O trecho do
Evangelho que foi posto à nossa reflexão, no passado domingo, 09 outubro 2016,
deixou em mim um pensamento que me tem afluído à mente e que me leva a partilhar uma breve reflexão.
Algures,
entre a Galileia e a Samaria, em certa povoação onde Jesus ia entrar, vieram ao
seu encontro 10 leprosos, que se mantiveram a distância, invocando para eles a
sua a Misericórdia. Foram curados e um deles, apenas um, um samaritano, voltou
para agradecer. Jesus ficou sentido pela falta de gratidão dos outros, que não
se dignaram, voltar para dar Glória a Deus.
Este mesmo
Jesus que aqui reage, perante a ingratidão, é o mesmo que nos diz que o que
fazemos deve ser feito por amor, com total gratuidade e sem esperar qualquer
recompensa.
Porquê esta
atitude de Jesus? Tendo em conta a intensidade com que Deus espera, deseja e
quer que vivamos unidos a Ele, em comunhão de vida plena, porque nos criou para
Si. Tendo em conta o facto de nos ter dado o seu Filho, que sofreu os horrores da
Paixão, ao ponto de jamais ter havido ou poder haver sofrimento semelhante ao Seu,
e de estar completamente desfigurado, sendo tratado como um verme; tendo em
conta o facto de o sofrimento de um pai, de uma mãe, ser mais insuportável num
filho que amam, do que em si mesmos; tendo em conta que tudo aconteceu para
recuperar para a vida a humanidade, mais, para me recuperar a mim para essa
vida, para que não acontecesse, a não ser por opção pessoal, um indizível sofrimento
pleno e eterno; tendo em conta isso e muito mais, cabe-me pensar que, não precisando
Deus da minha gratidão para aumentar ou intensificar a sua Glória, porque Ele é
a Plenitude, acredito que, no seu infinito Amor e misericordiosa Humildade, é
Ele que me diz a mim: “Obrigado”. Obrigado porque nesta manhã elevaste o teu
pensamento para Mim; obrigado pelo sorriso com que disseste bom dia ao teu
filho; obrigado porque Me deste um pedaço de pão, porque Eu estava naquele sem
abrigo; obrigado porque pediste a Minha força; obrigado porque pensaste em Mim,
abandonado, no Sacrário; obrigado porque foste à missa; obrigado porque Me
disseste obrigado pelo alimento que te dei; obrigado porque a Glória que Me
deste te aproxima de Mim.
É tão
intenso o “Tenho sede" que Jesus disse na Cruz, porque manifesta a sede
que Deus tem de nós, que se Ele se torna infinitamente grato pelo mais pequeno
pensamento meu que Lhe dê Glória, Porque Deus me (nos) quer a viver em vida
plena, e um pequeno gesto vivido segundo a sua Vontade é um grande passo dado
por mim para a Vida Nele.
Porquê,
então, a reação de Jesus? Por um lado, para nos manifestar que a fé, a
gratidão, se vivem a partir de dentro, do coração. Foi um estrangeiro que
voltou para agradecer, não um judeu. Por outro lado, Deus quer a minha gratidão,
não, não me estou a contradizer, e ela é absolutamente necessária na minha relação
com Ele, porque é sinal de que há comunhão entre nós e é também caminho para
que ela se intensifique cada vez mais. Vamos pensar como Jesus terá pensado:
gente ingrata, esta, que honra Deus com os lábios e cumprimento exterior mas
não adere de coração; incapazes de reconhecer a ação e a graça de Deus em suas
vidas, vivem como se fossem os senhores da vida e se tudo estivesse nas suas
mãos; gente longe de Deus a percorrer caminho de perdição.
A gratidão
é querida por Deus porque faz bem não a Ele, mas a quem é realmente grato. É
atitude que aproxima a criatura do Criador. A gratidão faz melhor a quem agradece
que a quem se é grato. A tristeza de Jesus advém do facto de aqueles doentes
curados não terem sabido aproveitar o facto e o momento para se aproximarem de
Deus.
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