Carinhosamente
pousou a mão sobre a dela e sentiu-a agarrada e apertada como se aquela jovem
encontrasse, finalmente, algo em que lançar âncora no mar revolto da sua vida.
Mãos
que falam, mas os olhares não se cruzaram. Bastava-lhe, pensou a Ninfa, sentir
que tinha alguém que lhe desse a mão.
“Hi” - disse. A resposta foi um olhar fixo e mais lágrimas a correr.
“My father is…” disse, parando a frase
ao ver que na bolsa da Ninfa figurava um pequeno emblema com a bandeira de
Portugal. Olhou-a bem nos olhos,
apertou-lhe a mão e perguntou: “És portuguesa?” ao ouvir um sim envolvido num
sorriso, tentou um sorriu também e continuou: “Também sou, vim, há dois anos,
com meus pais.
Somos da zona das Caldas da Rainha, de
um lugarzinho de Alvorninha. Tinhamos uma vida tranquila, sem grandes posses,
mas vivíamos do pouco que nos era possível, nunca nos faltando nada se não a
paz, que o meu pai nunca nos conseguiu
dar. Era um homem ganancioso, ávido de ter sempre mais, sem perceber que nem
mesmo a nós, a minha mãe e os meus irmãos, ainda tinha. Quando surgiu a hipótese de vir para os EUA,
não pensou duas vezes, só via dólares diante dele, esquecendo que não era só
ele, mas que tinha uma família e que todos nós tínhamos um olhar diferente sobre o mundo e a vida.
Viemos, porque ele praticamente nos
forçou a vir. Tinham conseguido trabalho para ele e para a minha mãe. Nós, os
filhos, viemos por arrasto, deixando em
Portugal as nossas vidas, que eram feitas de trabalho, de escola, de amigos, de
alegria.
Aqui, meu pai não via mais nada que
trabalho. Não parava para descansar, não sabia o que era recusar um pequeno
trabalho por precisar de descansar ou
para estar com a família, ou para vir
passar um dia connosco aqui em Nova York, simplesmente para estarmos
juntos.
Em dois anos nunca fomos à Estátua da
Liberdade porque era caro e porque ele tinha que trabalhar e porque era preciso
poupar e porque (as lágrimas voltaram abruptas) nos não sabia amar.
Há dias, quando, de noite, voltavas
cansado e esgotado pelo trabalho, num cruzamento de estradas, a falta de os
reflexos impediu-o de evitar um camião
que rodava, barulhento, na 95, e, num instante, o meu pai perdeu até a vida,
a pouca vida, que tantas vezes nós lhe dissemos que ele tinha.
Sabes, tantas vezes pensei que não
tinha um pai, tantas vezes me não senti amada, tantas vezes tive vontade de
desistir de tudo… e agora estou completamente perdida, não sei como lutar, não
sei como aguentar, não sei como conseguir.
”Baixou a cabeça e chorou
desconsoladamente. Depois, a voz
saiu-lhe frágil, sumida, apavorada, afogada: “Há 5 meses, «acabei» com a minha
vida.”
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