sábado, 10 de outubro de 2020

Banquete de Vida

Chegámos aos incríveis tempos de ver as nossas igrejas cheias com muito pouca gente, e de ter que aumentar o número de celebrações por forma a poder permitir a participação de mais fiéis, passando pela necessidade de alguns sacramentos, os casamentos por exemplo, terem de ser celebrados sem missa.

 

Não é isso motivo para júbilo, bem pelo contrário, é ocasião que conduz à reflexão e a um interior lamento por vivermos o que vivemos, nestes tempos em que nos sentimos completamente à deriva, sem poder programar muito o amanhã porque nem no hoje há a certeza de estarmos bem. O medo corta-nos as pernas no caminhar para o encontro com os outros, corta-nos os braços fechando-os em si e impedindo-os de se darem em abraços que limitem a dor da solidão e o sofrimento de não se poderem sentir os sinais físicos do amor que é presença e contacto de comunhão.

 

De pernas e braços tolhidos, das quase certezas de que o Natal será vivido de forma restrita, da incerteza e medo de que os outros, ainda que seja um pequenino bebé a gatinhar numa creche, sejas inocentes portadores de morte para nós ou para os que nos são próximos, sentimo-nos vestidos de insegurança e não sabemos a que agarrar-nos.

 

Deixámos Deus à margem das nossas vidas precisamente quando nos sentíamos seguros nas certezas de nós mesmos, no infinito poder da ciência e das coisas que, agora, nos fugiram de debaixo dos pés, fazendo-nos tremer como artista que segue em corda bamba equilibrado por uma vara que não se prende a nada que seja seguro. Voltarmo-nos para Deus não será fácil, precisamente porque O atirámos para longe fazendo que se tornasse um desconhecido. Os desconhecidos não nos dão seguranças, não os conhecemos, não sabemos que garantias nos dão, que poder podem ter sobre os males e medos que nos assolam.

 

O mundo falseia o que são as suas certezas. Só Deus, mesmo que o não queiramos crer, pode preencher os espaços de esperança e confiança que se esvaziaram em nós. A Missa é ponto central, onde tudo se entrega, onde tudo se recebe, de onde tudo se leva. O banquete está preparado, não recusemos o divino convite.