Não tinha uma flor para lhe oferecer.
Só palavras lhe poderiam sair do peito para começar a exprimir o que nesse
momento sentia.
Antecipando-se, sem sequer pensar no
que poderia ele estar a querer tirar de dentro de si, disse ela, dando um
solene tom de entusiasmo ao acontecimento que anunciava. O tão sonhado momento de poder vir a estagiar nos Estados Unidos iria
concretizar-se: finalmente tinha-lhe sido concedida a bolsa de estudo pela qual
sempre lutou e que, em reconhecimento pelas excelentes classificações na
faculdade, lhe traria a possibilidade de vir a completar o curso num país
estrangeiro. Os Estados Unidos eram o seu sonho: sempre a fascinara a América,
sobretudo porque era lá que melhor se poderia preparar para o futuro que para
si almejava.
Boquiaberto, ouviu dela tudo sem se
atrever a pronunciar palavra como se a fonte das palavras secasse dentro de si.
Esboçou um sorriso amarelo e ficou
perdido na desilusão que sentiu ao perceber que iria perder o que ainda nem
sequer tinha encontrado. “Como é que eu posso ter andado tão longe, pensou,
para não me ter apercebido da beleza, dos sonhos e do encanto, que há nesta mulher”? Tentou, sem conseguir
minimamente, disfarçar em alegria a mágoa que estava a sentir.
A perspicácia feminina, presente em
qualquer mulher atenta, e talvez mais
nela, agora, por também ela não estar a ser indiferente à diferença que nele
hoje se podia sentir, fê-la pensar. Muitas vezes o olhara e fixara com
interesse mas sem qualquer fixação mais forte.
Percebendo a mal disfarçada aflição
que vira nele, atalhou rapidamente para dizer que achava que não ia aguentar lá
muito tempo sem vir à sua terra ver os seus, sentir a vida e o lugar onde
sempre viveu. “E acho que também vou ter saudades tuas” disse, inclinando-se um
pouco para diante, como quem quer dizer um segredo, e deixando que a sua mão perdida descansasse apenas sobre a
mão trémula que ele tinha, meio perdida, sobre a mesa do café.
Estava feito. O que ele não teria tido
coragem para pronunciar logo ali, ela afirmara-o claramente com meias palavras
e um gesto forte de quem ama.
O toque das duas mãos reacendeu a
força e a fé dentro dele e esmagaram as dúvidas que baralhavam, atordoadas, as
ideias e os gestos. Embrenhou-se nele a certeza de que o futuro que ela estava
a preparar para si poderiam vir a ser futuro vivido a dois. Percebeu-se amado,
perdeu o medo e acreditou que a separação de milhares de quilómetros não
evitaria o sofrimento da distância mas seria apenas ausência de corpos porque
ambos estariam em comunhão de sentimentos.
Olhou-a bem fundo e sorriu...
Olhou-a bem fundo e sorriu...
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