segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Sem Amor Perfeito

A palavra é uma, os sentidos são muitos, a sua utilização é de vezes sem conta. Tanto, e tão mal, utilizada é que se lhe perdeu o sentido. E amor passou a designar tantas coisas que acabou por definir até o que lhe é profundamente oposto. Um ato de amor perde a sua pureza amorosa quando é marcado por algum interesse, por mais pequenino que possa ser.

Percebemos que não há um ato de puro amor humano. Por muito que amemos e o queiramos fazer com puro altruísmo, perturbamo-nos se percebemos um ato menos grato da parte da pessoa amada. A mãe ama e tudo faz por seu filho mas chega a cansar-se de tanta  vez o fazer. Aí, perde parte do amor com que amou. A enfermeira cuida com o maior carinho deste mundo o doente que lhe está confiado, mas pensa no ordenado que lhe é confiado no fim de um mês de trabalho. Porque "não há almoços grátis" o convite para "beber um copo" espera sempre um ato de recompensa. Puro só o amor com que fomos, e somos, eternamente amados por Deus, que não precisa de nós, a Quem não acrescentamos nem retiramos nada porque Ele é o Tudo. Ama-nos em perfeito ato de amor porque tem em vista unicamente a nossa felicidade. Se ela é posta em causa ou em risco isso deve-se só a nós.

Porque não amamos perfeitamente, vamos deixar de amar? Não, precisamos teimar em amar sempre mais e melhor. Aqui está a questão: eu não amo em ato puro, não aceito o outro em ato de pura aceitação: Como, então, conseguir? Aqui entra Deus, que preenche com seu infinito amor o que falta em mim de amor e de aceitação. Daí que a salvação seja ato de Deus, em dom que exige de mim aquilo que eu posso e consigo ser. Tenho eu que fazer e dar o que posso, não podendo deixar de o fazer porque o dom de Deus não preenche o que me compete a mim preencher, sendo que o que faltar é sempre ato de ausência da minha parte.


Não, não amamos perfeitamente, mas porque somos amados em perfeição, Deus supre e completa o que não somos capazes de fazer, no ato de amar os irmãos, a Deus ou a nós mesmos. Quer dizer que o nosso amor se torna, podemos dizê-lo, perfeito quando amamos em Deus. Esse amor sim, dá vida, é altruísta e nunca põe em causa a vida dos outros. O que não for assim vem do maligno.