quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Ainda é Natal


É Natal. Cada um o vive à sua maneira e medida. Para muitos não passará de um único dia, talvez uma noite. Para nos cristãos é um tempo que começa com o nascimento de Jesus e termina, apenas, na celebração da Festa do seu Batismo (este ano, no dia 8 de janeiro).
As celebrações na paróquia são vividas da forma habitual.No próximo domingo faremos o Jubileu das famílias, 24 casais que celebram bodas matrimoniais, já disseram estar presentes.

Ficam algumas fotos, de baixa qualidade, foram feitas com telemóvel. São o pre´sepio e a capela mor da igreja paroquial


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Noite de Silêncio

A noite é de muita, demasiada, azáfama. É noite de Natal e o silêncio impõe-se nas ruas. Tudo parece deserto. Mas o barulho não deixou de acontecer. Fechou-se dentro de portas, nas nossas casas, sentou-se à mesa e escondeu-se em papéis de embrulho que quando são rasgados fazem explodir expressões de gratidão, quem dera que não fosse falsa tantas vezes, para logo terminar no silêncio do travesseiro, se a comida e a bebida foram com sentido.

É noite de Natal, noite em que Deus nasce se encontra corações revestidos de acolhimento, como o foram as palhinhas de Belém. Não, não é a celebração do aniversário de Jesus, embora muitos, cristãos mesmo, o pensem e digam. É bom mesmo que não seja um simples aniversário, porque seria o mais triste de todos, por ser o aniversário de alguém que é completamente esquecido e atirado para fora da memória, da mente da grande maioria daqueles que, supostamente, o celebram. Eu não quereria tal festa e acredito que Deus também não.

Não foi por acaso que Deus se retirou do rebuliço da cidade, da estalagem e mesmo de numerosa família, para nascer. Só assim o poderia fazer em verdadeira festa e alegria, porque não foram humanos os cantares e as vozes que celebraram, mas divinas as vozes e espirituais os cantores. Só os pobres, os silenciosos da sociedade, nas pessoas dos pastores, aqueles que perante tal boa notícia pasmaram sem conseguir falar e diante da visão do Salvador fizeram nascer lágrimas de gratidão. Finalmente Deus veio salvar o seu povo.

A cidade continua em rebuliço, as estalagens empanturram-se de barulhos de música e luz na mira de conseguirem lucrar. E Deus continua a retirar-se para nascer, permanecer, crescer e viver, no silêncio. Não que não possa estar na confusa agitação, mas porque só entra e está onde for convidado e acolhido. A tal agitação e barulho interior preenchem tanto o coração que transbordam para a alma, e uma alma sem recatado silêncio não ouve nem acolhe Deus, porque Deus fala baixinho e atua em rumor, sem ressoar de tambores.


Talvez seja esta a noite para começar a fazer Natal, a esvaziar corações, a preparar as palhinhas da humildade, da oração... para o Menino nascer. (24-12-18)

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Maria em Espera

O que acreditamos é o que queremos, aquilo por que ansiamos e pelo qual lutamos. Conscientemente ou não, os desejos que temos, o sentido de vida e o caminho que percorremos, vão dar àquilo que é tesouro do coração.

Um egoísta concentra-se em si mesmo. Ainda que o seu olhar passe pelos outros, a profundidade e os fins de suas ações, embora possam parecer altruístas, não se dirigem senão a si mesmas, buscando e sentindo consolo no que faz. Quer consolação pessoal e para tal "serve-se" da ideia de fazer bem aos demais. Verdade que pode ter feito muito bem, mas fê-lo em autorrealização.

Um altruísta, aquele que sai de si para encontrar a felicidade dos outros, não busca realização pessoal, o que faz fá-lo com o sentido dos outros, mais ainda, com o sentido de Deus. Não se buscando a si mesmo, acaba por encontrar uma realização e felicidade interiores muitos maiores que aquelas que alcança atua a pensar em si mesmo. A verdadeira felicidade está, de facto e sem dúvida, no facto que fazermos que os outros sejam felizes.

Claro que é preciso estar-se atento e fazer da entrega de si mesmo um ato contínuo, tanto quanto o permitirem as nossas limitações e amor próprio. Fazer pelo outro é já largo caminho para se alcançar aquela felicidade por que profundamente se anseia. Fazer por Deus é caminho de perfeição, o único que realmente pode conduzir a esse estado de plena harmonia interior. Não, humanamente não se consegue, por isso o Céu começa a acontecer nesta vida, mas so se alcança após a morte.

Depois deste longo preâmbulo, talvez possamos entender um pouquinho mais o amor com que Maria se confiou à vontade de Deus: Ela, mais que ninguém, e isso recebeu-o de seus pais e como graça de Deus, ansiava a libertação, a salvação, da humanidade. tendo sido criada, sem o saber, isenta de qualquer mancha de pecado, vivia, por graça de Deus, em estado de perfeição, sendo a sua vida uma plena oferta de si mesma pela salvação de cada pessoa das garras da morte. Por especial dom de Deus esta salva e, naturalmente, queria (quer) a salvação de todos. Mais que qualquer um de nós, mais que todos nós juntos, esperou, ansiou e, por isso, Nela se realizou e aconteceu a salvação do género humano. (03-12-17)

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Em Espera

Se pararmos um pouquinho e tivermos paciência para esperar e pensar reparamos que a vida, por mais azafamada que seja, é uma espera, uma espera permanente do que, humanamente, nunca se alcança, porque é nosso anseio ter e querer sempre mais, ir sempre mais além daquilo a que já se chegou.

O Evangelho apontava-nos como exemplo e modelo as virgens prudentes a par com as insensatas (sem juízo), modelos a seguir e a não seguir, respetivamente. Porque o noivo chegou em tempo de atraso o azeite das almotolias de umas terminou e o das outras, as sensatas, não chegaria para todas, de modo a que aquelas não puderam, depois de haverem sido convidadas, entrar na festa para a boda. Ficaram de foram porque o noivo afirmou não as conhecer. Não eram o que pareciam ser.

