terça-feira, 23 de junho de 2020

Uma Vida, um Vazio


Vivemos uma situação completamente fora daquilo a que estávamos habituados. Não sabemos até onde isto vai chegar, como será o dia de amanhã.

Vivemos a medo: uns sem medo e sem respeito, outros temerosos demais ao ponto de, penso eu, não arriscarem viver. A vida, que é vida, é um  risco. Cada  passo que damos é o  correr do risco de dar um passo em frente. Fecharmo-nos em casa, cobertos por uma manta de medo, é deixarmo-nos abafar e adoecer no mofo da falta de arejamento interior.

Sim, com cuidado e respeito por nós e pelos outros… mas é preciso abrirmos portas e coração para aquilo que nos diz alguma coisa.

Olhando as nossas celebrações, percebemos a redução para cerca de metade do que era habitual. Não é de estranhar e é para entranhar a realidade que isso manifesta. Acredito que o ficar em casa seja, em parte, medo e precaução. Compreenderia isso se acontecesse por aqueles que são “gente de risco”, mas a verdade é que são exatamente esses, os de mais idade que regressaram.

Não creio que, na grande maioria das situações, a razão de fundo para o deixar de participar passe pela precaução e o medo. Deixaram de participar os de meia idade, que ainda vinham a toque da participação dos filhos, mas esses deixaram de estar também. Não é preciso descavar muito para ir à raiz do problema e perceber qual o vírus que a ataca: a indiferença. Sim, a indiferença em relação a Deus, não digo às questões religiosas, que deixámos de ver e sentir como Pai, perdendo mo que é fundamental: a relação pessoal de nós com Ele.

Estamos perante a mais ténue das provações e já estamos a ceder em grande escala, retirando a Deus o pouco espaço que ainda Lhe dedicávamos. Como fino pó, entranha-se em nossas vidas a força que é ausência de Deus. A sujeira está aí mas ainda não a vemos porque lhe passamos um para de pó por cima, que deixa mais lixo ainda. Embora não parecendo, é muito cinzenta a vida sem Deus.