão cristã.
As peregrinações a Medugorje estão já autorizadas, as aparições não são ainda reconhecidas pela Igreja, o que acontece por estarem ainda a acontecer.
Estivemos lá e vimos os frutos, muitos e bons frutos. Estou convicto de que Nossa Senhora realmente aparece, ainda que não apareça, pelos frutos espirituais, sociais, humanitários... ali estão presentes, são mais que muitas as razões para se peregrinar a Medugorje.
Como primeira pedrinha surge "a oração com o coração: o rosário". Nossa Senhora insiste, aqui, como em Lourdes e em Fátima, com um veemente apelo a que se reze: "rezai, rezai, rezai". Pede que se prepare a celebração da missa com a oração do terço. Por isso, no santuário, antes da celebração da missa às 19:00, rezam-se dois terços. Rezar com o coração é rezar com interioridade e sentido, disponibilizando a nossa vontade e fazendo oração consciente, não fazer apenas por fazer. Não cabe aqui um "já está". Rezar com o coração pressupõe que não  "faz" oração mas se "vive em" oração. Queiramos ou não, é preciso também dispor de tempo "para" Deus. Parar para entrar em intimidade com Deus é fundamental para o encontro  com Ele. Sim, temos tempo. Temos tempo para tudo, menos para Ele, o que quer dizer que com facilidade pomos tudo acima Dele. Não O sentiremos deveras enquanto não invertermos a situação para O pormos em primeiro lugar a Ele.
Quando rezarmos com o coração, perceberemos que o terço não é oração monótona, muito pelo contrário. Ele é oração de contemplação tanto das orações que fazemos como dos mistérios da salvação que somos convidados a meditar. Claro que será difícil concentrarmo-nos quando o rezamos, ou qualquer outra oração, com o pensamento em sete o oito coisas ao mesmo tempo. 
Rezar com o coração: o rosário.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Forças de Bem e de Mal

Os tempos sucedem-se e num ápice se vão atingindo novas etapas, seja na vida que vivemos, seja nos tempos que marcam o ano o dividem em momento únicos. Em Igreja, o tempo agora é pascal. Termina neste dia com a celebração da descida do Espírito Santo sobre a Igreja, ao tempo reunida no Cenáculo.

Vivemos numa sociedade de contradições, que nega Deus, a eternidade e a dimensão espiritual, mas que a cada passo busca o que está para além deste mundo físico, terreno.  Nega-se Deus e o diabo, e buscam-se os anjos e os demónios, o bem e o mal. Direi que negamos os princípios e origens do bem e do mal para nos centrarmos nas suas forças e emissários. Forças, anjos, energias são as realidades que atraem a atenção de muitos dos nossos contemporâneos, dizendo-se, muitos deles cristãos. Algumas práticas de origem oriental, como reiki e o yoga,vêm acentuar muita estas ideias das correntes de busca de energias e capacidades da pessoa, por si, afastando a ideia de Deus e de tudo o que Ele envolve.

Não negando que, humanamente, estas práticas podem levar a uma pacificação interior e temporal, elas conduzem os cristãos ao afastamento de Deus, da meditação espiritual e do pensamento cristão, conduzindo a pessoa a uma meio termo entre o material e o espiritual e a uma aparente realização pessoal, sem que aconteça verdadeira libertação interior.

Vai-se gerando um clima de medo nas pessoas. Já vamos encontrando crianças com medo do mal e de suas forças, recorrendo à capacidade libertadora dos anjos, focando neles a atenção e a meta de fé, esquecendo que eles não são mais que emissários e criaturas ao serviço de Deus, o verdadeiro Bem, sua origem e fonte. 

É interessante reparar como com toda a facilidade se aceitam os seres espirituais, os anjos bons e os maus (demónios), e se recusam aqueles que eles servem: Deus e Satanás, respetivamente.

Como é que os cristãos "comuniquem com" e aceitem a presença dos anjos em si e se recusem a aceitar, a acolher a presença do próprio Deus que habita aqueles que lhe são fiéis e vivem em graça. Enviando-nos o Espírito Santo, Deus faz de nós morada da Trindade Santíssima. O Criador dos Anjos é-nos íntimo.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Ser ou não Ser

Quem se dá ao "trabalho" de pensar em Deus e nas suas coisas, encontra motivo de reflexão para cada momento do dia e cada dia da vida. Não pensando naqueles que, pelo menos em teoria, nada querem com Deus e para quem Deus pode nada representar, oriento-me para aqueles que se dizem cristãos e que, pelo menos numa ou outra ocasião, querem os "serviços" de Deus. Sim, para muito "boa gente", Deus acaba por ser visto com um servidor que precisa estar sempre disponível, não um Deus a ser servido, a quem pertencem toda a honra e poder. 

