segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Envolvidos Num Abraço

Era pequenino, apenas uma criança, um bebé. Era moreninho, de olhos grandes e cheios de vida. Saía à mãe. Um bebé lindo. E ela olhou-O. Olhou-O, adormecido em seu colo. Ficaram rasos seus olhos e o olhar toldou-se de lágrimas. O coração, esse estremecia de gratidão só de O olhar tão cheio de paz, tão tranquilo, tão divino.

O pai, adotivo porque o Menino era de outro pai gerado, olhou Mãe e Filho e sentou-se porque fraquejaram as pernas de emoção. Não falou, não pensou, apenas se sentiu indigno da missão para que fora escolhido, velar pelo filho e pela mãe. Elevou os olhos ao Céu e numa prece pediu luz e força para ser capaz. E o Menino chamou-lhes pai e mãe. E Ele era Deus. E Ele é Deus.

Não temos tempo para contemplar as crianças pequeninas, tranquilas a dormir e não sabemos medir e ver os sinais da paz, os caminhos da Vida. Temos os olhos turvados não de lágrimas de emoção mas de pó dos caminhos, de desejos de prazer e poder, de cheiro a dinheiro e a egoísmo. E o Menino Deus cai-nos dos braços porque não sabemos segurá-lO em   nossas vidas. Perdendo-O, perdemos não a Ele mas a nós mesmos, e pode ser para sempre.

Podemos tê-lO em nossos braços porque Ele mesmo disse: "Todo o que fizer a vontade de meu Pai... esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50). E estamos nas mãos da Mãe, a Sua Mãe, porque Ele no-la ofereceu" (Jo 19,27). Insensatos e ingratos é o que facilmente conseguimos ser. Insensatos porque deixamos perder o maior tesouro que temos em mãos, o próprio Deus que se fez homem, para nos cativar como criança, para nos salvar dando a vida por nós. Insensatos que não abrimos os olhos à Vida que há em nós, que está em nossas mãos, em nossa liberdade. Ingratos por isso mesmo, e porque pela frieza de nosso viver, pela indiferença de filhos que somos, ferimos a Mãe ao escaparmo-nos de seus braços, de seu colo, de seu abraço materno e divino. (30-12-17)