Quando vivemos num mundo quase sem fronteiras, onde a
velocidade dos aviões nos permite estar em diferentes países num mesmo dia, vemo-nos
numa situação em que, quase de um momento para outro, fronteiras se fecham, não
para controlar quem passa mas, simplesmente para não deixar passar;
Quando vivemos num tempo em que o dinheiro move o mundo,
vemo-nos, de um momento para o outro, a correr o risco de o mundo económico abater;
Quando vivemos no mundo a querer controlar, e a fazê-lo muito
já, quem pode nascer ou deve morrer antes de nascer ou depois de envelhecer,
vemo-nos numa luta mundial contra a morte ou o risco de morrer;
Quando vivemos num mundo a querer ir a Marte e sendo já conhecedores já
da profundidade genética do ser humano e de outros seres vivos, vemo-nos numa luta
desigual contra um ser “invisível” que alastra a uma velocidade louca e gera pânico
geral;
Quando vivemos num mudo que caminha para um estado de vida
que seja puro gozo, vemo-nos, de um dia para o outro, limitados à quase solidão,
controlados pelas autoridades, impedidos de muito mais gozo que aquilo que é
básico e essencial na vida.
Julgando-nos, nós humanos, inteligentes e controladores da
vida, do tempo e da história, vemo-nos paralisados, descontrolados, afastados
nas nossas relações, como q eu desconfiando de tudo e de todos, emudecidos
debaixo do medo de que o inimigo esteja no beijo que se dá a um filho, no
aperto de mão conciliador, na camisa daquele que, a nosso lado, poderia ir à
igreja rezar…
Quando passei pela Capelinha das Aparições, em Fátima, na
tarde do que seria um dia cheio de gente, encontro apenas uma dúzia de
pessoas sentadas, a segura distância, em bancos cheios de pó. Fez-me pensar em abandono.
Pensei que ao abandono a que a nossa sociedade vota Deus corresponde a liberdade
que Deus nos confere e oferece, deixando-nos ficar em nossas mãos porque é
nelas que pomos nossa confiança. Fez-me pensar na facilidade com que nos
afastámos das nossas igrejas, porque tivemos que afastar-nos uns dos outros.
Peço a Deus que não seja isso sinal de que nos afastamos d’Ele.
Continuamos a rezar em nossas casas, a participar das
celebrações da Eucaristia que os sacerdotes continuam a celebrar, pedindo a
Deus que todos o façam, mesmo aqueles para quem isso sempre foi impensável.
Faz-nos pensar que não estamos mesmo em nossas mãos e esperar
que aquilo que Deus permite seja, sem qualquer momento de hesitação, ocasião
para nos abeirarmos d’Ele. Não, não é momento para questionarmos Deus, ou a sua
justiça. É momento para, de alma e coração, e definitivamente, nos aproximarmos
d’Ele. O tempo urge!