Para ninguém é
duvidoso o facto de estarmos a viver a vida a uma velocidade vertiginosa.
Parece-nos que o tempo passa rápido porque as coisas mudam permanentemente e
nós, embarcados nelas, não temos tempo e ocasião para apreciar o tempo e a
vida.
Estas gerações mais
novas, porque nasceram já em tempos de alta velocidade, não se dão conta nem
apreciam, como nós, as coisas do passado, que hoje, mais que nunca têm um gosto
especial, com sabor a saudade.
Não pensamos, talvez,
mas não é por acaso que dedicamos tanta atenção ao que nos ajuda a fazer
memória do que vivemos e fomos. Recriamos uma feira antiga, não por
necessidade, se bem que poderia ser muito útil a sua existência, mas pela
beleza, o pitoresco, e o encontro de pessoas que as feiras proporcionava m
nesse tempo. Temos carros sempre disponíveis e à mão de semear, mas não faltam
os encontros de bicicletas ou motorizadas antigas, a que vamos dando nomes
diferentes, para não parecer que é igual em todos os lugares, mas é, não
deixando, no entanto, de ser muito interessante a relação que se estabelece
entre os participantes, neste tempo em que não temos tempo, ou até temos mas
fechamo-nos em casa a engordar redes de amizade virtuais.
Agarramo-nos a um
certo passado, sentando sobre ele as memórias e a consolação que elas nos
trazem, aquele passado que nos convém. Por isso nos tornamos grandes defensores
da preservação daquilo que nos permite o reencontro com o que fomos no
"nosso tempo", mas abdicamos e deixamos de lado, a morrer ou já
morto, tanto daquilo que realmente fomos e que marca o que somos. Temos, ao
menos, bases em que assentar esse ser que somos.
Aprendemos valores e a ser gente de verdade. Porque os
tempos não eram fáceis, tomámos como desprezível aquilo que nos ensinaram a ser
e não o transmitimos às últimas gerações, que, por isso mesmo, agora têm
dificuldade em conseguir criar condições e ser aquilo que lhes permita olharem
o futuro com confiança. Vivemos "mal", queremos que os mais novos
vivam bem, e estamos a empurrá-los para um estado em que nem sequer sabem o que
são.
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