O Céu, a eternidade, é o festim dos festins, a plena alegria que se viverá por toda a eternidade. A vida é o tempo de espera entre o convite para as bodas, a chegada do noivo e a entrada na eternidade. Estamos em plena espera, aguardando a chamada pessoal que acontecerá em algum momento, não sabemos quando porque o noivo virá a hora e dia que não sabemos. Importa que não nos encontre adormecidos. Se assim nos encontrar, é bom que tenhamos suficiente azeite, combustível, para a candeia que nos entregou ao criar-nos. Porque a vida é esta candeia que temos em nossas mãos e que somos chamados a manter acesa pelos pensamentos, palavras e atos com que alimentamos a chama que ilumina o caminhar.

A chegada do noivo é o chamamento e ordem a que entremos, apresentando diante do Senhor todas aquelas coisas com que enchemos nossos alforges e com que quisemos manter acesa a chama dessa candeia que é a vida. Ele retirará e destruirá tudo o que, depois de todas as limpezas operadas pelo sacramento da reconciliação, ainda houver para limpar e tudo destruirá no fogo da Sua misericórdia. Deixará então nossa candeia escancarada. Se for suficiente a bagagem de combustível para entrar na festa, Ele mesmo dará o que falta acabando de encher nossas medidas. Se não for suficiente retirará o pouco que tivermos para dar a outros e dirá "Não te conheço". "Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado" (Mc 4,25). Este é o tempo trabalhar pela salvação. (19-nov-17)

sábado, 18 de novembro de 2017

Tempo da Justiça

Falávamos de Misericórdia, na última semana, hoje pensaremos um pouco no tempo da Justiça de Deus, o "tempo" de purificação no Purgatório. Santa Faustina escreveu que Jesus lhe disse que o sofrimento do Purgatório não é do seu agrado, mas que a Justiça assim o exige.

Tentando compreender um pouco, pensemos que não mal que não tenha suas consequências e que tudo o que em nós ocorre que não seja vontade de Deus tem culpa e tem uma pena (castigo) a "pagar". A culpa, havendo arrependimento, será perdoada pelo sacramento da Reconciliação (Confissão), e deixará de existir. A pena continuará a existir, sendo amenizada, diminuída e apagada através da penitência, a conversão a Deus e a vivência de atos que Lhe sejam agradáveis.

Vamos supor que (em linguagem completamente terrena e contabilística) uma atitude minha tem uma escala de 5 pontos de maldade. Se me arrependo e confesso é-me perdoada a culpa, mas preciso de atitudes boas numa escala de 5 ou 6 pontos para superar o ato mau. Se tenho apenas 4 pontos de bondade é preciso que reponha ainda aquele 1 que falta, o que, depois da morte, acontecerá em Purgatório. Atenção que estamos a falar numa linguagem completamente inadequada mas para podermos pensar um pouquinho.

A alma que está no Purgatório não pode fazer nada por si, porque está a cumprir pena, podemos nós, como advogados, interceder por ela junto de Deus, o Juiz. Por outro lado ela pode, ainda que em "prisão", interceder, ser advogada, por nós junto desse mesmo Juiz. Não corte de relação entre as almas do Purgatório e Deus, como não entre nós e elas ou entre nós e Deus. As Almas do Purgatório  têm uma visão e aproximação de Deus infinitamente mais intensa que a nossa. Por isso mesmo também, o sofrimento de, em vida, O não terem amado é muito mais penoso que o nosso de não O amarmos agora.


Diremos que por muito que Jesus queira as Almas do Purgatório junto de Si na Glória, não Lhe "é possível" porque a Justiça Divina tem que cumprir-se e só seres "absolutamente perfeitos" podem contemplar a Santíssima Trindade em toda a sua glória e esplendor (12 nov 17)

sábado, 4 de novembro de 2017

Tempo da Misericórdia

Falando de Deus, falaremos sempre conforme as nossas capacidades e entendimento. Falamos de tempo e de eternidade: o tempo é o que medeia entre um momento e outro, a eternidade é o que não tem principio nem fim. Vivemos no tempo e, pela morte, seremos integrados na eternidade de Deus. Tivemos um princípio, fomos criados, não teremos fim, porque viveremos em Deus ou no estado de ausência de Deus.

Se o viver em Deus, o viver a que Ele nos chama e atrai, é de plena felicidade, o viver na Sua ausência é a plena infelicidade. Não conseguimos, ao menos, conceber a ideia do que é sofrimento, solidão, em plenitude, sem qualquer sensação de bem, como não conseguimos ter a ideia da felicidade plena, sem qualquer sensação de mal-estar. Fazemos apenas pequenas experiências de um e de outro estados. Um deles será definitivamente eterno para cada um.

É aqui que Deus intervém, querendo para nós o estado de pleno bem. Para que tal nos seja possível entregou o Seu Filho ao mais alto estado de sofrimento até, lentamente, chegar à morte. Fez o que, na sua Misericórdia, tinha que ser feito. Agora está em nossas mãos seguir um ou outro caminho, o da vida ou o da morte, sendo que na eternidade em que entraremos há "dois tempos", falemos assim para nos entendermos, um da Justiça divina ("temporário"), o da pena, o Purgatório, e um outro "definitivamente eterno": o Céu, a Vida, ou o Inferno, a Morte. Proximamente dedicaremos algum tempo ao "Tempo da Justiça". Agora falemos do tempo da Misericórdia, este em que vivemos.


