segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Olhares Cruzados

Um menino nasceu. Estranhamente recusado entre os seus familiares, tendo em conta que São José era originário de Belém, foi numa gruta que que viu a luz do mundo, o mundo que era seu. 

Foi o silêncio da gruta, o silêncio do coração de sua mãe, a escuridão da noite e o brilho da alma e do olhar de Nossa Senhora, se aperceberam da Luz do Mundo que nascia. Almas emocionadas a de S. José e de Nossa Senhora vertiam lágrimas de alegria e gratidão pela misericórdia de Deus, que se manifestava. Parecia um sonho. Verdade que era um sonho, uma esperança de séculos de história e de vidas de um Povo.

Um "sonho" que faz acordar para a realidade. O menino chora, tem fome. E o Menino é Deus. De alma cheia de emoção, Maria alimenta com seu leite materno o filho que é seu e que é de Deus, o filho que que é Deus, que nasceu não para ser filho para Maria mas para toda a humanidade. 

Deus Pai pôs nas mãos de Maria a salvação de todos e de cada um de nós. Deus, fazendo-se quase nada, habitou no meio de nós para que possamos nós ser tudo, vivendo Nele. É assim o infinito amor de Deus.

Maria tinha essa certeza, a de que era portadora de Deus na infinitude dos seus dons. Vemo-la cheia de graça, de lágrimas de alegria por ser escolhida por Deus, mas não lhe medimos as dores, as orações ou as lágrimas provocadas por uma espada de dor que lhe trespassou a alma ao longo de toda a vida. Basta pensar na dor de lhe  ser recusada hospedagem, cidade de Belém, a dor de não poder dar um aconchego "digno" ao filho que nascia, que é Deus (mas a gruta de Belém era o mais digno, pois foi esse que Ele escolheu e quis). Espada que deixou de ferir apenas no momento da sua Assunção, e no encontro absoluto e pleno na Santíssima Trindade.

Olhemos Maria, na gruta de Belém, ternamente emudecida ao olhar o Deus alimentar-se do seu peito. Olhemos os olhares do Menino e dEla, cruzados numa total entrega: Ele, Deus, confiando-se totalmente nas mãos dEla, e Ela, Mãe humilde, sentindo que por si só nada pode, confiando-se absolutamente a si mesma nas mãos dEle, porque Ela é Mãe e filha de Deus. E nós estamos nas suas mãos também.
(8 de janeiro 2017 - Epifania)