Acontece uma visita pascal e fecha-se a porta a Deus, porque se não recebem os que são enviados. Dá a sensação de que apenas se sentem dignos da presença do próprio Deus em pessoa. Acontece um momento de oração: pense-se na celebração da Eucaristia e na adoração do Santíssimo sacramento, e não há tempo, disposição, nem vontade, porque não se sente necessidade, e não se sente porque não se percebe o Amor de Deus. Dá a impressão que, espremendo a nossa fé, de Deus tudo se exige, quando se precisa e se quer, mas para com Ele nenhum dever ou obrigação se tem.

Dizer-se cristão ou não, para muitos de nós que o dizemos, é uma daquelas coisas que nem aquenta nem arrefenta. Já quanto ao sê-lo, para além de dizê-lo, é-se à maneira de quem sacode a água do capote, não vão os pingos entrar e constipar... Somo-lo se queremos (e cada um está no direito de o ser ou não), mas se o somos não pode ser à nossa maneira, embora a fé seja única e pessoal, mas à maneira de Jesus Cristo, porque, embora sendo pessoal, a fé se vive em comunidade e em comunhão com Jesus Cristo e em Igreja.

A oração, a missa, tem o mérito que tem por se viver e celebrar, não é porque se descarregou a obrigação de participar. Ora, a minha participação traz-me mérito e graça, a mim, à comunidade e às intenções por que a ofereço, sempre que participo, e porque participo. Fechar uma porta ou uma oportunidade à graça leva-me a um cada vez maior afastamento de Deus.

Quantas oportunidades perdemos de que a presença de Deus vá crescendo em 

sábado, 6 de abril de 2019

Força de Bem, Força de Mal


 Adensa-se a ação, o círculo vai-se fechando sempre mais e a hora aproxima-se. Escribas, fariseus e seus sequazes intensificam a pressão e a perseguição a Jesus. Ele tem perfeita consciência de que a hora, que  Ele deseja ardentemente, está a chegar. Deseja-a porque ela é hora de redenção, é hora de misericórdia, é hora de ação de Deus, é hora da vitória do bem sobre o mal, é hora de libertação.


Veio para dar a vida, não perdendo-a mas, dando-a e recuperando-a, ganhando para nós a nossa própria vida. Nasceu para morrer fazendo-nos viver, e isso queria-o, desejava-o, com ardor. Diríamos que nasceu para aquele momento, para aquela hora. Tudo se consuma e realiza nela.

Se, antes, havia domínio do pecado sobre a humanidade, porque a recusa de Deus no ato inicial nos tornou escravos do mal, com a aceitação plena de Deus e a recusa do mal por parte de Jesus (e Maria), ao ponto de por Deus, voluntariamente, aceitar morrer, a vida e a morte tornaram-se opção pessoal de cada um. Se, por um lado, vivemos sob a pressão do mal, por outro, vivemos sob a ação da graça de Deus que, atraindo-nos para Si, atua e gera vida divina.

Duas forças que nos tocam, duas opções de vida que nos atraem, dois caminhos  que nos levarão a um único fim na eternidade. Depois do pecado de origem (original) a obra da criação ficou sob o domínio do mal, não se entenda isto como a não existência de bem, acontecendo a expulsão do Paraíso, cuja entrada ficou guardada, no dizer do Livro dos Génesis, por Querubins de espada flamejante na mão. Jesus reabriu as portas e a entrada no Paraíso  depende, agora, da pessoal capacidade de cada um em se abrir à ação de Deus, operante no mundo. A Salvação aconteceu, e continua, em permanência, a acontecer. O seu acolhimento está em nossas mãos, mãos fragilizadas de humanidade pecadora; mãos fortalecidas, e em graça, por misericordiosa gratuitidade divina.

