sábado, 30 de junho de 2018

O Passado no Presente

Para ninguém é duvidoso o facto de estarmos a viver a vida a uma velocidade vertiginosa. Parece-nos que o tempo passa rápido porque as coisas mudam permanentemente e nós, embarcados nelas, não temos tempo e ocasião para apreciar o tempo e a vida.

Estas gerações mais novas, porque nasceram já em tempos de alta velocidade, não se dão conta nem apreciam, como nós, as coisas do passado, que hoje, mais que nunca têm um gosto especial, com sabor a saudade.

Não pensamos, talvez, mas não é por acaso que dedicamos tanta atenção ao que nos ajuda a fazer memória do que vivemos e fomos. Recriamos uma feira antiga, não por necessidade, se bem que poderia ser muito útil a sua existência, mas pela beleza, o pitoresco, e o encontro de pessoas que as feiras proporcionava m nesse tempo. Temos carros sempre disponíveis e à mão de semear, mas não faltam os encontros de bicicletas ou motorizadas antigas, a que vamos dando nomes diferentes, para não parecer que é igual em todos os lugares, mas é, não deixando, no entanto, de ser muito interessante a relação que se estabelece entre os participantes, neste tempo em que não temos tempo, ou até temos mas fechamo-nos em casa a engordar redes de amizade virtuais.

Agarramo-nos a um certo passado, sentando sobre ele as memórias e a consolação que elas nos trazem, aquele passado que nos convém. Por isso nos tornamos grandes defensores da preservação daquilo que nos permite o reencontro com o que fomos no "nosso tempo", mas abdicamos e deixamos de lado, a morrer ou já morto, tanto daquilo que realmente fomos e que marca o que somos. Temos, ao menos, bases em que assentar esse ser que somos.

Aprendemos valores e a ser gente de verdade. Porque os tempos não eram fáceis, tomámos como desprezível aquilo que nos ensinaram a ser e não o transmitimos às últimas gerações, que, por isso mesmo, agora têm dificuldade em conseguir criar condições e ser aquilo que lhes permita olharem o futuro com confiança. Vivemos "mal", queremos que os mais novos vivam bem, e estamos a empurrá-los para um estado em que nem sequer sabem o que são. 

terça-feira, 26 de junho de 2018

É Preciso Mais...


Recordo facilmente como vivi uma infância assente em ritmos muito próprios e definidos. Nas aldeias, não imagino como seria nos grandes aglomerados populacionais, os dias dividiam-se claramente em dia e noite, sendo que um tempo era para trabalhar, brincar, e o outro para dormir, descansar. O ritmo do trabalho assentava em seis por um, seis dias para trabalhar e um para rezar e descansar. Por férias contavam-se pelo tempo que as escolas nos permitiam ficar em casa, sem aulas, tornando-se ocasião para os trabalhos que os pais se encarregavam de arranjar para os filhos, recheados ainda com o que da escola nos era mandado fazer nesse tempo de férias.

Os tempos e as mentalidades mudaram à velocidade do voo. Para muitos, as noites transformaram-se em "dia" e os dias em "noite". O pijama tira-se ao final da tarde porque se aproxima o tempo de sair da cama, ou do computador, e de casa. Claro que para muitos isto soa a exagero, e é-o, mas é a imagem do estilo de vida que esta sociedade vai assumindo.

Como se esbatem os tempos de trabalho e de descanso, se dia e de noite, esbatem-se também os "tempos" do mundo e os de Deus, como se esbate a diferença entre o bem e o mal. Estão aí os tempos de férias, tempos de uma maior dispersão das famílias, que procuram, na medida do possível, novas paragens para passar alguns dias.

Distantes ou por cá, muitos perdem o já pouco interesse que vão sentindo por Deus e pelas suas "coisas", como se de férias se tratasse também. Direi o que pode não ser entendido e, naturalmente, a muitos não interessa: o tempo de férias deve ser, porque é preciso ser, tempo de intensificação de oração e relação com Deus, na oração. A maior disponibilidade de tempo, os grupos dos amigos, as festas e festivais, o excesso nos consumos de álcool e drogas, o entusiasmo desmedido na condução, a falta de descanso, a falta de oração... aumentam, em muito, o risco de nos perdermos, particularmente os mais jovens, os nossos filhos, os filhos dos nossos amigos. É preciso mais oração por nós mesmos e pelos demais. Quanto mais precisamos menos tempo lhe dispensamos.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Coração de Mãe

O mês de junho é mês dedicado ao Coração de Jesus. Celebrámos na sexta, dia 8, o Sagrado Coração de Jesus, e no dia seguinte, sábado, o Imaculado Coração de Maria. O amor de dois corações que se celebra em união de dias. 

Quando falamos do Coração de Jesus, falamos do pleno sentimento de Misericórdia do nosso Deus, que se dá todo, até ao trespassar do seu coração, por nós. Falar do Coração de Maria é falar desse mesmo sentimento de misericórdia que Deus nos dá através de Maria, no seu coração Imaculado.

Coração Imaculado onde reside e se manifesta a plenitude do amor divino porque, em momento algum aconteceu a sua ausência, por não haver qualquer mancha de pecado. 

O coração de mãe é coração sofredor, não por si mesma mas pelo sofrimento passado, presente e futuro, que advirá como sequência das atitudes e decisões de seus filhos. Maria vive, connosco, intensamente, a nossa vida. O seu coração enche-se de alegria pelas vitórias que acontecem em cada um, sendo que vitórias são sempre as experiências de verdadeira felicidade e vida que se dão em nós. 

