É, talvez, a
realidade mais difícil de alcançar. É, também, das coisas mais dependentes de
nós mesmos para que a ela se chegue. Falar de paz reporta-nos, geralmente, para
um mundo distante do nosso, pois, aparentemente, é na paz que vivemos. Parece
pensarmos que a paz é apenas a ausência de grandes conflitos.
Atiramos, nisto e em
muitos outros campos, as culpas e os motivos para cima de alguém que não
sejamos nós mesmos, simplesmente porque não nos envolvemos em diálogo com a
consciência interior. Aliás, se se manifesta um pouco mais, cuidamos de a
silenciar.
É intensa a falta de
paz quando no silêncio de nós mesmos há falta de tranquilidade pelo que fazemos
e não devemos, pelo que maquinamos e decidimos sabendo que não nos faz bem,
pelo que julgamos ser bom e fazer bem quando, interiormente, nos é dito que se
trata de algo mau. Abafa-se a paz da voz interior para dar espaço a um
disfarçado sistema de guerra pessoal.
Não pode ter paz quem
não busca intensa intimidade com a voz interior que há dentro de si, o Espírito
que, por sermos semelhança de Deus, nos atrai, inclina e move para a Verdade. Não pode ter, nem
fazer, paz quem é conflito interior.
Drama maior é ainda o
facto de a falta de paz pessoal crescer como bola de neve. Torna-se sempre
maior, e cresce mais, porque a um conflito não resolvido leva sempre,
necessariamente, a mais conflitos geradores de falta de paz, porque o mal e o
bem crescem dentro de nós, na sua essência não nos vêm de fora, nascem e
crescem em nós, embora possam ser lançados do exterior, mas só se instalam se
em nós há clima e ambiente preparado para tal.
Terei e serei paz se,
e quando, eu quiser, apenas quando o meu ser em cada momento formar um ato de
harmonia com a consciência que seu sou também. Se estou em paz interior, é
porque estou em paz exterior também. O que acontecer à minha volta faz-me
sofrer, inquieta-me e exige a minha ação, mas não me tira a paz. Ela está
dentro de mim.
Trágico é quando me deixo iludir por falsa sensação de
paz. Em Semana da Vida" devo perceber que tudo, tudo mesmo, o que vai
contra a vida, não nos deixa paz. O conflito, mesmo o interior, é um estado de
morte, de "não vida".
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