Tudo
vivemos a meio termo. Ainda que nem todos o façam, a maioria sim, é assim que
vive nesta sociedade descafeinada, que se delicia com uma coisa que não é café,
nem deixa de o ser; que bebe água mas com sabor a limão, ou com pós do aroma de
uma outra qualquer fruta; onde se afirmam e aqueles que não são nem homens nem
mulheres e que, como pessoas, dificilmente serão alguma coisa na vida; que
veste de casaco os cães e deixa morrer de frio e fome milhões de pessoas; que
se diz cristã, católica, mas não praticante; que se queixa porque está dia de
inverno e se não lembra de milhões que, por causa da guerra, vivem verdadeiro
inferno; que nada quer com Deus, além
daquilo que, muitas vezes por mesquinhas razões, exige dele, para si, como se
Deus fosse a todos devedor e mau pagador.
O cheiro
a vómito sai da "caneta" de São João, no Apocalipse: " Assim,
porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca"
(Ap 3,16). A sentença recai sobre a humanidade morna, na certeza de que ela é
cada um de nós, que não é nem deixa de ser de Deus, e porque assim é, não deixa
de ser um "não" ao Deus Criador, que nos quer ativos. Ser bom não e
não fazer mal, mas fazer o bem.
Somos
light em praticamente tudo. Não o somos, garantidamente, nas nossas ideias, nas
nossas lutas, porque dessas fazemos forte finca-pé, tendo razão pelo simples
facto de serem nossas as ideias e as lutas, e os outros não podem muito mais
que concordar connosco.
Encontramos
Jesus a "deitar por terra" os sonhos e ganhos daqueles que vendiam no
Templo. O zelo pela casa de Deus fê-lO explodir diante dos que, a diversos
pretextos, se aproveitavam da fé das gentes. Não são vendilhões aqueles que
vendem, somo-lo nós, aqueles que nos deixamos vender na hipocrisia da fé que
dizemos ter; somo-lo nós que vivemos uma relação com Deus na base do
"dever - haver", sendo que Deus é o devedor e nós os credores que
tudo Lhe exigimos sem nada Lhe dar; ; somo-lo nós que nos calamos diante do
desfazer do mundo em guerras atrozes, como se nada tivéssemos a ver ou a fazer
por eles. Se mais nada houver que façamos, ao menos ofereçamos os nossos
sacrifícios, a nossa oração e conversão por eles e pela paz.
Por quê
as minhas guerrinhas pessoais, quando o mundo está em estado de guerra?
(03-03-18)
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