Sendo tempo de escolha, de opção por aceitar ou recusar Deus, vamos acumulando frutos de bem ou de mal, e a "sentença final" vais sendo "escrita". Atua, então a Misericórdia divina na medida em que, depois de atos merecedores de consequências castigadoras, estamos ainda a tempo de reparar o atos maus com atos bons e de pedir a Deus que tenha compaixão e que, no seu Amor e perante o nosso querer não voltar a fazer o mesmo, ainda que a queda aconteça, uma, duas... mil vezes, nos perdoe e mude a pena a cumprir. Por misericórdia fá-lo-á e a "sentença" estará permanentemente a ser reescrita até ao momento da morte, até que termine o tempo da Misericórdia. (05-11-17)

domingo, 1 de outubro de 2017

Amar Sem Palavras

Richard Back deixou num dos seus livros uma frase que muitas vezes recordo e que muitas vezes me tem dado oportunidade para partilha de reflexão: "Quando uma mulher diz que me ama deixo de acreditar nela".

Trago, hoje, à luz do dia a expressão para a revestir com uma das parábolas  que apontam para a essencial diferença entre a palavra e a ação, o ser e o não ser. Dois filhos e o trabalho na vinha: um diz que vai mas não vai e o outros afirma não ir mas vai. Compreende-se, sem necessidade de grandes ações de raciocínio, que o que diz que não vai, mas que acaba por ir, não é homem de palavra, mas é-o de ação. Já o outro não o é de palavra nem de ação.

Somos uma sociedade de palavras, em que por tudo e por menos que nada, dizemos palavras, fazemos barulhos e temos reações que são facilmente percetiveis com manifestação de se não estar bem. Porque não concordamos, não aceitamos e porque não aceitamos, os outros têm que concordar e aceitar ser como nós somos e queremos que sejam. Daí nascem as críticas negativas, que em tempos idos passávamos de boca em boca e que, agora, colamos em redes chamadas sociais (que são, muitas vezes, anti-sociais) criando chafurda para que venham os outros deixar-nos palavras de concordância que nos farão sentir  quentinhos, aquecidos pelo consolo da opinião dos demais.

Somos mas não fazemos, não praticamos. Mais não é que dizer "vou" mas de facto "não vou". Somos homens e mulheres que dizemos amar mas não o sabemos dizer senão com palavras, deixando que as ações falem, por sim mesmas, e digam o contrário. Pode dizer-se, diz-se, da nossa falta de coerência cristã, mas com a mesma razão se diz do nosso sermos gente que vive em sociedade. 

Uma mulher não tem que dizer que me ama, diria Richard Back, isso pode aparecer como justificativa para a sua falta de amor. Eu preciso simplesmente ver e sentir que suas palavras, ações e reações, me digam no silêncio da sua linguagem que ela quer o melhor para mim e que o que faz tem em vista o meu bem. Então verei que me ama e ela terá tudo de mim.

Pegando no pensamento e elevando-o para além de nós mesmos perceberemos que em Deus assim é também. Tudo tem Dele aquele que O ama e nada Dele pode exigir aquele que O não traz no pensamento, na vida e na vontade. (01-10-17)

sábado, 16 de setembro de 2017

Mal Que Recai Sobre Nós

Uma, duuas, trêêês... e se tivermos conseguido chegar aí, é uma sorte muito grande, o passar além disso é obra divina, só pode mesmo ser. Quem de nós conseguirá ultrapassar o "às três é de vez" e perdoar uma quarta vez? Sendo o 7 um número que indica perfeição, o perdoar 70x7 é mesmo a plenitude de perdão. Usemos os meios que quisermos e não nos livramos do mandamento que nos manda perdoar sempre, sempre mesmo, à imagem e semelhança de Deus.

Ainda que seja preciso apenas uma vez, perdoar é sempre ato divino, é capacidade, força e graça que nos vem Dele.  Podemos, talvez encontrar mil e mais umas poucas de razões para não perdoar, esquecendo que sofre mais, bem mais, aquele que não perdoa que aquele que, tendo pedido perdão, não é perdoado. Vem geralmente a expressão do "perdoo mas não esqueço". Ótimo, isso é de dar graças a Deus porque esquecer não é perdoar é amnésia, e isso é doença. Perdoar é lembrar sem ficar magoado, ferido. 

Acerca de Deus há algo que é importante ter em conta: Deus perdoa sempre. sabemos isso. Esquece? Não. Nós não esquecemos e, magoados, vamos contabilizando as vezes que perdoámos. Estragámos tudo: ao contabilizar mostramos não ter perdoado. Deus perdoa, e perdoa de vez, mas... a pena continua lá. Vamos entender: se me dão uma bofetada, eu posso perdoar a bofetada, como se não tivesse existido, mas isso não retira a dor (a pena) e é preciso que o outro repare o mal. O perdão exige, naturalmente, a reparação: "a reposição do bem". Não é perdoar e deixar que tudo continue na mesma.

Deus perdoa sempre, é certo, mas pode não acontecer sempre o perdão: acontece apenas quando há arrependimento, emenda ou, ao menos, desejo de emenda de vida, conversão. Pedir perdão é também comprometer-se a repor o bem.

Sem pensarmos sequer no mal que fazemos, procuramos ocultá-lo e a culpa que conscientemente recai sobre nós atiramo-la para cima do outro, fazendo, assim, com que aquele que é nossa duplique. Mal sobre mal a recair sobre nós mesmos.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Sem Amor Perfeito

A palavra é uma, os sentidos são muitos, a sua utilização é de vezes sem conta. Tanto, e tão mal, utilizada é que se lhe perdeu o sentido. E amor passou a designar tantas coisas que acabou por definir até o que lhe é profundamente oposto. Um ato de amor perde a sua pureza amorosa quando é marcado por algum interesse, por mais pequenino que possa ser.

