Pegou o livro e saiu tentando não ser muito
agressiva nesse retirar forçado livraria onde foi procurar um livro que lhe
desse umas luzes sobre o problema da bipolaridade. Queria embrenhar-se um pouco
mais nessa questão, de que ouvira falar
numa das aulas quando ainda estava em Portugal. Sabia que tinha a ver com o
humor de algumas pessoas que, de um momento para outro, sem ninguém perceber
como nem porquê, muda radicalmente o seu proceder, ao ponto de nunca se saber
bem de que lado estão.
Saiu e foi seguida. O jovem, bem
parecido, vestido com roupas de marca e um sorriso luminoso a inundar-lhe o
rosto apressou o passo e foi no seu encalço numa tentativa clara e, pelo menos
na aparência, sincera de a conhecer. A aura que dela emanava encantou-o, como
disse.
Ela, numa descrente dúvida, parou e esforçou-se
por que não saísse de dentro de si qualquer pequeno sinal de acolhimento, como também
não queria que ele se sentisse recusado à partida. Tentou, e conseguiu, ser
terna porque isso lhe estava no sangue e os seus gestos eram disso sinal. Aura?
De que estaria ele a falar? Para mais num inglês rápido que lhe causava
insegurança pelo receio de não se fazer entender ou de não entender aquilo que
por outros fosse dito.
A Estátua da Liberdade em fundo e os
barcos deslizando na agua parada que banha a cidade, dão ao ambiente um tom de
acalmia geral. Uma brisa bafejara-os,
fresca, como se tivesse atravessado a Brooklyn Bridge e refrescado com a água
do canal. Um odor a Água Brava preenche-lhe as narinas e invade-lhe o corpo
numa recordação quente de um passado recente.
Por momentos, esqueceu completamente
que tinha uma pessoa diante de si e a sua mente pairou em terras lusas na
recordação de um Homem que amava.
Abriu os olhos à realidade e viu
diante de si um jovem encantador e a Estátua da Liberdade lá mais ao fundo. Sorriu
e pediu desculpa, depois de ouvir uma declaração e uma data de promessas de
mundos e fundos. Disse estar comprometida e não ter a mínima intenção de mudar
o seu modo de lhe querer bem.
Com um sorriso aberto, despediu-se e
caminhou para casa, parecendo agora que as ruas de Nova York eram menos pesadas
no meio dos mamarrachos que as ladeiam. Passando em plena Wall Street recordou
as promessas que acabara de ouvir de um jovem que parecia ser o dono da bolsa
de valores ali ao lado.
Sorriu sozinha e disse de si para si.
“Estou muito bem assim. Pode não ter muito mais que um banco de madeira para me
oferecer, e se só isso ele tiver, ficaremos os dois, um dia, aí sentados, lado
a lado, a olhar a vida a acontecer. Se o nosso amor permanecer isso me basta”.
Atravessou a rua encantada sem reparar
num semáforo vermelho. Um briiiii de apito furioso, atrás de si, assustou-a.