A pressão adensa-se, agora, para mim e para ti. Pressão do mal, que se vê derrotado; pressão, libertadora, do Bem, eterno vencedor que em nós põe a opção de, em liberdade, optar e escolher por que força queremos ser regidos...

quinta-feira, 7 de março de 2019

Nada... Cinza


Olho o tempo, as pessoas e a vida
e cada vez mais, Senhor,
percebo que somos pó frágil.
Seres que de nada vivem seguros,
que de um nada, e por nada, partem
e o tempo chega ao fim.
Sei que não é ilusão o que somos,
mas muitos em ilusão vivemos,
como se o presente fosse tudo
sendo a eternidade nada.
Cinza, chamas-nos a ato humilde,
a sentir e a pensar,
num gesto forte, que somos cinza, pó,
que nada mais seriamos se não fosse
tua graça, em dom derramado,
a fazer-nos viver e a sermos tudo,
um tudo porque deste teu Sangue;
um nada que levou um Deus
a dar tudo, depois de fazer-se "nada".
Desde sempre assim foi,
porque desde que somos gente,
orgulhos, tudo queremos ser,
esquecendo que somos cinza, pó...
Na atitude de inclinar a cabeça
e nela se derramar cinza, pouca,
tão pouca que é quase nada,
faz, Senhor, que nosso olhar
olhe o pó, o nada, que somos
diante de tua Majestade.
E a reflexão no silêncio
nos faça elevar a mente para Ti
e pensar que, por nós, nada somos,
mas que, em Ti,
atingimos a dignidade de ser
filhos de Deus.
Dá-me, Senhor, um humilde coração.
Ámen


domingo, 3 de março de 2019

O Sacramento da Confissão

A semana que hoje inicia marca o tempo fecundo da Quaresma. Depois da folia, quantas vezes destruidora e ofensiva, do carnaval abre-se o tempo de penitência e conversão com o gesto grandioso, quando dele se toma consciência, da imposição das cinzas.

Somos chamados à conversão, e particularmente, ao sacramento da reconciliação. Para muitos é quase repugnante falar-se de confissão, realidade que advém do facto de se ter perdido a consciência do pecado, e até do mal em si, e do facto de que quando se está em pecado dói ouvir-se falar dele e do sacramento da cura, como "dói" ir ao médico quando se tem doença mortal por haver medo de más notícias.

Confessar-se de quê? Em tempos de infância  olha-se o pecado como frutos podres na vida de cada um, quase contando-se quantos são. Na vida adulta, e conforme o maior entendimento que se vai tendo, mais que ver pecados como frutos podres de uma árvore, importa ver frutos mas, depois, é preciso ir mais longe, mais ao interior,  e perceber  onde está a raiz, a origem do mal que se abateu sobre os frutos, e em vez de os arrancar da árvore, aproveitar para usar a cura que se tem ao alcance, o sacramento da reconciliação.

O mal ou o bem que ao longo da vida nos vai marcando deixa rasto, uma marca que não e possível apagar, pode apenas esbater-se. Não podemos nós fixar-nos no mal porque corremos o risco de nos deixarmos envolver por ele. Ainda que deixe marca, é preciso que seja ultrapassado, se possível até ao ponto nos sentirmos perfeitamente curados.

O pecado tem dois aspetos a ter em conta: a culpa que o sujeito tem na execução do mal, e a pena que é a exigência de reparação do mal acontecido. Por outras palavras, a pena é a paga que o pecador sofre pelo mal cometido, até que a justiça seja reposta, até que se "pague" por todo o mal feito. O sacramento da reconciliação leva ao perdão de culpa, mas não da pena. A pena anula-se através dos atos de bem ao longo da vida, através da oração, pela íntima relação com Deus e, em recurso final, no Purgatório, depois da morte terrena. (03-03-19)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

E Nós, Que fazemos?

Nova Iorque chega ao extremo, aliás, atingiu o que agora é sentido como extremo. Percebendo o rumo que este mundo ocidental leva, acredito que por muito tempo, ainda, se continuará a atingir pontos limites, que estarão cada vez mais distantes da dignidade e da vida. Isso terá um fim, depois de o mal se manifestar em toda a força. 

Uma lei, recentemente aprovada naquele estando Norte-americano, permite o aborto até menos de um dia antes do parto. Aborto gratuito durante seis meses e mais três se houver risco de bem estar. Resumo: aborto grátis em todo o tempo. Mais ainda, diz a lei que se a mãe matar o bebé imediatamente após o parto é crime, se for imediatamente antes já o não é.

A lei  da  morte,  aquela que é exatamente a intenção diabólica, continua a grassar numa sociedade que se afirma justa, num mundo que se diz evoluído, e é defendida por muitos que se afirmam católicos, crentes em Deus. A destruição do ser humano é absolutamente contrária ao projeto de Deus, é absolutamente contrária a Deus. Muitos, não só convivem relativamente bem com este ambiente de destruição como o apoiam, continuando a não ter qualquer escrúpulo de consciência em dizer-se de Deus, em comungar. Não pensemos em julgamento após a morte, abramos agora o coração e pensemos no sofrimento que impomos a Deus, que entregou seu Filho para nos libertar dessa morte para a qual muitos vão caminhando a velocidade louca.