Percebemos que não há um ato de puro amor humano. Por muito que amemos e o queiramos fazer com puro altruísmo, perturbamo-nos se percebemos um ato menos grato da parte da pessoa amada. A mãe ama e tudo faz por seu filho mas chega a cansar-se de tanta  vez o fazer. Aí, perde parte do amor com que amou. A enfermeira cuida com o maior carinho deste mundo o doente que lhe está confiado, mas pensa no ordenado que lhe é confiado no fim de um mês de trabalho. Porque "não há almoços grátis" o convite para "beber um copo" espera sempre um ato de recompensa. Puro só o amor com que fomos, e somos, eternamente amados por Deus, que não precisa de nós, a Quem não acrescentamos nem retiramos nada porque Ele é o Tudo. Ama-nos em perfeito ato de amor porque tem em vista unicamente a nossa felicidade. Se ela é posta em causa ou em risco isso deve-se só a nós.

Porque não amamos perfeitamente, vamos deixar de amar? Não, precisamos teimar em amar sempre mais e melhor. Aqui está a questão: eu não amo em ato puro, não aceito o outro em ato de pura aceitação: Como, então, conseguir? Aqui entra Deus, que preenche com seu infinito amor o que falta em mim de amor e de aceitação. Daí que a salvação seja ato de Deus, em dom que exige de mim aquilo que eu posso e consigo ser. Tenho eu que fazer e dar o que posso, não podendo deixar de o fazer porque o dom de Deus não preenche o que me compete a mim preencher, sendo que o que faltar é sempre ato de ausência da minha parte.


Não, não amamos perfeitamente, mas porque somos amados em perfeição, Deus supre e completa o que não somos capazes de fazer, no ato de amar os irmãos, a Deus ou a nós mesmos. Quer dizer que o nosso amor se torna, podemos dizê-lo, perfeito quando amamos em Deus. Esse amor sim, dá vida, é altruísta e nunca põe em causa a vida dos outros. O que não for assim vem do maligno.

sábado, 26 de agosto de 2017

Por Linhas Direitas

Diz-se que "quem nasce torto tarde  ou nunca se endireita". Já de Deus, diz-se que "escreve direito por linhas tortas".

Tortos, bem tortinhos, nascemos nós, uns mais que outros, dependendo da planta de onde rebentámos, mas também da educação que recebemos, o ramo em que fomos enxertados. Alguns teremos sido "enxertados em corno de cabra", tal a "tortice" que nos vai dentro.

Deixemos o grande leque de pessoas  mais ou menos tortas ou direitas que possamos ser e acreditemos que ninguém, nenhum de  nós,  está,  à partida, condenado a ser  eternamente torto. Cuidem-se os  direitos para que não caiam e tortos se tornem.

Adentrando-nos um pouco na história do Povo de Israel, que, no fundo, é a história de cada um de nós, ficamos de olhos arregalados pela forma "reta" como Deus "construiu e escreveu" séculos de vida de um povo que persistia em manter-se caminhando segundo "linhas tortas". Duas pinceladas de tinta, apenas, para pensarmos no quanto isto é verdade: nas origens, depois da desobediência vem, imediatamente, a certeza de que a Descendência da Mulher esmagará a cabeça do Maligno; a inveja dos filhos de Jacob leva-os a vender o irmão mais novo, o José, que, indo parar ao Egipto, se tornou-se ministro do Faraó,  e livrou da morte, pela fome, a sua família, que cresceu numerosíssima no Egipto. Depois vem a história da vida "oculta" de Moisés e a libertação do Povo através dele. A história de Rute, mulher estrangeira, de quem nasceu Obed, avô do Rei David.

Demos um salto até João Batista e Jesus, e sintamos como em momentos cruciais da história de um Povo, Deus opera a salvação.

Agora, entremos na nossa vida para, com atenta verdade, olharmos as maravilhas que Deus vai escrevendo em nossas vidas, tão distantes Dele, muitas vezes. Pode-mos não ver muito porque tortos são nossos olhares e nossos sentires de coração.

Felizes aqueles que podem apercebe-se de Deus presente em suas vidas.
É nossa a história do Povo de Israel...

                                                                                                                                26 agosto 2017

sábado, 19 de agosto de 2017

Acordo Necessário

Tiro e Sidónia são duas bonitas cidades a sul do Líbano, nas margens do Mediterrâneo, bem próximas do atual Estado de Israel. Também por aí Jesus passou anunciando a proximidade do Reino de Deus.

Uma cananea, sendo que Cananeus e Judeus eram figadais inimigos, vem atrás de Jesus a gritar pedindo que cure a sua filha "cruelmente atormentada por um demónio". Jesus atende-a porque os discípulos insistem que o faça, porque ela não se calava.

A reação de Jesus não foi propriamente a mais acolhedora (os Judeus tratavam os inimigos por cães). A mulher não se ofendeu e deu "luta" retribuindo com uma atitude de acordo com Jesus: "É verdade, Senhor...". Apresenta-se a Jesus com toda a humildade, mas com profunda fé e confiança. Não quis tudo, não exigiu de Deus. Pediu "migalhas", um pedacinho só. Consciente de que não era do seu povo, pediu pouco. Recebeu tudo.

Jesus foi "vencido". Porque lhe encontrou muita fé, fez-se como ela desejava. Deus é assim mesmo, dá tudo e dá-se todo a quem, com fé, a Ele se confia e pede um pouquinho. É assim mesmo a oração. Orar é estar de acordo com Deus. Queiramos ou não, Ele tem sempre razão e tudo conhece, por isso, se "desfaz" apenas no que é bom e no que é melhor. Deus deixa-se vencer por pouco e com pouco, contanto que estejamos de acordo com Ele na sua vontade.

Pode, por outro lado, ser bom o que queremos e pode Deus querê-lo também e, no entanto, não o conceder se não lho pedimos. Como lho pediremos se não pararmos em oração?

