A palavra é uma, os sentidos são muitos,
a sua utilização é de vezes sem conta. Tanto, e tão mal, utilizada é que se lhe
perdeu o sentido. E amor passou a designar tantas coisas que acabou por definir
até o que lhe é profundamente oposto. Um ato de amor perde a sua pureza amorosa
quando é marcado por algum interesse, por mais pequenino que possa ser.
Percebemos que não há um ato de
puro amor humano. Por muito que amemos e o queiramos fazer com puro altruísmo,
perturbamo-nos se percebemos um ato menos grato da parte da pessoa amada. A mãe
ama e tudo faz por seu filho mas chega a cansar-se de tanta vez o fazer. Aí, perde parte do amor com que
amou. A enfermeira cuida com o maior carinho deste mundo o doente que lhe está
confiado, mas pensa no ordenado que lhe é confiado no fim de um mês de
trabalho. Porque "não há almoços grátis" o convite para "beber
um copo" espera sempre um ato de recompensa. Puro só o amor com que fomos,
e somos, eternamente amados por Deus, que não precisa de nós, a Quem não
acrescentamos nem retiramos nada porque Ele é o Tudo. Ama-nos em perfeito ato
de amor porque tem em vista unicamente a nossa felicidade. Se ela é posta em
causa ou em risco isso deve-se só a nós.
Porque não amamos perfeitamente,
vamos deixar de amar? Não, precisamos teimar em amar sempre mais e melhor. Aqui
está a questão: eu não amo em ato puro, não aceito o outro em ato de pura
aceitação: Como, então, conseguir? Aqui entra Deus, que preenche com seu
infinito amor o que falta em mim de amor e de aceitação. Daí que a salvação
seja ato de Deus, em dom que exige de mim aquilo que eu posso e consigo ser.
Tenho eu que fazer e dar o que posso, não podendo deixar de o fazer porque o
dom de Deus não preenche o que me compete a mim preencher, sendo que o que
faltar é sempre ato de ausência da minha parte.
Não, não amamos perfeitamente,
mas porque somos amados em perfeição, Deus supre e completa o que não somos
capazes de fazer, no ato de amar os irmãos, a Deus ou a nós mesmos. Quer dizer
que o nosso amor se torna, podemos dizê-lo, perfeito quando amamos em Deus.
Esse amor sim, dá vida, é altruísta e nunca põe em causa a vida dos outros. O
que não for assim vem do maligno.
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