A porta semi-aberta do
café forçou a que, cavalheirescamente, ele recuasse um passo para deixar a
Ninfa entrar primeiro. Uma fragrância com tom de uma qualquer especiaria, para
ele desconhecida, penetrou-lhe as narinas para se embrenhar no cérebro, agora aliviado
e disponível para se deixar marcar por novas experiências de vida.
A atracão que minutos
antes tinha sentido pela Ninfa, de seu nome próprio, Cristina, parecia
intensificar-se a cada passo e em cada gesto daquela Mulher, de quem sempre
viveu tão próximo, mas também, percebia agora, tão distante.As palavras paixão
e amor cruzaram-se-lhe na mente, enquanto ajeitava uma cadeira para que ela se
sentasse. Sempre lhe causaram confusão aquelas palavras. Sabia que não
significavam o mesmo. Uma e outra vez foi portador de sentimentos diferentes em
relação ás mulheres que vinham fazendo parte da sua vida. Amor era termo
demasiado forte para definir o que sentia por uma qualquer mulher. Tinha
consciência de que isso era o que sentia por sua mãe e por sua irmã.
Sensações parecidas
sentira-as algumas vezes por outras mulheres, mas aí havia mais confusão porque
estava muito atento também fosse ao modo e vestir, ao jeito de andar, ao
perfume usado, às palavras que diziam ou ao corpo que tinham. Já antes pensara
como era estranhamente interessante e belo que aquelas, a mãe e a irmã, eram mulheres
diferentes. Crescera com elas, conhecia-as ao ponto de não precisar de
nada que comprovasse que as amava, bastava-lhe sentir que tudo faria, que a
vida daria, se necessário, para que uma e outra estivessem bem.
Conhecia-lhes o sorriso de
alegria, o sorriso disfarçado, o sorriso de dor. Muitas vezes as vira chorar
por dentro sem deixarem que as lágrimas saíssem para fora. Sabia
perfeitamente que, como ele, elas dariam a vida para que ele estivesse bem.Agora
estava meio perdido ao perceber interiormente que alguns desses sentimentos se
manifestavam, mais que tenuemente, pela mulher de sorriso claro que, na sua
frente, bebia um café dulcificado por meio pacote de açúcar. Olhou-a nos olhos
e sentiu medo, vergonha e encanto. Será que a amava? Atracção sentira-a muita
vez. Seriam, agora, apenas sentimentos passageiros. Que fazer?
Um quadro com flores
pintadas fazia de fundo, como que emoldurando a cabeça da ninfa. Pensou nas
rosas, e no que sentia, quando, no Dia da Mãe, as oferecia à mulher que verdadeiramente
amava. Amar era bem mais que oferecer uma rosa, mas a rosa era um pequeno sinal
do que sentia por sua mãe. Apeteceu-lhe ter uma rosa para oferecer à
Ninfa.
Desejou muito, nesse
momento, ouvir o som “quefrô?”…