Claro que Deus sabe o que precisamos e queremos, mas não faz por fazer, quer a nossa tomada de consciência de que precisamos e Dele dependemos. Deus é altamente cavalheiro: cria em nós o desejo de Si, mas não se impõe, entra em nossa casa e em nós se for convidado e se Lhe forem abertas as portas em atitude de acolhimento. Orar é isso mesmo: querer o que Deus quer, acolhê-Lo em nós e apresentar a nossa vontade à Sua, para que ambas se tornem uma apenas.

                                                                                                                19 agosto 2017


                                                                                               

sábado, 12 de agosto de 2017

Vida de Glória

De forma "ligeira" vamos até ao Livro dos Génesis para percebermos que a morte é consequência do pecado (Cap 2,17). Para aqueles que acreditam em Deus, o Deus verdadeiro, há "três" vidas e uma ou duas mortes. Não, não falo de reencarnação, essa não acontece. Falo 1) de vida humana, que tem um começo e um fim; 2) de vida espiritual, que tem um começo (somos corpo e alma), mas não tem fim; 3) de vida divina, que tem um começo, no Batismo, e pode ter um fim, se acontecer a condenação. Esta, a condenação, é terrível e, ela sim, é a consequência do pecado. Além de terrível é eterna. O Livro do Apocalipse, no capítulo 20, fala de uma primeira e de uma segunda morte, de uma primeira e de uma segunda ressurreição.

Na próxima terça feira, dia 15 (agosto 2015), celebramos a Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Nela não aconteceu o pecado, por isso não aconteceu a morte. O seu corpo, terminado o "tempo físico", foi, glorioso, elevado ao Céu.

Este é o fim a que somos chamados: a vida na Glória, com Deus. O pecado faz parte intrínseca de cada um de nós, nascemos com o pecado, a que chamamos de original. Por ocasião da morte do nosso corpo, seremos julgados e a alma será levada para a Glória, para a Purificação ou para a condenação, consoante o que buscámos ao longo da nossa existência terrena.

Acontece que somos corpo e alma e Jesus salvou tudo em nós, não apenas a alma. No Credo professamos acreditar que Jesus há de voltar para julgar os vivos e os mortos e professamos também acreditar na ressurreição da carne. Quer dizer que haverá um segundo julgamento. A alma unir-se-á ao corpo espiritual e, em julgamento final, será dada à pessoa (corpo e alma) a Vida ou a Morte. Esta será a segunda morte ou a segunda Ressurreição de que fala o Apocalipse.

Maria foi concebida, Imaculada, para dar Deus à humanidade e assim, por seu intermédio, aconteceu a nossa salvação. Agora, do Céu, Ela nos atrai e chama para  dar a Humanidade a Deus. Ela é um "encurtar caminho", porque é Mãe,  para chegar a Jesus e, por Ele, ao Pai.
Percebemos por que a invocamos de Senhora da Boa Morte. Porque nos atrai a uma santa morte, do corpo, em Deus, para que Nele haja Vida de Glória para nós.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Um Burro Inteiro


São João Maria Vianney, nascido em 1786, no sul de França, foi um grande santo, mas intelectualmente era um estudante muito fraco. Em determinada ocasião,no seminário, de onde foi mandado embora, por não conseguir aprender,  o responsável disse-lhe: “João, os professores não o consideram apto para a sagrada ordenação ao sacerdócio. Alguns chamam-lhe ‘burro que nada sabe de teologia’. Como podemos promovê-lo ao sacramento da Ordem?”.

A resposta que São João Maria Vianney lhe deu tornou-se célebre: “Monsenhor, Sansão matou cem filisteus (foram mil, ver Livro dos Juízes 15,15-17) com a queixada de um burro. O que acha que Deus poderia fazer com um burro inteiro?”.    

Esta é a verdadeira confiança em Deus. São vários os aspetos a considerar: o sentir-se pequenino diante de Deus (um burro inteiro); a confiança de que Deus atua, também, nos fracos; e a mais importante: a obra e a ação são de Deus, não nossas. É Ele que opera em nós e através de nós (O que acha que Deus poderia fazer...).

Naturalmente, é de profunda importância o canal por onde passa a graça. Não passa graça o canal que não está em graça. O sacerdote é, por natureza do seu chamamento, canal "especial" de graça de Deus para a humanidade. A graça não depende dele mas poderemos dizer que a a "quantidade", a "qualidade" e a "eficácia" da graça dependem do seu estado de fidelidade. Quando digo que é canal "especial" é porque é chamado e enviado por Deus, atuando in persona Christi (na pessoa de Cristo), na administração dos sacramentos, particularmente nos da Eucaristia e da Penitência. Não são seus, nem obra sua, mas sem eles, os sacerdotes, estes sacramentos não acontecem.

Se a ação da graça de Deus depende, em certa medida, do canal por onde passa, ela depende essencialmente de quem a recebe. Aqui sim,  ainda que Deus derrame toda a graça, ainda que os canais sejam os mais perfeitos, se o recetor não estiver em ato de acolhimento, tal ação é nula. Porque batizados, todos somos recetores e canais da graça para os outros. Ela passa pela santidade de vida, não pela sabedoria da mente. Quanto Deus podia fazer se estivéssemos ao Seu dispor para que atuasse em nós e por nós!...

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Já Não é Segredo

Na descrição da terceira parte do segredo revelado por Nossa Senhora, em julho, a Irmã Lúcia diz: "Depois ... vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa 
Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: Penitência, penitência, penitência." 

Ao pensarmos na Mensagem de Fátima corremos o risco de não ir mais longe que sabermos os nomes dos videntes, a data das aparições e que Nossa Senhora pediu que rezássemos o terço. Talvez nem, ao menos, o terço sejamos capazes de rezar.

