Recordo facilmente
como vivi uma infância assente em ritmos muito próprios e definidos. Nas
aldeias, não imagino como seria nos grandes aglomerados populacionais, os dias
dividiam-se claramente em dia e noite, sendo que um tempo era para trabalhar,
brincar, e o outro para dormir, descansar. O ritmo do trabalho assentava em
seis por um, seis dias para trabalhar e um para rezar e descansar. Por férias
contavam-se pelo tempo que as escolas nos permitiam ficar em casa, sem aulas,
tornando-se ocasião para os trabalhos que os pais se encarregavam de arranjar
para os filhos, recheados ainda com o que da escola nos era mandado fazer nesse
tempo de férias.
Os tempos e as
mentalidades mudaram à velocidade do voo. Para muitos, as noites
transformaram-se em "dia" e os dias em "noite". O pijama
tira-se ao final da tarde porque se aproxima o tempo de sair da cama, ou do
computador, e de casa. Claro que para muitos isto soa a exagero, e é-o, mas é a
imagem do estilo de vida que esta sociedade vai assumindo.
Como se esbatem os
tempos de trabalho e de descanso, se dia e de noite, esbatem-se também os
"tempos" do mundo e os de Deus, como se esbate a diferença entre o
bem e o mal. Estão aí os tempos de férias, tempos de uma maior dispersão das
famílias, que procuram, na medida do possível, novas paragens para passar
alguns dias.
Distantes ou por cá,
muitos perdem o já pouco interesse que vão sentindo por Deus e pelas suas
"coisas", como se de férias se tratasse também. Direi o que pode não
ser entendido e, naturalmente, a muitos não interessa: o tempo de férias deve
ser, porque é preciso ser, tempo de intensificação de oração e relação com
Deus, na oração. A maior disponibilidade de tempo, os grupos dos amigos, as
festas e festivais, o excesso nos consumos de álcool e drogas, o entusiasmo
desmedido na condução, a falta de descanso, a falta de oração... aumentam, em
muito, o risco de nos perdermos, particularmente os mais jovens, os nossos
filhos, os filhos dos nossos amigos. É preciso mais oração por nós mesmos e
pelos demais. Quanto mais precisamos menos tempo lhe dispensamos.
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