Era pequenino, apenas uma criança, um bebé. Era
moreninho, de olhos grandes e cheios de vida. Saía à mãe. Um bebé lindo. E ela
olhou-O. Olhou-O, adormecido em seu colo. Ficaram rasos seus olhos e o olhar
toldou-se de lágrimas. O coração, esse estremecia de gratidão só de O olhar tão
cheio de paz, tão tranquilo, tão divino.
O pai, adotivo porque o Menino era de outro pai gerado,
olhou Mãe e Filho e sentou-se porque fraquejaram as pernas de emoção. Não
falou, não pensou, apenas se sentiu indigno da missão para que fora escolhido,
velar pelo filho e pela mãe. Elevou os olhos ao Céu e numa prece pediu luz e
força para ser capaz. E o Menino chamou-lhes pai e mãe. E Ele era Deus. E Ele é
Deus.
Não temos tempo para contemplar as crianças pequeninas,
tranquilas a dormir e não sabemos medir e ver os sinais da paz, os caminhos da
Vida. Temos os olhos turvados não de lágrimas de emoção mas de pó dos caminhos,
de desejos de prazer e poder, de cheiro a dinheiro e a egoísmo. E o Menino Deus
cai-nos dos braços porque não sabemos segurá-lO em nossas vidas. Perdendo-O, perdemos não a Ele
mas a nós mesmos, e pode ser para sempre.
Podemos tê-lO em nossos braços porque Ele mesmo disse:
"Todo o que fizer a vontade de meu Pai... esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe" (Mt 12,50). E estamos nas mãos da Mãe, a Sua Mãe, porque Ele
no-la ofereceu" (Jo 19,27). Insensatos e ingratos é o que facilmente
conseguimos ser. Insensatos porque deixamos perder o maior tesouro que temos em
mãos, o próprio Deus que se fez homem, para nos cativar como criança, para nos
salvar dando a vida por nós. Insensatos que não abrimos os olhos à Vida que há
em nós, que está em nossas mãos, em nossa liberdade. Ingratos por isso mesmo, e
porque pela frieza de nosso viver, pela indiferença de filhos que somos,
ferimos a Mãe ao escaparmo-nos de seus braços, de seu colo, de seu abraço
materno e divino. (30-12-17)
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