Lancemos o olhar sobre o o texto inicial: um Anjo com uma espada de figo na mão a lançar chamas sobre a terra. Temos dúvidas de que é sinal de que Deus fará justiça ao mundo dando-lhe aquilo que merecemos pelo pecado em que o mundo, a humanidade, vive? A chama apagava-se no contacto com o brilho que saia as mãos de Nossa Senhora. Temos dúvidas de que é sinal de que Nossa Senhora nos está a proteger e a "segurar" a mão de Deus, dando-nos mais tempo para a conversão? Temos dúvidas de que Nossa Senhora é Mãe que protejo os filhos dos "castigos" do pai? O Anjo apontava para terra e com voz forte dizia: penitência, penitência, penitência. Temos dúvidas de o tempo que nos está a ser dado exige penitência, conversão, abandono dos caminhos do pecado? Temos dúvidas de que a repetição da palavra é sinal da gravidade da situação? Com voz forte. Temos dúvidas de que o tom de voz aponta severidade e exigência de que assim se faça? Sim Deus é um Deus Misericordioso, mas a misericórdia cumpre-se na Justiça.

Em 100 anos passados que transformação houve nos caminhos que a humanidade tem percorrido? A humanidade está a desintegrar-se cada vez mais e a sua entrega aos poderes do mal é cada vez mais claro e evidente. Deus continua a ser profundamente ultrajado. Estamos à espera de quê para mudarmos de vida e nos voltarmos para Deus, com confiança, acolhendo e aceitado as propostas de caminho que nos faz. Não, não é para termos medo, é para tomarmos consciência  da situação da humanidade e da pessoa que cada um de nós é.

sábado, 15 de julho de 2017

Ser Homem, Ser Mulher

Dão fruto, as sementes, conforme a qualidade que têm, a qualidade do terreno onde semeadas forem, e o cuidado a ter com o terreno e com as sementes. Não é novidade nenhuma que assim seja, que se colhe o futuro do que se semeia.

A notícia saiu nestes dias: no Metro de Londres os avisos já aos serão dados a "ladies and gentlemen" (senhoras e senhores) mas a "Hello Everyone" (Olá a todos). Porquê? Para que a saudação seja de género

terça-feira, 16 de maio de 2017

Jesus, uma Autoestrada


Mais que um simples caminho diria que Jesus é uma verdadeira autoestrada por onde circulam nossos corações, como se de automóveis vermelhos se tratasse. 

Estrada   ------------------------

Autoestrada
Separadores centrais e protetores laterais Automóvel
Saídas
Postos de abastecimento
Combustível
Restaurantes
Placas de trânsito

Carro fraco em bom caminho chega longe, mesmo devagar; carro bom em caminho mau pode não chegar a lado nenhum, se o caminho o não permitir. 

“Caminho”, via rápida, única, sem buracos, lombas ou cruzamentos. Controle de velocidade mínima e máxima.

Com separadores centrais e barras laterais, protetores que geram confiança nos que nelas passam e ajudam na condução segura. Seguindo as regras avança com segurança, sem risco de perda ou acidente. 

Os excessos de velocidade, o não cumprimento das regras de trânsito, levam a que separadores e protetores sejam barreiras que provocam acidentes e mortes. 

Caminho com um único sentido, o sentido inverso faz-se por vias opostas. Não se passa “automaticamente” de um para outro. 

É preciso sair e voltar a entrar. Prestar atenção máxima às indicações, para não perder a entrada, o sentido a tomar e a saída desejada no destino. 

A existência de postos de abastecimento a espaços regulares para que os veículos possam ser abastecidos rolar sem percalços e paragens desnecessárias por falha de combustível. Pneus calibrados mantêm adequada aderência à estrada. 

Áreas de descanso permitem relaxamento de músculos, alívio do sono e stress gerado pela velocidades, pelo cuidado a ter na condução, pelo cansaço que gera irritabilidade e torna mais perigosa a condução. 

Porque são longas as distâncias, é preciso que de espaços a espaços haja lugares e momentos para recuperar forças físicas através de uma refeição, momento de os ocupantes do veículo, e da mesma estrada, se olharem olhos nos olhos e partilharem risos, alegrias e dores, encantos e desencantos.

Não deve pôr-se a caminho um automóvel com danos internos de motor, e sem todos os óleos, necessários e líquidos de sistemas de arrefecimento, sem garantias de poder vir a chegar ao fim da viagem. Por mais polida e encerada que esteja a chapa, se o motor não for observado, cuidado, reparado, por um bom mecânico, de um momento para o outro gripa e toda a viagem se perde. Só um automóvel bem cuidado, ainda que riscado e amolgado chegará ao fim da longa viagem. 

Pode conduzir-se na faixa da direita, ainda que seja proibido, mas não fazer-se no meio da autoestrada, os separadores centrais estão lá e não nos deixam fazê-lo. Ou vamos num sentido ou vamos no outro.

É caminho, que não vai a lado nenhum, fica estático, para ser percorrido.

“Eu sou o Caminho”, é a resposta de Jesus à pergunta de Tomé: “Não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho? (Jo 14,5). Em 1Pedro 2,6-8 lemos: “Vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa; e quem nela puser a sua confiança não será confundido». (…) Para os incrédulos, porém, «a pedra que os construtores rejeitaram tornou se pedra angular», «pedra de tropeço e pedra de escândalo». (note-se que é liturgia da Palavra do V Domingo Pascal do Ano A).

E jeito de paráfrase comparativa


Jesus   ---------------------------

Caminho
Pedra de confiança e de tropeço
Coração 
Conversão 
Sacramentos 
Oração 
Eucaristia 
Palavra de Deus 

Questionadas algumas crianças sobre o que é mais importante para chegar longe, se um bom caminho se um bom carro, a resposta foi direta e sem hesitação: o caminho. 

Jesus não se compadece com meias medidas: Quem não O preferir a tudo o mais, não é digno de ser seu discípulo. 

