Ela
partira havia um pouco mais de oito dias. Desde então, ele não parecia o mesmo.
No dizer de uma vizinha, aquele rapaz era muito fácil em deixar-se ir abaixo rapidamente,
na tristeza, mas com qualquer boa notícia, parecia subir aos céus como se a
vida não tivesse quase a obrigação de nos ir cravando na carne uns espinhos que
façam lembrar o quanto se é pequeno e limitado.
De
um entusiasmo esfuziante passou a uma tristeza melancólica. Ninguém o entendia,
pensava ele, como sentia também não se entender ele a si próprio. Ela partia na
busca da realização de um sonho seu, porque haveria ele de ficar a lamentar-se
pelos cantos como se isso representasse quase o fim do mundo?
O
olhar e o beijo com que, no aeroporto, se tinham despedido gravou nele a
certeza de que, naquele momento, tudo sentiam um pelo outro. Mas o levantar
sonoro do avião levou para longe, bem longe, um pedaço de si. O coração, meio
lamechas, tinha-se partido e metade fora com ela para os Estados Unidos e o
espaço que dele ficou tornou-se vazio e escurecido pela saudade.
“Levanta-te,
homem!” ouviu a mãe dizer, quando chegou a casa vinda de uma consulta médica.
“Andas para aí meio morto, olha que um homem é um homem e um bicho é um bicho!
Vais ficar eternamente anestesiado de saudades só porque a mulher que amas foi
estudar para longe? Ai filho - continuou - o que seria de ti se fosses tu a
estar nas minhas vezes quando o meu pai, o teu avô foi alistado para o
Ultramar! Sabes que são as mágoas que arreigam as forças humanas, espetam-nos
as raízes no coração e na vida e nós ficamos mais fortes! Vá lá, deixa arribar
essa alegria e em vez de pensares em ti agora acredita em vocês os dois daqui a
meia dúzia de anos. Se o amor existir, nada vos pode separar.”
Atirou-lhe com o resto da água que
ficava no copo em que acabava de beber. Molhou-a, deu uma gargalhada sonora e,
enquanto se esquivava a umas simpáticas palmadas com que a mãe parecia
ameaça-lo por tê-la molhado, disse: “tenho a
melhor mãe do mundo.” E esgueirou-se porta fora.
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