O seu coração enche-se de tristeza e mágoa quando, dentro da nossa liberdade, se dão, por opção e vontade pessoal, desvios do caminho e das propostas de felicidade e vida a que Deus nos chama.

Uma espada trespassou o coração de Jesus e uma espada trespassou a alma de Maria. Por alma entendamos a vida. Corações trespassados: o da Mãe e o do Filho. Corações  em intensa e profunda comunhão, sentindo um o que sente o outro, regozijando-se um com o que se regozija o outro, sofrendo um com o que sofre o outro, porque ambos são são corações transbordantes de misericórdia, corações que se desfazem de amor pela humanidade. Corações e vidas trespassados para que nossas vidas e nossos corações tenham espaço e lugar em Deus.

Num silêncio divino e profundo, somos atraídos ao coração da Mãe, que se faz caminho e ponte para o coração de Deus, onde, por fim, acontece Eternidade, onde acontecem a felicidade e o descanso eterno e pleno de Vida. (10-0-18)

Dor de um Coração de Amor

Sabemos, porque o ouvimos dizer e o dizemos que o coração é tido como a sede, fonte, onde nascem os sentimentos, como será nele também que os sentimentos podem morrer. Deixando para lá a certeza da ciência que nos diz que o coração é simplesmente um músculo, continuemos a vê-lo somo centro do amor e da falta dele, de força e ânimo e da falta deles. Por isso dizemos, e ouvimos dizer, que há gente com coração mole, gente com coração de pedra, gente com um coração de manteiga, gente com coração de fogo, gente com coração de ouro e até gente sem coração.

O que somos e mostramos na vida que vivemos, o bem e o mal que brotam de dentro de nós, o amor e o ódio que possamos sentir, atribuimo-los ao coração, que, sem descanso, bate dentro de nós. 

Dizem-nos, às vezes, que o coração não dói. Não vamos entrar por aí, deixar para lá o que nos diz a ciência, para sentirmos o que nos diz o coração. 

Deixemos que seja o coração ou não que dói e sente, para nos centrarmos na dor que nasce no peito de quem ama, aquela dor de mãe que sabe e sente a dor de um filho, que lhe faz bater acelerado o coração.

Fixemos o olhar naquele pai e naquela mãe que, se pudessem, dariam o coração por um filho doente. Quantos, durante o tempo de uma operação cirúrgica, embora o coração lhes bata acelerado do peito, esperam e aguardam com o "coração nas mãos".

Sabemos daqueles que, de dor, não suportam continuar a bater e morrem dolorosos pela dor de alguém.

Pode não ser o coração o culpado, mas é a ele que se lhes dão as consequências da culpa. Por isso, até nos "dói o coração" quando vemos o mal que era suposto nem acontecer.

Sendo pequeninos e tão limitados, sabemos o que é sofrer de coração com o sofrimento dos que amamos. E Deus? Se com infinito amor ama, que por isso deixou que Lhe trespassassem o coração, com infinito amor sofre, de coração, com o sofrimento dos filhos, que somos e sobre quem, infinitamente, derrama graças que, muitas vezes não acolhemos e, com isso, Nele provocamos dor. 

Em semana do Sagrado Coração de Jesus, aprendamos Dele o que é o Amor.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Admirável Mistério

É em Solenidade que a Igreja celebra o Corpo e Sangue de Cristo ("Corpo de Deus"). A sua presença é real nos sacrários das nossas igrejas, facto que nos permite habitual encontro cm Ele, mas neste dia, a próxima quinta feira, é com toda a solenidade que celebramos a sua presença no meio de nós. É com solenidade que O levamos em procissão percorrendo as ruas de algumas das nossas cidades, entre elas a de Leiria. 

Sendo grande manifestação de fé na presença real de Jesus na Eucaristia, pode ela tornar-se apenas um momento de religiosidade que encanta pela presença numerosa de fiéis. A nossa participação mede-se pela intensidade do nosso amor para com Deus, particular-mente pela sua presença na Eucaristia. o amor é a medida e a força que leva à participação e ao encontro com o Senhor. Claro está que a não participação não é, necessariamente, falta de amor, sobretudo quando há um qualquer impedimento que não nos permita estar presentes e celebrar.

Buscamos Deus, a Ele recorrendo, implorantes, querendo que faça parte de nossas vidas. Ele quer isso mesmo, mas ao seu querer te que haver o querer de cada um. Buscamos sofregamente o encontro com Ele, mas fugimos e evitamos os momentos, espaços e tempos, em que melhor se pode encontrar.
É imensamente grande o mistério da presença real de Jesus no Pão Eucarístico. Ele está tão vivo, real e verdadeiro, como está no Céu. Está sob a aparência do pão porque só a matéria pode por nós ser vista e sentida. Torna-se dificuldade para nós, mormente quando é fraca a fé, "senti-l'O" presente, mas o encontro pessoal, o diálogo íntimo e frequente, diante do sacrário levam a esse "sentir" e a uma inexplicável presença que transforma a vida.

Só este encontro pessoal pode levar e motivar a uma maior tomada de consciência da presença de Deus no mundo e em nós e da vida que acontece Nele. Só Nele descansa a nossa alma. Só nele têm sentido as vitórias e derrotas, os ânimos e desânimos, quem compõem nossas vidas.

Deixemo-nos entrar neste mistério do Amor de Deus, que quis ficar visível e  realmente presente no meio de nós. Embora a humanidade possa fazer da vida um inferno, somos felizes porque por Ele existimos e Nele vivemos.