Pedra angular, escolhida, preciosa, única para garantir que se chega a bom porto, sendo que o lugar em vista é a eternidade, no Céu. “Quem nela puser a sua confiança não será confundido”, segue no caminho certo. 

“Pedra de tropeço e pedra de escândalo” para os incrédulos. Porque não acreditaram na sua Palavra. A Palavra ajuda a discernir entre o bem e o mal, a vida e a morte. 

Quem não é por Jesus é contra Ele. “Quem não está comigo está contra mim; e quem não junta comigo, dispersa” (Lc 11,23).

A Conversão, a mudança de sentido dado à vida , acontece na meditação, na descoberta do Pai, no abandona das vias do pecado e no acolhimento da vida da Graça. 

Caminhar em Jesus exige paragens momentos regulares de frequência dos sacramentos para que não esmoreça a fé e não se deixe vencer pelo desânimo. A oração pessoal é elo que mantém a pessoa em comunhão relacional com Deus. 

A meditação, o silêncio, o retirar-se do dos afazeres constantes, do stress e dos barulhos interiores, levam a uma tomada de consciência de que estamos em Deus, fonte segura de tranquilidade e paz. 

A Eucaristia, o entrar no Mistério da paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, vivida na união de toda a comunidade e na comunhão do Corpo e Sangue de Jesus, é fundamento sem a qual não há vida. Quem crê não caminha só, fá-lo em comunhão de vida com os outros que percorrem o mesmo caminho. 

Um coração desesperado, um coração que não esteja envolto e lubrificado com a força do Espírito, com a certeza do Amor de Deus, não consegue caminhar. Se envolvido no egoísmo do pecado, por mais que brilhem os óleos de beleza corporais, por mais que se cuide da imagem exterior, é coração que estoura porque lhe falta a vida. Só a Misericórdia Divina garante que uma vida, mesmo escurecida pelo pecado, levará o Homem à alegria plena no fim ddesta caminhada na terra. 

Pode seguir-se o mal, ainda que não aconselhável, mas não pode andar-se com Jesus e contra Ele. Está lá o “Sim, sim; não não” (Mt 5,37). Por isso é que não há católicos “não praticantes”.

É caminho que caminha com o caminhante e com ele faz caminhada.

16-5-2017

domingo, 14 de maio de 2017

Temos Mãe!

Um "Temos Mãe!" repetido e emocionante do Papa Francisco na homilia deste dia 13 de maio, pode ser a base para o desenvolvimento do temas da Semana da Vida, a decorrer de hoje até ao próximo domingo. O tema é "Com Maria Cuidar da Alegria da Vida". Não há vida sem que haja uma mãe. Vivendo num tempo de profunda cultura de morte, somos desafiados a encontrar em Nossa Senhora os motivos e as razões para sentir alegria por em viver. Nascemos para viver. Se a morte do corpo faz parte da condição humana, a vida em eternidade faz parte da condição divina de que, pelo Batismo, participamos. 
Parece termos medo de viver e por isso, com diabólica ligeireza praticamos a morte, fazendo passar a ideia de que nela há bondade e bem. Tornamos legar a morte, a começar no aborto, julgando poder ilibar esse que é o mais graves dos crimes da culpa que lhe é inerente, sem nos consciencializarmos de que são de morte para nós as consequências da morte que causamos, particularmente aos inocentes.
Em Maria aprendemos a ser filhos, mães e esposas. Porque a vida humana é dom, um dom inviolável, o dom maior e mais belo que qualquer criatura pode ter e por que anseia, dom divino que razão nenhuma pode justificadamente destruir.
"Temos Mãe!". É belo e profundo o sentimento que estas duas palavras, quando entendidas, nos transmitem. "Ainda que uma mãe possa esquecer o filho que amamenta? (...) Ainda que ela o esquecesse, Eu nunca te esqueceria", é Palavra de Deus em Isaías 49,15. Porque se fez Homem, Deus teve uma Mãe. Essa mesma Mãe que, no momento da morte na Cruz, Ele nos deu, elevando-nos à condição de nos tornarmos "filhos da Mãe de Deus". Temos realmente Mãe, Mãe com letra grande, a mais excelsa de todas as criaturas. Se temos uma Mãe que é Mãe de Deus, temos uma Mãe que nos atrai, nos guia, nos aponta o caminho do Pai, de Deus e da sua Glória. Temos Mãe!" ou seja: "Temos Vida". Porquê continuarmos e a desperdiçá-la, a destruí-la, a perdê-la? É tão belo viver! E viver eternamente...

domingo, 23 de abril de 2017

Pastorinhos da Misericórdia

O domingo é, hoje (23-04-2017), de Pascoela. Este, o domingo depois da Páscoa, é Domingo da Misericórdia. Instituído por S. João Paulo II reforça o sentido e a certeza do Amor Misericordioso de Deus pela humanidade a atrai para Ele cada um de nós humanos. A hora da morte de Jesus (as 3 da tarde) é hora da Misericórdia, porque esse é momento de morte para Jesus, momento em que "abdica" de si mesmo e se confia nas mãos do Pai levando ao extremo o seu Amor, para que o seu aniquilamento fosse vida, momento de início de eternidade para nós.

Temos medo, repugna-nos o falar de sofrimento, de entrega de "perder a vida" porque o mundo nos ensina que temos que a ganhar a todo o custo. Somos cristãos e acreditamos que a Vida verda-deira a recebemos como dom e na medida em que confiamos esta, que é terrena, nas mãos de Deus, por seu Filho. Ele morreu por nós e vivendo  Nele a nossa vida torna-se Vida Divina. Só morre quem pelo caminho da morte optar.