Diante dos factos Deus usará de toda a sua misericórdia, mas será que abdica da justiça? Não, Deus é misericórdia mas é também justiça, e embora a misericórdia triunfe sobre a justiça, esta não deixará de acontecer. "Large a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele" (Mt 7,13). Ele é que o disse.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Mar de Pureza

Sem que entremos em pormenores que, além de secundários, são irrelevantes para o caso, sabemos a realidade de algumas culturas que, nas suas justas razões, tomavam por impura a mulher menstruada ou parturiente: havia derramamento de sangue e esse era motivo que que fosse praticamente votada ao isolamento. Deixemos para lá e centremo-nos numa outra ideia, em que me comprazo pensar e quero partilhar convosco que ledes estas palavras.

Quarenta dias depois do nascimento todo o primogénito de Israel era apresentado no Templo. Nesse ato acontecia também a purificação da mãe da criança apresentada. Maria e José cumpriram o que a Lei prescrevia e tudo fizeram com exterior precisão, sendo que interiormente, de coração, o fizeram com a mais requintada dignidade e intenção. 

Deixando a apresentação de Jesus e centrando-nos na purificação de Nossa Senhora, cabe-nos pensar na impensável e inefável grandeza e também na humildade daquela que, única na história do universo, foi, é, e será pura, e, como tal, isenta de toda e qualquer necessidade de ser purificada. 

Não foi, em momento algum, beliscada a sua graça, perdida a sua pureza. Imaculada foi criada e Imaculada chegou ao fim de seus dias nesta terra, que é de passagem. Mas Ela, porque em perfeição de humildade e em pleno Sim sempre viveu,  tudo aceitou e plenamente cumpriu os preceitos que Deus havia dado ao Povo a que pertencia.

Celebrar, e rezar, a purificação de Maria é, por si, ato e momento de pensar e olhar os pensamentos, atos e palavras, que fazem parte de nós, todos, e  que são impuros, porque imperfeitos. Olharmo-nos no que somos e, olhando para Ela, espelho de Deus, nos vermos refletidos e inundados na luz, na beleza e na graciosidade que Lhe são naturais. 

Bebendo da fonte pura, Aquela que, sendo só pureza, foi purificada, somos purificados e inebriados de Deus

sábado, 5 de janeiro de 2019

Inefável Mistério

Assumiu a nossa humanidade porque assim o queria a justiça divina, para que Nele e por Ele sejamos salvos. O "Céu não o Podia conter" em si porque a  infinitude do Amor de Deus pelas suas criaturas, porque pecadoras, exigia que  que Ele descesse do Céu e se deixasse não apenas envolver, mas assumir pela natureza humana. Assim, neste Amor infinito, é que se deixou apaixonar infinita e loucamente por cada uma das suas pobres criaturas. 

Só Ele se deixou apaixonar apaixonadamente, porque paixão é sofrimento, até ao limite da morte voluntária, sendo que, por ser infinito o seu Amor, a própria morte perdeu seus limites e se tornou real apenas para aqueles que , livremente, por ela optam e a escolhem.

Que criatura pode  merecer do Criador infinita dedicação? Que obra pode merecer do seu autor uma entrega tal que, voluntariamente, o leve à morte? Nenhuma. Se Deus se humanizou depois de a humanidade ter recusado a divindade, aconteceu só por Graça e Misericórdia, sem qualquer merecimento por parte da criatura.

Os Magos, vindos do Oriente, o mundo de então conhecido, são sinal e imagem da manifestação que Deus faz de Si a todos os povos, raças e nações, também aqueles não conhecem nem amam o Criador. Deus não salvou os bons, salvou a humanidade: a todos oferece a graça da salvação, que já está em nossas mãos.

Diante da imensurável e inefável grandeza do mistério de Amor de Deus cabe-nos pasmar, não em assombro paralisante, em ato amoroso temor e cair mais, sempre mais e mais, em adoração de confiante entrega de nós mesmos, daquele nada que somos por nós, mas do tudo em que Deus fez que nos tornássemos ao encarnar, assumindo nossa humanidade, e ao morrer e ressuscitar, adquirindo-nos para Si ao preço do valor da sua vida, e oferecendo-nos a capacidade e o poder de sermos filhos de Deus.