Chegámos aos incríveis
tempos de ver as nossas igrejas cheias com muito pouca gente, e de ter que
aumentar o número de celebrações por forma a poder permitir a participação de
mais fiéis, passando pela necessidade de alguns sacramentos, os casamentos por
exemplo, terem de ser celebrados sem missa.
Não é isso motivo para
júbilo, bem pelo contrário, é ocasião que conduz à reflexão e a um interior
lamento por vivermos o que vivemos, nestes tempos em que nos sentimos
completamente à deriva, sem poder programar muito o amanhã porque nem no hoje
há a certeza de estarmos bem. O medo corta-nos as pernas no caminhar para o
encontro com os outros, corta-nos os braços fechando-os em si e impedindo-os de
se darem em abraços que limitem a dor da solidão e o sofrimento de não se
poderem sentir os sinais físicos do amor que é presença e contacto de comunhão.
De pernas e braços
tolhidos, das quase certezas de que o Natal será vivido de forma restrita, da
incerteza e medo de que os outros, ainda que seja um pequenino bebé a gatinhar
numa creche, sejas inocentes portadores de morte para nós ou para os que nos
são próximos, sentimo-nos vestidos de insegurança e não sabemos a que
agarrar-nos.
Deixámos Deus à margem
das nossas vidas precisamente quando nos sentíamos seguros nas certezas de nós
mesmos, no infinito poder da ciência e das coisas que, agora, nos fugiram de
debaixo dos pés, fazendo-nos tremer como artista que segue em corda bamba
equilibrado por uma vara que não se prende a nada que seja seguro. Voltarmo-nos
para Deus não será fácil, precisamente porque O atirámos para longe fazendo que
se tornasse um desconhecido. Os desconhecidos não nos dão seguranças, não os
conhecemos, não sabemos que garantias nos dão, que poder podem ter sobre os
males e medos que nos assolam.
O mundo falseia o que
são as suas certezas. Só Deus, mesmo que o não queiramos crer, pode preencher
os espaços de esperança e confiança que se esvaziaram em nós. A Missa é ponto
central, onde tudo se entrega, onde tudo se recebe, de onde tudo se leva. O
banquete está preparado, não recusemos o divino convite.