Olhando os Pastorinhos de Fátima aprendemos  que, porque deixaram de viver para si mesmos, eles estão no Céu desfrutando da Vida plena, essa que não tem fim, essa que é total e absoluta. Vemos neles o coração misericordioso de Deus. A Jacinta, disposta a viver mais tempo para "sofrer mais pela conversão dos pecadores" acolheu uma vida de sofrimento pondo-o todo nas mãos de Deus, para que a vida que vivia fosse ato de entrega não de si, mas dos que ofendem a Deus. Era tal o seu amor para com os pecadores, e o desejo de que não se condenassem, que a curta vida que viveu neste mundo foi plena e agradável a Deus, não por ser de sofrimento, mas por ser de entrega total. O Francisco o pequeno gigante da contemplação viveu a sua, também  curta, vida terrena num ato total de reparação, de "consolar a Deus Nosso senhor", fazendo tudo, amando tudo, tanto quanto podia, por amor a Deus "que já está muito ofendido". 

Vamos sentir e dizer que a Jacinta ama Deus e os pecadores, querendo que estes não se percam, e o Francisco ama os pecadores e Deus, querendo que Este seja amado e glorificado porque é Deus e porque toda a glória lhe pertence.

domingo, 9 de abril de 2017

Não Ofendam Mais

Hoje o domingo é de "Ramos na Paixão do Senhor". Podemos não nos dar conta, mas falar de paixão é falar de sofrimento, de dor, de morte. Habituados que estamos a viver as coisas muito superficialmente, não é com facilidade que conseguimos entrar um pouquinho no mistério do sofrimento de Jesus. Não entramos no facto de todo o seu sofrimentos, em entrega de vida, ter acontecido por nós, por mim, para nos libertar das consequências do pecado, a morte eterna. Ele recuperou-nos para a vida.

"Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido". Este é mais um pedido, uma súplica, de Nossa Senhora, na aparição de setembro em Fátima. Quanto cresceram em ofensas em quantidade e gravidade! Consta que morreríamos de pavor se pudéssemos contemplar, ver, as ofensas com que cada um de nós ofende o infinito Amor de Deus, nós que somos cristãos e muitos dos quais ousam dizer "não tenho pecados". Pensemos nos pecados da humanidade e no quão facilmente nos identificamos com eles.

Para glória de Deus, bem nosso e da humanidade, à urgência de conversão, para não ofendermos mais a Deus, acresce a urgente reparação pelo pecado, o nosso e o de toda a humanidade. É com este apelo que se marca o início das Aparições em Fátima. Na 3ª aparição do Anjo ele reza com os Pastorinhos: "Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores". E o Anjo continuou, depois de lhes dar a comunhão: "Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolei o vosso Deus".

A semana que iniciamos é de profunda meditação e tomada de consciência da necessidade de glorificar Deus, e de Lhe confiarmos a vida, nos sacrifícios que tem, tornando-Lha agradável. Entregar-se a Deus, no sacrifício e na oração, nunca é demais. É preciso fazê-lo por nós, e por aqueles que o não fazem.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Quem Vive Não Morrerá

“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?” (Jo 11,25-26) As afirmações e a pergunta de Jesus fazem parte do diálogo com Marta, por ocasião da ressurreição de Lázaro.

No profeta Ezequiel lemos: “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar…” (Ez 37,12). Professamos, no Credo, a fé na descida de Jesus à mansão dos mortos. O pecado tinha reduzido o ser humano à condição de condenado à morte, uma morte eterna, cortando-lhe a possibilidade de total comunhão com Deus, a possibilidade da eternidade no Céu, para a qual havia sido criado.

A ação de Deus, na entrega do Filho para reverter a situação do Homem, altera o rumo que este escolhera ao optar pela rejeição do Criador na original tentação demoníaca.

A oferta que Jesus, o Homem-Deus, faz de si, da sua vontade, da sua vida, ao Pai recupera a humanidade para a vida junto de Deus, deixando no ser humano a opção de escolha. Entre o bem e o mal, a vida e a morte, a decisão está nas suas (nossas) mãos.

“Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá”. Na morte de Jesus cumpre-se a profecia de Ezequiel e torna-se clara a sua afirmação à Marta, em Betânia. No morrer do corpo a alma entra na morte. Entenda-se por morte da alma, porque o é, o estado de ausência de Deus. Sendo que a alma não morre, “vivia” em estado de morte porque longe de Deus, uma vez que não tinha lugar junto Dele, em consequência do pecado. Ao morrer, Jesus entrou na morte, na “mansão dos mortos”, mas porque é Deus abriu as portas de saída e, ao ressuscitar, retirou dela todas as almas que, tendo vivido em comunhão com Deus, esperavam o momento da redenção para serem elevadas ao céu. “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar”. Aconteceu: um Homem-Deus entrou na morte e o mesmo Homem-Deus venceu-a ressurgindo dela. A morte foi vencida, satanás perdeu. Por isso tanto se afadiga por, na recuperada liberdade dos seres humanos, os atrair a si.

“E todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá”. Porquê? Porque as portas da morte estão fechadas para aqueles que acreditam e vivem em Jesus. Continuam abertas para aqueles que, conhecendo Deus, O recusam nesta vida terrena, que é “sala de espera” da eternidade. Compreende-se assim, que a morte do corpo seja passagem para Deus. O corpo morre mas a alma “nunca morrerá” porque não entra na “mansão dos mortos”, o seu lugar é nas “moradas eternas de Deus”.

Questionamo-nos sobre o Purgatório. Sem ser morte da alma, é uma experiência de morte, porque, tendo já visto Deus em todo o seu Esplendor, ela se vê apartada Dele, mas por um “tempo determinado” – uso a palavra tempo para me poder exprimir – e tendo já a certeza da vida em Deus.

Porque a Vida é absoluta vivência de comunhão de Amor. Já a morte, por seu lado, é absoluta falta de esperança e pleno desespero, absoluta falta de amor e plena vivência de ódio, absoluta falta de relação de comunhão e plena solidão. 

J. B. 04-04-2017